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Diário - Como as famílias receberam a notícia da suspensão, afinal o Luciano é o único réu que afirmou que quer ser julgado aqui?


Flávio - Foi uma ansiedade muito grande, a gente aguardava essa decisão e já previa esse recurso e queria evitar passar por duas vezes por essa batalha que é terrível para nós. Nós, podendo evitar sofrimento das famílias, porque o risco da nulidade desse processo é muito grande - de um só réu ser julgado aqui , agora é uma luz no fim do túnel e as coisas estão mais tranquilas. 

Pedro - Era nítido que aconteceria da gente buscar que todos os téus fosse julgados juntos. Todas vias possíveis jurídicas o Ministério Público se propôs a botar em prática.  Agora, com essa decisão, há uma luz no fim do túnel que todos sejam julgados juntos e que todos paguem pelo devido fato que praticaram em Santa Maria. Se não houver uma reviravolta hoje, todos os quatro serão julgados em Porto Alegre.

Diário - A defesa do Luciano recorreu ao STF. Se tivermos uma resposta, deferindo o pedido, ainda cabe recurso? 
Pedro - Sim, cabe, tem essa hipótese dentro do próprio STF. 

Diário - A gente não tem data marcada para o julgamento dos três réus,. Com a possibilidade dos quatro serem julgados juntos, acreditam que possa ser esse ano?
Pedro -  Não vejo empecilho para isso, temos nove meses pela frente ainda. basta boa vontade do Tribunal de Justiça. 

Diário - Se ocorrer todo julgamento em Porto Alegre, vocês pretendem acompanhar? 

Flávio - A mobilização tá sendo a mesma, vai ser mais acirrada para levar um número maior de pessoas a Porto Alegre. A questão da tenda é um problema desde o início que o magistrado não nos queria nas proximidades no Centro de Convenções onde seria realizado o júri. Pedimos para instalar próximo do Planetário, do espaço multiuso, e foi negado por ele.  Até na questão do júri estamos sendo excluídos, a gente já considera isso uma condenação.  Ontem enviamos pedido de autorização da universidade para pedir para ser na frente da Casa de Comunicação, a uns 100 metros (do Centro de Convenções). Foi mais uma violação de nossos direitos. Não designaram um lugar para cada família de vítima fatal no júri, uma decisão injusta conosco.

Diário -  Existe um consenso entre os familiares sobre o júri?

Flávio - Elas estão entendendo que é a melhor opção que se tem. Tem que não entenda porque foi tirado daqui (o julgamento), mas as pessoas estão se convencendo dos motivos, que é pra não passar por esse desgaste mais de uma vez.  

Diário - Mas se fosse em Santa Maria, a Associação não teria mais apoio?

_ Teríamos, mas um apoio que a gente não teve foi essa questão da tenda e do nosso lugar no julgamento. A gente vai lutar para em Porto Alegre ter nossos direitos e poder ter um lugar para receber todos familiares e conversar com quem chegar lá. Na segunda, depois da reportagem do Fantástico, 18 pessoas nos ligaram oferecendo hospedagem em Porto Alegre, as pessoas estão bastante solidárias.

Diário - Vocês acreditam que com o desaforamento do Luciano haja uma nova cisão do processo? 

Pedro - Pode existir. Dentro do Direito, o pedido é um direito de toda a pessoa. Pode qualquer um deles, o Mauro, o Luciano, fazer o pedido. Acho que tá na hora da brincadeira acabar, de os quatro ir juntos em Porto Alegre e terminar logo isso. Eles têm o direito de pedir, mas se for aceito ou não, só os desembargadores saberão. 

Diário - Vocês acreditam na imparcialidade no júri em Porto Alegre, usada na argumentação do pedido de desaforamento? 

Pedro - Se me perguntar sobre imparcialidade ou parcialidade, estarei colocando em cheque as pessoas que serão julgadoras. Em qualquer lugar seria totalmente parcial, é algo sério, as pessoas fazem juramento. Envolve dor, mortes e até suicídio.  Santa Maria tem 300 mil pessoas, Porto Alegre tem um milhão e pouco. Será que sete pessoas seriam parciais? O Caso Boldrini saiu, em uma cidade pequena, saiu o júri. Será que se fosse em Santa Maria os jurados seriam parciais ou imparciais? Acho que seria mais parcial ainda porque foi um menino que morreu de modo cruel. 

Flávio - Os desembargadores sabiam desse risco, porque concederam o desaforamento porque foi questionado a imparcialidade e a falta de segurança. Deveria ter sido determinado pelo próprio TJ, porque sabia  

Diário - Se o júri acontecer, vocês estão preparados para segunda-feira?

Flávio - Sim. Estamos com esse anseio desse júri. Se tiver algo analisado antes sobre a tragédia. Infelizmente não depende da gente.

Pedro - O mais interessado é o advogado do Luciano. Ele mobilizou toda imprensa pedindo entrevista  Se não toda essa articulação que fizeram para vender a imagem do Luciano como um coitado, vai por água abaixo. 

Flávio - Sobre ele (Luciano) ter dito sobre aquilo de tapa na cara, só um adendo. Quando ele comprou aquele fogo, da opção pelo menor preço. Essa escolha, mesmo orientado pelo vendedor, matou a minha filha e mais 241 jovens. Como ele consegue dizer em um microfone que não é culpado? Ele já não está aceitando o julgamento. A gente não pode impor ao júri essa decisão. 

Diário - Vocês acreditam que não só os quatro réus tenham envolvimento, mas outras pessoas, inclusive as denunciadas? 

Pedro -  O MP entendeu que os 4 réus deveriam ser pronunciados e não participaram diretamente do fato. Mas lógico que outras pessoas deveriam estar no plenário dos réus. Mas o fato é que o cara que puxou o gatilho, estaria no banco do s réus, mas não a pessoa que fabricou a arma. Poderia responder por outro erro. Nós acreditamos que tem gente que cometeu o crime de improbidade administrativa, mas não somos nós que temos que achar. 

Flávio - Ele comprou o artefato pirotécnico, instalou na mão do Marcelo. Os outros dois, em função da ganância, permitiram botar o fogo lá. A minha filha saiu de casa para se divertir, com cinco amigas, foi comemorar o aniversário de 22 anos, e de presente foi condenada a morte. Agora o seu Luciano, seu Marcelo, seu Mauro e seu Elissandro são anjos né? Vamos deixar que o Conselho de Sentença tome conta e decida o que tiver de ser feito e vamos ver se eles são os inocentes que eles querem meter goela abaixo para população. O Luciano não vai ser julgado em Santa Maria porque  simplesmente ele quer, isso é uma baita estratégia, pra todos ficarem com pena, dizer que estourou no mais baixo. Na hora de comprar aquela porcaria, ele não pensou assim. Eles queriam economizar e encher os bolsos de dinheiro. 

Diário - O Luciano chegou a criticar o MP e dizer que a associação está sendo enganada. O que vocês dizem sobre isso? 

Flávio - É que a associação luta pelo mesmo objetivo do MP. O MP acusa, nós, enquanto assistente de acusação, queremos ver justiça. A questão da justiça, quem vai fazer, é o conselho de sentença, que condena ou absolve. Não significa que estamos de lado A ou lado B, não temos lado. Estamos do lado da Justiça e da verdade. 

Diário -  É impossível não citar a comoção, por isso a gente fala sobre o júri ser aqui, onde aconteceu o fato. É impossível não notar que há famílias que não estão presentes mais nas vigílias. Isso deixa vocês tristes, não ter tanto apoio como os primeiros meses, como aquela caminhada com milhares de pessoas, como vocês encontram forças? 

_ Para nós esses 7 anos são como uma eternidade. Quem trabalha no meio jurídico diz que é um tempo razoável. As pessoas são acostumadas, no Brasil, que dificilmente dá uma coisa para alguém. Então, a tragédia nos fez perder nossos filhos e acabamos montando uma grande família. Muitas pessoas acham que isso não vai dar em nada e vão desanimando, querendo ficar em casa. A gente vai entendendo que tem dias que a gente gostaria que o dia não amanhecesse, queria ficar na casa esperando o tempo passar. NA minha casa, tem dias que minha mulher está bem. Tem dias que quer ficar na cama, isso acontece com muitas famílias. às vezes queremos ficar sozinho, isolado, não podemos condenar outras pessoas sobre isso. Hoje isso aí não é só na questão da Kiss. AS vezes as pessoas acham que já passou o tempo de brigar, a gente ouve muito isso. Tá caindo pedra no teu telhado, tá quebrando, e o vizinho só vai se dar conta quando acontecer com ele. Com essa indecisão do júri, tem gente desistindo de vir, e na pior das hipóteses, se acontecer segunda-feira, tem gente que já não vem. Não sei quanto tempo a gente vai resistir, mas pela vontade, se tiver que brigar mais um ano ou dois, teremos que brigar. Não sei quando isso será resolvido e nem como vai chegar com a nossa família no fim dessa jornada. Infelizmente houve pais que morreram pelo sofrimento causado pela dor e sofrimento. Tinha um pai que me ligava todas as semanas e perguntava o que fazia da vida. Falei com esse amigo até o Natal, ele não foi até a virada do ano. Às vezes eu choro, eu rio, Às vezes eu não mostro por causa dessas pessoas. Então se o cara (Luciano) é vítima do sistema, vai ver que os bandidos somos nós, porque todos são inocentes. Nós, que perdemos nossos filhos, vamos acabar tendo mais uma condenação. As pessoas precisam se colocar no lugar do outro, isso é a tal da empatia, é complicado, mas a gente vai à luta. 

Diário - Como é ficar a frente de um caso desses? 

Pedro - A tragédia foi em janeiro, eu entrei no processo em março, trabalhando um casal que perdeu um filho. A partir dali, trabalhei somente para eles. Em uma situação, recebi o convite do Sergio (presidente da Associação na época). Eu já atendia uma família, acabei atendendo a toda Associação, e ser escolhido por eles não tinha como dizer não. Lidar com um monte de pessoas, em um caso que envolveum monte de mortse, cada um lida de uma forma, é um jogo de cintura. Abri mão de muita coisa para viver em função do processo, até pela responsabilidade. As pessoas sabem que é uma situação delicada. É um processo pesado, tem fotos, depoimentos. O advogado que conhece o processo ouve os gritos, vê, imagina, cria dentro da cabeça dele. Aí vem o Luciano dizer que é vítima, eu não consigo entender. O silêncio seria a melhor coisa pra ele. Me revolta porque ele não conhece o processo, nem a denúncia acho que leu. Ele bate numa tecla que se fosse só aquilo ele teria razão. Ninguém disse que ele queria matar, mas o processo não é isso. Acho que ele não entendeu. Ninguém tá falando que ele queria matar uma pessoa, aí seria outra tipificação. Ele comprou o fogo, botou na mão do marcelo, o fogo foi acionado, os donos permitiram tudo aquilo. Mas quem são os culpados? 

Diário - Para vocês os outros réus também sabiam dos artefatos?

Flávio - Sabiam de tudo. Tem uma revista em que fala da Gurizada Fandangueira em que fala que a galinha dos ovos de ouro eram os shows com fogos. Assim como falam que o Kiko não sabia da espuma. Olha o que saiu de fumaça daquela boate. Será que tinha só um pedacinho? Tu é proprietário da boate e nunca viu a espuma? Claro que sabia, claro que deixou botar fogo. Ele já tinha colocado fogo lá. A boate cabia 700 pagantes, tinha mais de mil naquela noite. 

Diário -  Para vocês SM aprendeu sobre superlotação e segurança?

Pedro - Acredito que sim, a legislação tá aí, a cobrança tá aí. A gente não vê as pessoas colocando fogo em boates. Eu tenho visto boates com umas 10 saídas de segurança. A gente não vê superlotação também.

Diário - Falando da Lei Kiss, vcs acham que a fiscalização pecou? 

Flávio -  Essa lei foi um decreto criado pelo Schirmer em 2014 (os contadores nas portas) em que tenha dois placar, um interno e outro externo, e que mostra em tempo real a lotação. A gente cobra tudo isso, porque dizem que não tem fiscal suficiente para esse tipo de fiscalização. Eram mais 100 fiscais na época. Depois falaram que não tinha como fazer. Fechar bar e distribuidora de bebida, fecham a toda hora. Mas os locais em que recebem pessaos em grande quantidade não sei se funciona. Uma coisa é o cara estar com a documentação em dia, outra coisa é botar gente demais. Agora que o governador prorrogou a lei kiss,para 4 ou 5 anos, dependendo do ponto, isso desmoraliza a lei criada. O governador explicou que não poderia fechar hospitais, escolas e presídios, mas não é isso que pedimos. Mas que fosse feito um projeto para readequar em tempo hábil. Isso foi criado para preservar empresário que patrocina campanha política. A resposta era pra sair de SM, éramos para ser o exemplo, ter oa 4 julgados aqui. Mas hoje pegam uma casa velha, tiram um pilar e abrem para encher o bolso de dinheiro. Enquanto as pessoas não aprender que a prevenção é investimento, não gasto, as pessoas estarão sempre em risco. 



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