combate à criminalidade

Como Santa Maria se prepara para frear a escalada da violência na cidade

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

O entorno do campo de futebol do Esporte Clube Cerro Azul, zona norte de Santa Maria, acostumado aos gritos de apoio e de vaia, comuns em campos de várzea dos adeptos de quem joga uma pelada em feriados e finais de semana, foi o palco de uma execução protagonizada por bandidos fortemente armados que realizaram um cerco em busca de um desafeto. No último 15 de novembro, passava das 17h30min, quando um HB20 se aproximou da Rua La Paz, Bairro Chácara das Flores, e foi dado início a uma das mais ousadas e arriscadas ações de criminosos na cidade.

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Público e os chamados peladeiros já haviam, na sua maioria, deixado as quatro linhas do campo de grama desnivelada e de pintura já rala, quando o veículo se aproximou e, em poucos minutos, homens encapuzados com seis armas (três pistolas 9mm, uma submetralhadora 9mm, um fuzil 556 e um revólver calibre 38) desceram do carro e executaram três pessoas. A reportagem conversou, nos últimos dias, com integrantes das forças de segurança e, ainda, com moradores para entender o que aconteceu naquele entardecer de feriado da Proclamação da República. E, inclusive, para saber o que esperar do que resta de 2019 e do que será o 2020 na área da segurança pública.

O cair da tarde daquela sexta-feira ficou ainda mais evidenciado pelas luzes do giroflex acoplado em um carro que se aproximou, em velocidade moderada, da estreita rua que desemboca no campinho de futebol. Até aquele momento, as poucas pessoas que ainda estavam na via acreditavam que a chegada do carro era indicativo de uma operação policial.

Dentro do veículo, com placas clonadas, o quinteto vestia camisetas da Polícia Civil. Ao descer do carro, eles - que usavam toucas ninjas e bermudas jeans - foram em busca daquele que era o alvo do grupo: Rafael Reis Espíndola, 27 anos, dono de uma vasta ficha policial, segundo o delegado regional Sandro Meinerz.

O jovem que foi executado nasceu em um berço ligado ao crime, resume Meinerz. A ficha dele traz: roubo de veículo, ameaça, receptação de veículo, estelionato, porte ilegal de arma de fogo, estupro de vulnerável, roubo a estabelecimento bancário, homicídio tentado, furto a residência, furto qualificado (com uso de explosivos), tráfico e posse de entorpecentes e, por fim, disparo de arma de fogo.

Entre os mais de 50 tiros dados pelos bandidos - a maioria saiu da submetralhadora 9 mm -, as balas foram endereçadas de forma errada a duas vítimas que nada a tinham a ver com o alvo dos criminosos e sem passagem pela polícia: Vagner Bech Machado, 32, e, Sandro da Silva Pereira, 35.

TENTÁCULOS
Segundo a polícia, os criminosos tão logo saíram do carro se dividiram e trancaram as duas entradas da Rua La Paz. Tudo devidamente planejado para que a emboscada restasse na morte do rival. Mesmo que as investigações ainda estejam em curso, a Polícia Civil não descarta a possibilidade que o triplo homicídio tenha como pano de fundo a participação de uma conhecida facção do Estado: Os Mano, originária do Vale dos Sinos.

RESPOSTA EFICIENTE
Enquanto os criminosos ainda deixavam a cena do crime, o 190 da Brigada passou a tocar freneticamente. Todas as ligações traziam o mesmo relato: um tiroteio havia deixado feridos e mortos - sem saber quantos - em plena via pública.

Na sequência, uma viatura da Patrulha Tático Móvel (Patamo) que estava na Rua Fernandes Vieira, próxima do local, foi acionada pela central da BM. Os policiais estavam naquela região para dar suporte a uma missão de apoio a um oficial de Justiça. E, em poucos minutos, o cerco aos criminosos estava montado.

Além da rápida chegada da polícia, os bandidos tiveram problemas mecânicos com o HB20. O que os forçou a buscar um outro carro para fugir. Foi quando avistaram um Escort - com quatro pessoas dentro (que não foram baleadas) -, após tirá-las do carro, eles fugiriam no veículo. Porém, a ação rápida dos três policiais impediu a fuga dos bandidos. Na troca de tiros, nenhum policial se feriu e três dos cinco criminosos foram baleados - dois já voltaram à Pesm e, outro, está no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).

Confira, nessa reportagem especial, como as forças de segurança e o poder público trabalham para fazer de 2020 o ano dos investimentos na segurança pública de Santa Maria. E assim garantir dias mais tranquilos à sociedade.

Força-tarefa combate o avanço da criminalidade

Houve um tempo em que o criminoso exigia da vítima a carteira ou a bolsa, geralmente, com documentos e dinheiro. Mas essa prática tornou-se obsoleta, explica o delegado Meinerz. Hoje, o roubo a pedestre tem, quase sempre, um único objetivo: o celular. À frente da Delegacia Regional desde 2015, Meinerz destaca que esse tipo de delito é, atualmente, o carro-chefe da atuação dos bandidos. Segundo ele, de janeiro até esse mês, foram realizadas 198 prisões por roubo a pedestres, veículos, residência e estabelecimento comercial.

O "boom" das prisões, lembra o delegado, se deu porque em maio deste ano foi criada uma força-tarefa para combater os roubos a pedestres. Meinerz recorda que, nos meses anteriores (em março e abril), a cidade teve uma elevação desse tipo de ocorrência com 105 e 120 casos registrados, respectivamente.

- O roubo a pedestre é, disparado, o (crime) mais significativo. E o alvo é o celular. E Santa Maria tem uma característica mais acentuada, que é o grande fluxo de jovens e de trabalhadores à noite. Por isso que, muitas vezes, o descuido da vítima ao mexer no celular, na rua e de noite, acaba sendo um convite à ação do ladrão - avalia.

Mas nem todos os indicativos são preocupantes. Em um deles, por exemplo, Santa Maria tem o menor índice no número de roubo a veículo entre os municípios que compõem o RS Seguro _ programa estadual _ e que abrange 18 cidades gaúchas.

_ Ao contrário de outras regiões, como a metropolitana, em que os veículos são roubados e levados para desmanche ou para clonagem, isso não ocorre aqui. Aliás, em Santa Maria, às vezes, o veículo roubado é utilizado para instrumento de outros crimes.

Já o método utilizado pelo bandido para coagir a vítima, em um roubo, observa quase sempre a mesma tática: o uso de armas brancas (facas), abordagem física e, em geral, em grupo (dois ou mais indivíduos).

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)
No prédio, onde funcionava a antiga sede da Justiça Federal Militar de Santa Maria, na Avenida Medianeira, irá funcionar o chamado Centro Integrado de Operações e Emergência (Ciope)

Cercamento eletrônico: a esperança de dias mais tranquilos

Com a proximidade do mês de dezembro, a prefeitura de Santa Maria sinaliza com a conclusão do processo de instalação das 691 câmeras de segurança, em 146 locais, que ficarão à frente de um processo inovador e, até então, inédito: o cercamento eletrônico e o videomonitoramento das entradas e saídas da cidade. O chefe da Casa Civil, Guilherme Cortez, avalia que se trata de "um investimento histórico". Serão, por ano, R$ 5,8 milhões que a prefeitura pagará à Vigillare (que venceu a licitação aberta este ano):

- O sistema está em fase final de instalação e, posterior a isso, serão feitos os testes. A previsão de começo de todo o sistema, por completo, é para o mês de dezembro. É mais do que se falar apenas em valores e investimentos, é um ganho para toda sociedade. Até porque sabemos que os índices de criminalidade terão consideráveis quedas. Sem dizer que Santa Maria passará a ser referência para o Estado em termos de segurança pública.

Na mesma linha, os dois principais nomes da Polícia Civil e da Brigada Militar - Sandro Meinerz e Erivelton Hernandes Rodrigues, respectivamente - são entendedores que o saldo do cercamento e do videomonitoramento servirá para inibir os criminosos. Já aqueles que, porventura, ainda cometam delitos (como roubos) serão rapidamente identificados, capturados e penalizados, avaliam.

- Tudo isso servirá para inibir os crimes de roubos e, principalmente, para tirarmos a bandidagem das ruas - projeta Meinerz.

O chefe da Casa Civil salienta que o eixo de atuação do plano de segurança para Santa Maria se dá alicerçado em cinco grandes frentes: cercamento eletrônico (câmeras em 32 locais), alarmes em locais públicos, controle de sinaleiras, rastreamento de veículos (acompanhamento da frota de veículos do município) e, claro, as 691 câmeras. Cortez exemplifica com a Praça Saturnino de Brito, tradicional ponto da calourada universitária e onde, em 2015, um jovem foi assassinado. Ali, haverá 16 câmeras, destaca o secretário. O Parque Itaimbé e tantas outras praças serão monitoradas 24 horas, sete dias da semana.

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