De colher ao inclusivo: demanda por ovos artesanais cresce na Páscoa em Santa Maria

Para muitos brasileiros, o chocolate é um dos itens que não pode faltar na Páscoa, seja em grande ou pequena quantidade. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro da Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), em 2023, o produto apresentou um aumento de 9,6% em comparação com o ano passado, refletindo, inclusive, no valor dos industrializados, que normalmente são encontrados em estabelecimentos comerciais.

Com a mudança no cenário, as alternativas artesanais e caseiras têm ganhado espaço na mesa de muita gente, e não é apenas por causa do valor. Além de mais baratos, os ovos de colher e outros itens são produzidos, considerando a funcionalidade, preferência ou até mesmo, as restrições alimentares dos clientes.

Em Santa Maria, SamCake Doceria Artesanal, Sem Culpa Doceria, Na colher e Cones da Mari são alguns dos empreendimentos que investem na data, contando com a criatividade e as tendências para crescer no mercado.

Produtos inclusivos

Aos 15 anos, a empresária Caroline Coradini recebeu diagnósticos para hiperinsulinemia e intolerância à lactose. Com as restrições alimentares, que envolvem uma dieta livre da ingestão de açúcar, glúten e lactose, a Páscoa se tornou uma data complexa e com poucas opções de produtos para a santa-mariense.

– A Páscoa era o pior momento do ano para mim, porque eu nunca tinha uma opção que fosse segura. Quem tem restrição, acaba ficando muito aflito quando vai consumir em algum lugar, porque você não sabe se aquele produto é realmente sem açúcar, por exemplo, e acaba passando mal – conta Caroline.

Em abril de 2018, ela teve uma ideia que mudou não apenas a própria relação com a data, mas a de muitas pessoas:

– Naquele ano, eu decidi que iria fazer os ovos para mim. E acabei pensando em vender também, porque eu sempre tive vontade. Ofereci no meu Instagram e no primeiro dia, eu vendi 50 ovos. Haviam outras 50 pessoas que também queriam sem açúcar, glúten e lactose.

No final daquela Páscoa, Caroline e o sócio venderam quase 200 ovos, faturando cerca de R$ 9 mil. Na medida em que a clientela crescia, a dupla enxergava a necessidade de ter um espaço físico para cumprir com a demanda. Desde 2021, a Sem Culpa Doceria atende o público em uma loja física no Bairro Nossa Senhora de Fátima. Ao todo, a atual equipe é composta por seis pessoas, entre cozinha e atendimento. Para a Páscoa, Caroline teve que contratar mais funcionários, fechando em um grupo de 10 pessoas para atender a demanda.

Para a empresária, que hoje tem 25 anos, a Páscoa deste ano também está sendo positiva. A importância da iniciativa também é ligada a momentos marcantes proporcionados aos clientes. Em março deste ano, a empresa recebeu um pedido de produção para um casamento. A noiva, que era celíaca, queria 1,5 mil doces e 300 bem-casados sem glúten e com açúcar. Conforme Caroline, a encomenda resultou em um processo único de criação por parte da equipe, que ainda se deslocou para Lajeado para finalizar o pedido.

– Foi muito gratificante poder proporcionar para ela a oportunidade de consumir um doce sem glúten e que ela sabia que poderia comer tranquilamente, que não iria ter reação ou passar mal no casamento dela. Foi uma experiência incrível – relata.

Sem Culpa Doceria

• Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 13h às 18h30min
• Produtos: alfajores, tortas, barras recheadas, bombons, cookies, ovos tradicionais e de colher, entre outros produtos
• Redes sociais: @semculpadoceria no Instagram e Facebook
• Encomendas: pelo telefone/WhatsApp (55) 99210-4753

Produtos caseiros

Para manter a tradição da Páscoa, muitas pessoas estão buscando alternativas aos ovos e chocolates das prateleiras dos mercados. Cada vez mais, os produtos caseiros estão tornando-se uma opção em conta e com melhor qualidade para essa época do ano, segundo as confeiteiras. Além dos empreendimentos desse tipo que atendem em lojas físicas, como a Sem Culpa, algumas doceiras ainda mantêm os trabalhos diretamente das suas casas. Em Santa Maria, as marcas Na Colher, SamCake Doceria e Cones da Mari são exemplos dessas iniciativas que vem crescendo no mercado.

Por influência da família ou pela própria curiosidade para se aventurar no mundo dos doces, as mulheres que estão à frente desses negócios, hoje, tem a confeitaria caseira como principal fonte de renda.

O interesse da estudante de fisioterapia Renata Schneider Lima, 22 anos, surgiu quando ela era criança e ajudava na padaria do seu pai. No colégio, Renata começou a vender doces. Naquele momento, o público era os colegas e os professores.

– Minha primeira Páscoa foi em 2014, eu ainda estava no Ensino Médio. Eu queria ter meu dinheiro e resolvi testar. Era amadora, ainda não tinha feito curso, era só minha curiosidade e vontade de fazer e vender. Desde então, tenho trabalhado em todas as Páscoas. O nome “Na Colher” surgiu em 2019 por causa dos ovos de Páscoa – conta Renata.

Com o tempo, os clientes aumentaram e a marca foi expandindo. Atualmente, o maior movimento na confeitaria acontece durante a Páscoa. De acordo com Renata, o período com mais vendas foi em 2021, quando cerca de 150 ovos foram produzidos. Já, neste ano, foram 70 encomendas de ovos.

Com a criação da marca, o foco primeiramente foi somente na Páscoa. Após a entrada na faculdade e a obtenção de mais experiência e especialização, Renata começou a fazer brigadeiros e outros tipos de doces para o restante do ano. Além da comercialização para os clientes, ela também trabalha com produção dos doces para empresas. Para realizar o trabalho, ela conta com a ajuda da família, como a irmã e o namorado.

Diante da expansão da área e da concorrência com os mercados, Renata relata que cada Páscoa tenta trazer um diferencial nos produtos. Neste ano, por exemplo, carimbos personalizados foram feitos para as embalagens.

– Sinto que é muito desafiador porque nenhuma Páscoa é igual, sempre tenho que estar evoluindo, procurando novidades e estudando tendências. Eu não posso continuar com a mesma coisa em toda Páscoa, porque sei que as pessoas já sabem fazer o básico e tradicional, então, eu tenho que me reinventar e pensar em coisas diferentes. São detalhes que cuidamos não só no produto, mas na apresentação, na forma de tratar com o cliente. Acho que isso, no meio de tanta gente, acaba fazendo a diferença em um mercado que só cresce – afirma Renata.

Na Colher

• Encomendas e entregas de brigadeiros e doces para festas
• Instagram: @na_colher
• Whatsapp: (55) 3221-5617

Outra confeiteira que aposta no diferencial da marca por meio da diversificação dos produtos e do atendimento ao cliente é a Mariana Castelan Theobald, 21 anos, proprietária da confeitaria Cones da Mari.

– O trabalho que produzimos é totalmente diferente daquele do mercado. É uma produção caseira, com a compra, a temperagem do chocolate e a montagem dos recheios. Pensamos desde a caixa (da embalagem) até a hora da entrega para o cliente – comenta.

Mariana, que é estudante de administração, criou a confeitaria a partir da sugestão de uma amiga, durante a pandemia. Ela tinha um dinheiro guardado e resolveu investir nos cones recheados de chocolate. A confeiteira lembra que no início errou muito, mas não desistiu. Começou a fazer a divulgação do trabalho nas redes sociais e a família também passou a auxiliar na produção dos doces. Hoje, ela ampliou o cardápio e os doces são a sua principal fonte de renda.

– Quando comecei os doces, a ideia era ter uma renda extra. Mas, pensei que quando trabalhamos com algo que gostamos, às vezes pensamos que nem é um trabalho, então, decidi seguir com isso. A demanda começou a aumentar, vi que precisava de mais tempo e passei a priorizar (a confeitaria). Coloquei o foco nisso e fui crescendo, comecei com os cones, depois brownies, docinhos e, agora, bolos de festa. No fim, os doces que me pedem eu tento fazer – detalha Mariana.

Essa é a terceira Páscoa da Cones da Mari. Em 2021, Mariana comercializou apenas os cones. Já em 2022, começou a vender ovos de chocolate. Neste ano, ela recebeu mais de 100 pedidos de produtos de Páscoa, como ovos e as variedades (caixas com trios de ovos e mini ovos), em Santa Maria e Cruz Alta. Mariana já esperava um movimento maior neste período e tinha iniciado a organização, com a compra de materiais, em dezembro.

Após a finalização dos pedidos e das entregas, Mariana segue com as produções para o restante do ano e já tem planos para ampliação da confeitaria.

– Meu primeiro passo depois da Páscoa é reformar a cozinha, local de toda nossa produção. Também quero ter meu carro, porque hoje faço as entregas com o carro da minha avó. Finalizando isso, quero ter um espaço físico, que sempre foi meu sonho – finaliza Mariana.

Cones da Mari

• Encomendas e entregas de cones, brigadeiros, bolos e brownies
• Instagram: @cones_damari
• Whatsapp: (55) 99921-2471

Desde fevereiro de 2020, a confeiteira Samantha Rodrigues, 24 anos, divide a rotina entre estudar as tendências e produzir bolos e produtos gourmet. Ela conta como surgiu a ideia de iniciar o próprio empreendimento:

– A minha ideia era fazer fatias gourmet. Como deu certo, comecei a vender. Logo após, eu fiz testes com bolo de aniversário, o que virou o meu carro-chefe, e entramos na pandemia. Quando chegou a Páscoa, resolvi fazer ovos de colher e teve bastante sucesso. Então, é algo que aposto todos os anos.

Conforme a confeiteira, foram vendidos cerca de 100 ovos na Páscoa de 2020. Nos anos posteriores, os números seguiram crescendo. Para dar conta da demanda, Samantha dedica-se apenas à produção de ovos no período que antecede a Páscoa. Atenta às tendências, ela relata que os sabores mais pedidos até o momento são Kit Kat e de Ninho com Morango.

Além de gerar renda, a data tem proporcionado histórias inesquecíveis para a confeiteira. Uma delas é referente à Páscoa de 2021, quando um cliente de Santiago encomendou um ovo para presentear uma pessoa em Santa Maria.

– Ele mandou uma mensagem dizendo que não achava ninguém na cidade e que precisavam de um ovo de Páscoa para fazer uma surpresa. Ele pediu que fosse junto um cartão, já que eles estavam se conhecendo. Topei a missão. Fiz a encomenda e entreguei. Na Páscoa de 2022, ele veio comprar comigo de novo e já estava morando em Santa Maria. Deu certo o relacionamento dele. Então, eu sinto que fiz parte desta história – conta Samantha, sorridente.

Para quem deseja também abrir o próprio negócio, a confeiteira recomenda estudar o mercado e não se comparar:

– Não se compare a outros empreendedores, porque cada um tem uma trajetória e, às vezes, o resultado varia. Tenha foco, persistência e determinação. Acredite sempre no seu sonho.

SamCake Doceria Artesanal

• Encomendas de bolo de aniversário, sobremesas a pronta entrega, ovos de colher, panetone e chocotone
• Instagram: @samcake_doceriaartesanal
• WhatsApp: (55) 99124-7612

Empreender exige planejamento e conhecimento de mercado

A analista de relacionamento com clientes do Sebrae RS, Clarissa Antonello Maffini, analisa o crescimento do empreendedorismo em diversos setores. Ela relata que, para além das grandes datas festivas, o ramo alimentício tem apresentado grande expressividade nesse contexto, tendo em vista a busca constante por profissionalização e qualidade na entrega de produtos. Neste cenário, Clarissa destaca algumas estratégias:

– É importante acompanhar as tendências do mercado, ter objetivos claros especialmente quanto aos passos futuros, buscar capacitação inclusive para a equipe, entender em qual canal digital está o seu público-alvo. No segmento alimentício, dois processos são estratégicos: gestão de custos, por conta da pressão inflacionária atual e, mão-de-obra, pois são operações que abrem à noite, finais de semana e feriados. 

Inovar, explocar novos nichos e investir em divulgação também são pontos que podem fazer a diferença no negócio. Confira as principais dicas para iniciar o seu negócio:

• Planejamento é sem dúvida uma das etapas essenciais
• Conheça o mercado e os clientes que deseja atingir
• Adote boas práticas financeiras, priorizando a separação das contas pessoais e da empresa
• Busque capacitação
• Visite negócios semelhantes para observar a dinâmica do atendimento e visual do ponto de venda
• Se for um negócio que ainda não existe no mercado, é fundamental que ele atenda uma necessidade ou resolva um problema para os futuros consumidores