Tragédia

Como Santa Maria está reagindo à limpeza da Kiss

Lizie Antonello

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A limpeza do prédio onde funcionava a boate Kiss ocorre em um momento muito delicado para os familiares das vítimas: às vésperas da tragédia completar dois anos e a poucos dias do Natal. Mas não é só isso. Para especialistas, assistir, de perto ou à distância, a reabertura do prédio onde os jovens morreram e ter a possibilidade de reaver objetos pessoais dos filhos mortos mexe com as famílias, reabre uma ferida que não estava cicatrizada e traz de volta o sofrimento.

Ao mesmo tempo, a cidade começa a entrar no clima natalino e parece estar alheia ao que acontece no prédio. O sentimento velado é de que essa é uma fase que tem de ser superada.

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Para a psicóloga Clarice Dorotea de Lima Dutra, especialista em psicologia clínica, mexer no prédio, tão perto da data em que as famílias tradicionalmente se reencontram e se abraçam, foi uma infelicidade:

_ A alguns metros, temos, na praça (Saldanha Marinho), coloridos enfeites de Natal e, na Kiss, restos de uma tragédia, que não podem ser guardadas como lembranças de um dia feliz. A ferida reabre dolorosíssima.

A psicóloga explica que os familiares enfrentam duas situações: a legalidade e o sentimento. Na legalidade, o sofrimento fica amenizado com o entendimento de que a limpeza pode contribuir para uma responsabilização. Mas, no âmbito emocional sofrimento é maior.

_ Mexer na boate fez aflorar a dor em todos os familiares _ disse Adherbal Ferreira, presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

Pais ajudam uns aos outros

Sem curiosos por perto, o grupo de pais, atento a tudo que diz respeito à tragédia, em maior ou menor número, acompanha a limpeza, que começou há uma semana, do lado de fora da tenda montada para isolar o local. Em meio às conversas, é comum ouvi-los falar sobre os filhos. O que faziam, do que gostavam. As lembranças vêm carregadas de sentimentos e permeadas com dúvidas e questões relativas à Justiça.

Esse convívio em grupos é descrito por Priscila dos Santos Peixoto, historiadora e mestre em ciências sociais, como a forma que os familiares encontraram para terem forças suficientes para passar por esse "momento que é de extrema complexidade emocional".

_ O que dá suporte a eles é passar por isso coletivamente, nas redes de amizades que eles formaram. Mesmo que tenham ideologias distintas nos grupos, eles se apoiam. O elo é a espiritualidade. O convívio sistemático entre esses familiares fez com que eles construíssem explicações espirituais para a tragédia e isso, de certa forma, conforta e explica o inexplicável para eles _ diz Priscila.

Pertences de vítimas devem ser associados a boas lembranças

Não há dúvidas de que remexer na Kiss, reaver pertences dos filhos encontrados dentro da boate é, para os familiares das vítimas, reviver o momento da tragédia. Mas é esse o desejo de muitos pais. Para a historiadora Priscila dos Santos Peixoto é um momento muito complexo, de conflito emocional:

_ É, ao mesmo tempo, um retrocesso e uma tentativa de dar um passo a frente.
Para a psicóloga Clarice Dorotea de Lima Dutra, os pertences que devem ser devolvidos aos familiares remetem a lembranças negativas sobre a forma como os jovens morreram. Por isso, os pais tem de ter acompanhamento ao recebê-los de volta:

_ É preciso ressignificar "

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