Boate Kiss: familiares de vítimas são alvo de tentativa de golpe

Maurício Barbosa

Boate Kiss: familiares de vítimas são alvo de tentativa de golpe
É golpe: mensagem enviada por falso perfil de advogado de Santa Maria no WhatsApp traz dados pessoais das vítimas. Foto: Reprodução

Criminosos estão se aproveitando da dor das pessoas e do momento em que a tragédia da boate Kiss completou 10 anos, para tentar aplicar golpes em familiares de vítimas. Eles estão usando o nome de um advogado que representa algumas vítimas e tem ações na Justiça para tentar receber transferências bancárias com promessas de liberação de valores de indenizações. Os valores das ações variam de R$ 79 a R$ 500 mil. Pelo menos 10 famílias já teriam recebido ligações dos estelionatários.

O advogado Luiz Fernando Scherer Smaniotto representa vários pais de vítimas e já registrou ocorrências na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) da Polícia Civil. Segundo ele, as ligações começaram no dia 27, quando a tragédia completou 10 anos.

– Parece que não tem limites as coisas mais. O modus operandi deles é entrar em contato com as vítimas, inclusive com nome e contatos que nem eu tenho. É com o nome, CPF, endereço e eles mandam contato telefônico via WhatsApp de uma pessoa que se diz ser minha secretária. Pedem pra que entrem em contato comigo num número de Porto Alegre, que teriam valores pra receber das indenizações sobre as ações civis da boate Kiss. Não houve nenhuma sentença ainda sobre isso até hoje. E aí essas pessoas fazem o contato, outra pessoa teoricamente atende e essa pessoa informa valores a receber setenta mil, noventa mil, quinhentos mil. A vítimas perguntam como é que faz, e ele pedem uma conta para o dinheiro ser depositado. Depois, dizem que o dinheiro está bloqueado por uma pendência na receita e inventam órgãos judiciais. Logo em seguida eles dizem que para liberar o valor da indenização é preciso pagar essa taxa e repassam o valor geralmente de R$3,7 mil para que a vítima faça um pix – conta Smaniotto.

Ousadia: golpistas usam até mesmo falso documento em que consta suposta dívida da vítima com a Receita Federal. Foto: Reprodução

Ainda conforme o advogado, na segunda-feira, uma das vítima foi até uma agência bancária, chegou a fazer o pagamento de uma dessas falsas taxas, mas conseguiu exornar o valor quando se deu conta de que era um golpe.

– Eles fizeram até um alvará citando o nome do Tribunal de Justiça na data tal, o valor tal. Por isso que nós já fizemos essas ocorrências de cerca de dez pessoas, hoje vamos fazer mais duas, porque o tribunal também está sendo colocado no meio. A criatividade dessas pessoas aí que não respeitam a dor de ninguém e inclusive o que eu acho mais degradante é que a primeira pessoa que recebeu a ligação foi exatamente no dia vinte e sete, quando fez dez anos da tragédia. Parece que eles aproveitaram pra fazer pegar mais a dor ainda. Dez anos de estar em busca de uma decisão final, que realmente aconteça a justiça, esperar o dia dos dez anos da tragédia pra começar a usar esse golpe… Já estão de coração rasgado e acontece mais uma situação dessas. Fica esse alerta para as pessoas que quando receber esse tipo de chamada, esse tipo de contato o escritório não faz. O alvará é sacado lá, diretamente lá, vai pra conta da pessoa direto. Não vai pro pra conta do escritório. Não existe trâmite de fazer um pix antes. Não tem nenhum alvará expedido, até hoje não tenho nenhuma sentença das ações civis das movidas pelos familiares da boate Kiss – explica o advogado.

O delegado Marcelo Arigony, que responde temporariamente pela delegacia regional da Polícia Civil orienta que todas as pessoas que receberam contato dos estelionatários façam o registro da ocorrência e que juntem provas para ajudar a responsabilizar os criminosos.

– É incrível e algo muito infeliz que as pessoas não tenham nenhum pudor no momento de tristeza. Agora nos dez anos da Kiss, onde de certa forma a gente revive essa tristeza da cidade de Santa Maria e dos familiares aí tem gente que se utiliza disso pra praticar estelionatos. Esses golpes normalmente são praticados por engenharia social, em que as vítimas são ludibriadas a partir de algum artifício ou alguma mentira. Nós fomos procurados por um advogado, o Luiz Fernando e temos conhecimento de algumas ocorrências já registradas. Isso deve estar sendo canalizado para a Primeira Delegacia de Polícia e vai ser investigado. A Polícia Civil vai fazer todos os esforços para tentar, esclarecer esses fatos e responsabilizar os autores. Hoje nós temos a delegacia online, as pessoas vão ao seu computador, ao seu celular escrevem delegacia online, RS e vai jogar na página da Polícia Civil onde a grande maioria dos crimes podem ser registrados – explica o delegado.

Arigony ainda diz que é preciso ficar atendo ao navegar nas redes sociais e principalmente ao clicar em qualquer link.

– É bom que você diga que nesse mundo novo o que mais funciona é precaução, a gente tem que desconfiar. A gente não pode acreditar nos outros, não pode acreditar em e-mail, em SMS, em mensagens do WhatsApp. Os golpes vem assim. A gente recebe um e-mail pensando que é do banco e não é. E eu clico no link achando que é do banco, quando eu clico, eu estou dando acesso a um aplicativo remoto que hackeia o meu aparelho celular e aí o criminoso acessa o meu Facebook, ao meu Instagram, às minhas redes sociais e na sequência os meus familiares, a minha rede de amigos acha que está conversando comigo e acaba sendo vítima. Então a gente tem que desconfiar de tudo no mundo novo, não clicar em link nenhum que a gente não tenha certeza que seja realmente da origem, não conversar com pessoas que a gente não tenha certeza absoluta que seja uma pessoa que está do outro lado. Hoje os criminosos pegam fotos da gente, pegam minhas, pegam no delegado do Sandro, pegam de pessoas importantes da cidade, criam, vão lá buscam essas fotos nas próprias redes sociais e criam um Facebook falso, Instagram falso, Twitter falso e aí, a partir disso, eles começam a se relacionar com as pessoas com familiares, enfim. E aí começa a engenharia social. O principal é precaução, prevenção, as pessoas precisam entender que nesse mundo novo a gente precisa desconfiar de tudo que não está perto da gente que a gente não tá enxergando, que a gente não está tocando, especialmente que vem por SMS mensagem, WhatsApp, redes sociais – finaliza o delegado.

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