Caso Bernardo: julgado pela segunda vez, Leandro Boldrini é condenado a 31 anos e 8 meses de prisão

Lenon de Paula

Caso Bernardo: julgado pela segunda vez, Leandro Boldrini é condenado a 31 anos e 8 meses de prisão
Foto: Márcio Daudt (TJRS)Foto: Márcio Daudt (TJRS)Foto: Márcio Daudt (TJRS)Foto: Márcio Daudt (TJRS)Foto: Márcio Daudt (TJRS)Fotos: MPRS (Divulgação)

Após 4 dias de julgamento, Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e 8 meses de prisão e 10 dias pelos crimes de homicídio qualificado e falsidade ideológica. O médico foi julgado pela segunda vez pelo assassinato do filho Bernardo Boldrini, morto em 2014, quando tinha 11 anos. 

A sentença foi lida por volta das 19h10min desta quinta-feira (23) pela titular da 1ª Vara Judicial do Fórum de Três Passos e presidente do júri, juíza Sucilene Engler Audino. A magistrada afirmou que os jurados reconheceram a existência dos delitos homicídio e falsidade ideológica, afastaram a tese de negativa de autoria e absolveram Boldrini da acusação de ocultação de cadáver.

As qualificadoras do crime de homicídio –  motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação – foram aceitas pelo conselho de sentença. O fato de o crime de homicídio ter sido cometido contra descendente e contra menor de idade também foi considerado como agravante. Como Boldrini está preso preventivamente desde 13 de abril de 2014, 3.264 dias serão deduzidos do total da pena.

Condenação

Homicídio qualificado – 30 anos e 8 meses de prisão

Falsidade ideológica – 1 ano de prisão e 10 dias multa

Pena total – 31 anos e 8 meses de prisão e 10 dias multa

O Ministério Público esteve representado pelos promotores de Justiça Miguel Germano Podanosche e Lúcia Helena Callegari. A defesa do réu ficou a cargo dos advogados Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti.

O médico Leandro Boldrini foi acusado de ser o mentor intelectual e de participar do homicídio do filho, Bernardo Boldrini, ocorrido em abril de 2014, em Três Passos. Ele, a então companheira, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz foram julgados e condenados, em março de 2019. O julgamento durou cinco dias e, ao final, Leandro foi condenado a 33 anos e oito meses de prisão. No entanto, o julgamento foi anulado pelo 1º Grupo Criminal do TJRS em dezembro de 2021. Nesta quinta, estava previsto o depoimento de Leandro, mas o réu alegou problemas de saúde e sua participação foi suspensa.

Acusação

Os promotores de Justiça acusaram o réu dos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, e emprego de veneno e dissimulação), ocultação de cadáver e falsidade ideológica (por ter registrado uma ocorrência policial do desaparecimento do filho mesmo sabendo o que tinha acontecido com ele).

Para a acusação, Leandro não só sabia que Graciele odiava o enteado, e permitia que ela o maltratasse, como arquitetou com ela o plano para matar o filho. O menino seria um “estorvo” para o núcleo familiar formado com a filha do casal. E também queriam evitar que ele herdasse a herança da mãe, Odilaine Uglione (falecida). Bernardo era dopado com medicação de uso controlado, sofria abandono, maus tratos e tortura psicológica.

Também teria sido o médico quem disponibilizou o receituário para compra do medicamento ministrado para sedar o menino no dia do seu assassinato. Para o MP, os relatos das testemunhas, nos últimos dias, deixaram claros estes argumentos. O promotor Miguel Podanosche foi o primeiro a falar, pedindo a condenação com “a pena máxima possível” para Leandro. 

– Há inconsistências comportamentais muito grandes. Ele não só sabia que estava enterrado em uma cova rasa, como também concorreu para que isso acontecesse –  afirmou.

Podanosche citou o áudio de uma interceptação telefônica, mostrado no plenário, datado de 14 de abril de 2014 – data em que foi encontrado o corpo do menino –, em que Graciele Ugulini conversa com uma amiga. Na ligação, que tem a participação de Leandro ao fundo, a madrasta diz que, com o aumento das suspeitas sobre ela e com o boato de que seria determinada a sua prisão, o casal já havia contratado um advogado. 

– Leandro estava interessado em conseguir um habeas corpus para a companheira, já havia até um advogado para isso. Os senhores ouviram, que entre sorrisos, Graciele e Leandro não davam a mínima para saber onde Bernardo estava — considerou o promotor.

Lúcia Callegari seguiu, traçando uma linha do tempo, entre os dias 4 de abril de 2014 (uma sexta-feira), quando Bernardo foi medicado com Midazolam pela madrasta e seguiu com ela até Frederico Westphalen, onde foi morto. No domingo, 6 de abril do mesmo ano, Boldrini registrou o desaparecimento na Delegacia. Em 14 de abril, depois que Edelvânia Wirganovicz confessou o crime, o corpo de Bernardo foi encontrado. Neste dia, os três foram presos.

Lúcia argumentou que Boldrini sabia que Graciele maltratava o filho e também que ela saiu da cidade com o menino no dia do seu desaparecimento. 

– Era do conhecimento do Boldrini que Keli (apelido de Graciele) odiava o Bernardo. Ele falou isso (depois que foi preso). Era tão público, que as pessoas que trabalhavam com ele sabiam, que as pessoas da comunidade sabiam – afirmou a Promotora. 

Para o MP, isso está claro também nos vídeos gravados no celular de Leandro, onde o casal e o menino discutem e a criança grita por socorro. E também através de audiência judicial em que é dito que a madrasta tentou matar o menino sufocado enquanto ele dormia, o que a deixou com ainda mais raiva.

O corpo de Bernardo apresentava a presença de Midazolam (sedativo). Dias antes do crime, houve o sumiço de ampolas deste medicamento no hospital onde trabalhava o réu e Graciele. Além disso, Edelvânia comprou a mesma medicação em uma farmácia, na antevéspera do crime, utilizando um receituário com assinatura e carimbo do médico.

O MP também sustentou que houve um acordo entre os advogados dos envolvidos para que Boldrini fosse isentado do fato, a fim de que pudesse custear as defesas de Graciele e Edelvânia.

– Hoje temos que encerrar esse capítulo condenando este psicopata, este crápula, este monstro que não merece as três letras que formam a palavra pai. Ele não sabe o que é isso – finalizou a Promotora de Justiça.

Defesa

Aos jurados, os advogados Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti pediram a absolvição de Leandro Boldrini. Argumentaram que ele não era um bom pai, mas que não tinha conhecimento nem participação no planejamento e execução da morte do filho. Afirmaram que nem a polícia, que indiciou Boldrini, nem o Ministério Público, que o acusa, apresentaram provas cabais contra ele.

– Leandro não foi um bom pai. No entanto, a discussão do processo é se o réu Leandro tinha amplo domínio do fato, atuou como mentor e incentivador do crime, da execução direta, arregimentou Edelvânia e Evandro, criou álibis, patrocinou o crime e deu acesso ao medicamento. Citou o depoimento das delegadas Caroline Bamberg Machado e Cristiane Braucks e sustentou que elas não tinham provas de que Leandro participou do crime – afirmou o defensor.

– Ao longo das interceptações, em que Graciele se mostra preocupada, não existe elemento que indique que ele era o mentor. As delegadas disseram que eles eram um casal, que conversavam no ambiente particular. Por que não providenciaram uma escuta na residência do casal? Elas responderam que tentaram, mas que o aparelho não funcionou. Se tivesse funcionado, seguramente, Leandro sequer seria preso ou processado por este fato – afirmou Grecellé.

Ele destacou também as interceptações telefônicas de familiares de Boldrini, apresentadas pela acusação durante o depoimento do primo dele, Andrigo Rebelato. Segundo o advogado, não há declarações que mencionem a culpa do médico. 

– Ali é prova cabal de que ele não fez isso. Uma relação de casamento é baseada no princípio da confiança. Leandro confiava, não queria acreditar que tamanha barbaridade tivesse acontecido – frisou. Para o advogado, Leandro Boldrini não sabia que Graciele matou o filho, pois confiava nela. 

Já Ezequiel Vetoretti apontou erros nas investigações. Ele destacou o extrato de ligações telefônicas, “uma prova técnica”, que demonstraria que todos os finais de semana daquele ano (2014) Leandro e Bernardo conversavam, o que contraria os argumentos da Polícia de que o pai não ligava para o filho.

– A imagem de Leandro Boldrini foi desfeita em rede nacional. Pela emoção que surgiu a partir deste caso, porque ela (Delegada Caroline) tinha que solucionar o caso e tinha o medo de, de novo, falhar (pouco antes da morte de Bernardo, uma jovem da cidade também foi assassinada e o crime não foi solucionado) – afirmou Vetoretti, ressaltando falhas da Polícia. 

Sobre as acusações de que Leandro demorou para procurar o filho desaparecido, e que inclusive naquele final de semana foi a uma festa com Graciele, o advogado afirmou que o médico havia conversado com pelo menos nove pessoas que diziam ter visto Bernardo na cidade.

– Tinha absoluta convicção de que ele tinha voltado de Frederico. Então, ele pensava, ‘o Bernardo tá aprontando uma’ –considerou Vetoretti.

O defensor citou também a reação de Leandro quando foi preso, que ele teria se indignado e investido contra Graciele, após ela admitir participação no crime. E que o médico chorou e disse que “Bernardo não merecia”. Ressaltou ainda o depoimento de Edelvânia Wirganovicz, que teria ouvido de Graciele que Leandro não sabia dos fatos, mas que “depois ele a agradeceria”.

Outro ponto ressaltado pela defesa foi o resultado inconclusivo da perícia grafotécnica quanto a autenticidade da assinatura de Boldrini. 

– O ponto de parada da assinatura demonstra que ela é de um falsário. Esta é uma prova que demonstra que Leandro não assinou esta receita. Destruíram a imagem dele para resolver o fato. Não há nada nos autos que demonstrem que Leandro mandou matar o filho. – acrescentou.

Finalizando, Vetoretti apresentou o depoimento de um médico, colega de Boldrini, que exaltou a competência e dedicação dele enquanto profissional para salvar vidas. E encerrou sua explanação considerando “absurda” a acusação contra Leandro.

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