Após três dias de intensas atividades e homenagens, a programação em alusão aos 10 anos da tragédia da Kiss se aproxima do fim. A noite desta sexta-feira (27) foi marcada por música, os 10 anos do coletivo Kiss: que não se repita e debates sobre produções jornalísticas a respeito da maior tragédia da história gaúcha. Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, um incêndio na boate Kiss resultou na morte de 242 pessoas e mais de 630 feridos.
Para sonhar e homenagear
Em 2023, o coletivo Kiss: que não se repita também completa 10 anos. A entidade, que é formada por amigos de vítimas da tragédia, tem articulado ações de acolhimento, reflexão e luta contra o esquecimento. Para este ano, foi idealizada e produzida a campanha Tempo Perdido. A iniciativa mostra como estariam vítimas da tragédia hoje em dia. Com a autorização de familiares e um financiamento coletivo, foram feitas oito simulações de progressão de tempo com recursos de inteligência artificial.
A divulgação dos resultados iniciou em 7 de janeiro nas páginas @kissquenaoserepita do Facebook e Instagram. Além da reprodução, as histórias de Letícia Vasconcellos, Lucas Dias de Oliveira, Thanise Correa Garcia, Augusto Cezar Neves, Melissa Amaral Dalforno, Heitor Oliveira Teixeira, Andrielle Righi da Silva e Ruan Pendeza Callegaro foram contadas a partir de trechos do livro Todo Dia a Mesma Noite, da jornalista mineira Daniela Arbex.
Durante a programação, a exposição foi montada na Praça Saldanha Marinho. À convite do presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Barros, os integrantes do coletivo Kiss: que não se repita, André Polga, Ingrid Cezimbra, Milene Louzada e Sindi Chaves compuseram a mesa principal. Na oportunidade, o público pode acompanhar uma retrospectiva do trabalho realizado pela entidade até o momento.
Um vídeo com mensagens de apoio aos familiares e amigos de vítimas da tragédia de Santa Madia também foi exibido na Praça Saldanha Marinho. O material contava com depoimentos de pessoas de todo o país. Logo após, a campanha ‘Tempo Perdido’ foi apresentada ao público. A iniciativa mostra como estariam as vitimas da tragédia hoje em dia. Além da divulgação do material, os familiares receberam do coletivo um porta-retrato com a foto produzida.
Em diversos momentos, os detalhes emocionaram os presentes. Antes de cada entrega, vídeos sobre as vítimas eram exibidos no telão principal. Cada material contava com fotos e uma narração especial, criada a partir de textos escritos por familiares.
Registros para a eternidade
Durante os diálogos, o público pode conhecer as exposições que marcam os 10 anos da tragédia. À pedido do coletivo de psicanálise Eixo Kiss, o professor e fotográfo, Dartanhan Figueiredo, disponibilizou uma seleção de registros fotográficos feitos desde 2013. Entre as temáticas abordados, estava a busca por justiça e o acolhimento aos pais, familiares e amigos, expressos a partir de abraços.
Por que contar essa história 10 anos depois?
As narrativas e produções jornalísticas sobre a tragédia serão abordadas pelos jornalistas Daniela Arbex e Marcelo Canellas durante o paínel ‘Por que contar essa história 10 anos depois?’. Para refletir sobre a data, a série Todo Dia a Mesma Noite, produzida pela Netflix, foi lançada neste mês. A produção tem como base o livro de Daniela Arbex. Ao Diário, ela falou sobre a expectativa para a produção:
– Que ela promova uma profunda reflexão sobre o sistema de justiça no Brasil, a necessidade de criarmos uma cultura de prevenção e sobre a necessidade de colocarmos um fim na impunidade. Então, eu acho que a série vai fazer história, porque vai nos tirar da nossa zona de conforto e nos fará exercitar o que é necessário para vida, que é a empatia.
Formado pela UFSM e santa-mariense de coração, Marcelo Canellas dirigiu o documentário Boate Kiss: a tragédia de Santa Maria, que já está disponível na Globoplay. Na noite de quinta-feira (26), o jornalista ainda participou da exibição do primeiro episódio da série realizada no auditório do Colégio Marista Santa Maria. Em entrevista ao Diário, Canellas falou sobre o papel do jornalismo, o movimento gerado pelas entidades nos 10 anos da tragédia e a necessidade de reconhecer a história para evitar que ela se repita:
– O jornalismo trata das contradições da vida. E não tem nada mais contraditório do que você deixar esperando, por 10 anos, 242 famílias que perderam seus filhos, sem que elas tenham uma resposta. É algo absolutamente inadimissível. Acho que a praça cheia de gente vestida de branco é um grito contra isso. Contra a forma que a sociedade e o Estado lidam com as dores que a gente tem. É um movimento muito forte por parte da associação, das famílias e dos sobreviventes. É um movimento cidadão contra o esquecimento e o silenciamento. Esperamos que as pessoas reflitam e que encontrem no documentário, uma porta para enxergar o lugar do outro, que às vezes fica tão distante da gente.
O evento foi encerrado com a apresentação musical da cantora santa-mariense Juliana Pires.