Eduardo Ramos
Há dias, arquivistas, historiadores e estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) trabalham na seleção dos materiais históricos que estavam guardados no Clube Caixeiral até agosto deste ano, quando foram remanejados para o Centro de Atividades Múltiplas José Garibaldi Pogetti, o Bombril, em razão da retirada do telhado do clube.
Cobertos de poeira e mofo, documentos e livros que compõem um grande acervo bibliográfico passam por uma triagem para que os arquivistas possam entender o estado e, posteriormente, realizar uma delicada higienização com a trincha, uma espécie de pincel, e água deionizada com vinagre de álcool.
Segundo a professora do Departamento de Arquivologia da UFSM, Fernanda Pedrazzi, o trabalho deve durar cerca de três meses. O objetivo é identificar os documentos e livros para que possam ter um novo destino.
– A quantidade de material é bastante grande. Nesse momento, estamos trabalhando com documentos e livros. Precisamos reconhecer o que podemos resgatar a partir de técnicas adotadas e os que não há como restaurar. Por isso que a preocupação maior são com os documentos administrativos do clube, que são únicos – explica.
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O estado de alguns materiais é motivo de preocupação para arquivistas como Jorge Cruz, professor que também atua na seleção e higienização dos objetos. Entre os achados, ele encontrou uma planta arquitetônica de um projeto de ampliação do Clube Caixeiral e um livro de sócios de 1918:
– Estamos lidando com materiais centenários que contam muito sobre a história de Santa Maria. Mas, em razão do mau armazenamento, muito se perdeu. Aqui, encontramos fotos de carnavais da cidade, bailes de debutantes, livros históricos e clássicos da literatura.
Durante o trabalho, a professora Sônia Constante aproveitou para mostrar às alunas do curso de Arquivologia como a solução de água deionizada com vinagre de álcool age sobre o mofo dos objetos. Com um algodão e movimentos delicados, a capa de um livro começou a ser revelada com a limpeza.
– O maior desafio é que estamos trabalhando com itens históricos, ou seja, se normalmente já temos cuidado com manuseio e tratamento, agora a atenção precisa ser redobrada. Os objetos estão há um mês aqui e a umidade ainda é muito presente porque já vieram com muito mofo, muitos microorganismos. Mas, com algumas técnicas conseguimos revelar e entender sobre o que se trata – ressalta Sônia.
A estudante Natália Alana da Costa está no 4º semestre do curso de Arquivologia e participa da disciplina de Arquivo, Memória e Patrimônio. Ela diz que o trabalho realizado com os documentos e objetos é uma forma de aprender na prática:
– É gratificante poder ver tudo o que estava guardado no clube. Na arquivologia a gente lida muito com materiais de pessoas que já morreram, então, também é uma grande responsabilidade manusear esse acervo. Estamos lidando com a história da cidade, com momentos que foram importantes na vida de milhares de pessoas.
Para ajudar no trabalho que diz respeito ao reconhecimento e catalogação dos títulos literários que estão em processo de recuperação, Nelson de Medeiros e Juliana Belfort, servidores da Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastides, também participaram da atividade. A família de Nelson costumava frequentar as festas do Clube Caixeiral.
– Estivemos presente quando os materiais foram retirados do Clube e ficamos encantados com os clássicos literários do acervo. É uma honra poder ajudar a recuperar alguns dos materiais porque muito da história de famílias de Santa Maria é contada através desses documentos – comemora Nelson.
Troféus, quadros, álbum de fotos e até listas telefônicas também fazem parte do acervo de objetos históricos resgatados. De acordo com a Secretaria de Cultura, ainda não há definição sobre o destino do material após o trabalho de seleção e higienização. Por enquanto, os materiais seguirão no Centro de Atividades Múltiplas.
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