Aos 76 anos, voluntária ajuda na administração e comanda brechó de instituição solidária

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Voluntária é descrita pelos colegas como a alma da instituição em que trabalha. Para ela, ajudar outras pessoas é uma forma de ajudar a si mesma

Enquanto ela se enxerga apenas como mais uma voluntária, seus colegas a veem como a essência da instituição para a qual se doa. A vida da são-pedrense Dunia Ramos, 76 anos, radicada no Coração do Rio Grande desde os 17, mudou, quando, em 1993, ela conheceu a Abrigo Assistencial Leon Denis, casa que oferece um teto para pessoas que estão de passagem por Santa Maria. Ela foi voluntária na casa por duas vezes. Na primeira vez, permaneceu por cinco anos, mas afastou em virtude de condições familiares. Em 2012, Dunia voltou para ficar.

- Eu havia conhecido a casa pelo atendimento que eles faziam para as pessoas que vinham de fora. Hoje, trabalho com o brechó da instituição e com a diretoria. Toda a nossa arrecadação com o brechó vai diretamente para a manutenção da casa, para pagar a água e o gás. O brechó nos segura - conta a idosa.

Professora dedica seu tempo para ajudar a comunidade

Enfermeira, Dunia era acostumada, desde jovem, a tratar seus pacientes com atenção e remédios. Quando atuava no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), compadecia-se dos casos vivenciados, especialmente, pelos pacientes de oncologia. Ela conta que situações como essas a motivaram a lutar pela cidadania. Inclusive, antes de auxiliar no abrigo, ela ajudou a mobilizar os moradores da Vila Jardim para a construção de uma creche na comunidade.

- As pensões eram caríssimas, e a Leon Denis dava a oportunidade paras pessoas terem um lugar para ficar. Temos muitas mães que ganham nenês em cidades vizinhas, onde não têm neo-natal. Na associação, temos mães que chegam a ficar um ano conosco, até ficarem bem para ir para casa - diz Dunia, que é especializada em Administração em Enfermagem, e, por isso, ajuda a lidar com as obrigações administrativas do grupo.

Ex-morador de rua encabeça projetos sociais para ajudar população

Entretanto, nem tudo são flores. A professora aposentada lembra-se de uma mãe que necessitava de estrutura hospitalar para ficar em casa, e, por isso, teve que ficar separada da família, junto com o grupo, para se recuperar. Emocionada, ela lamenta a solidão vivida pela mulher, que permaneceu um ano e meio sob os cuidados do grupo. Com o tempo, vivendo em meio a situações como essa, Dunia foi aprendendo a controlar as emoções.

- O voluntariado e a enfermagem são parecidos. Ambos acabam vivenciando muitas coisas e acabam criando um emocional equilibrado. Quando comecei a me dedicar aos trabalhos sociais, uma pessoa me disse que eu não fazia o bem para os outros, e sim para mim. E é a mais pura verdade. No trabalho voluntário, diferente do trabalho normal, você escolhe a área da qual gosta. Ainda por cima, você vai ter a gratidão das pessoas ajudadas. Eu não saberia viver sem o trabalho social, hoje. Ele não pesa, pelo contrário, é uma coisa agradável - reflete.

Voluntários ensinam danças folclóricas alemãs para jovens da Boca do Monte

Ao colocar seus 13 anos dedicados ao Abrigo Assistencial Leon Denis na balança, Dunia chega à conclusão de que não só ajudou o próximo, mas também educou a própria família por meio da instituição, sediada no Bairro Camobi. - Você poder viver em um ambiente assim é uma dádiva. O bem que o voluntário faz é para ele mesmo: antes de fazer para os outros, ele faz para si. Vemos diariamente a alegria e gratidão de quem recebe. Essa troca e a energia recebida nos dão um prazer imenso. Eu não poderia viver de outra forma. Tenho planos de realizar outros trabalhos voluntários e assistenciais. Para isso, vou deixar que Deus coloque no meu caminho - conclui.

CORAÇÃO E ALMA

Os seguidores, colegas, familiares e amigos de Dunia enxergam a enfermeira aposentada com os melhores olhos possíveis. A voluntária da Leon Denis e secretária Marta Cabeda Maciel, 56 anos, conheceu Dunia em 2015, quando começou sua participação no grupo. Ela conta que a responsável pelo brechó sempre foi uma pessoa acolhedora, afável e inspiradora. Marta entende que, se fosse necessário definir Dunia, diria que ela é alma do abrigo onde trabalha.

- Ela se compadecia do sofrimento das pessoas que não tinham como pagar para ficar em locais de Santa Maria. Até hoje, ela nos lembra, durante as nossas reuniões, o que é que nos move e o que é mais importante. No nosso caso, o acolhimento. Ela sempre nos recorda, de maneira sábia, que o mais importante é ter uma casa limpa e em condições de receber e acolher. Ela é fundamental e é nossa tesoureira, tem um pulso muito firme e é muito determinada. Ela é, com certeza, a alma do abrigo - rotula.

Artesã se reúne com grupo de mães para fazer enxoval de bebê para famílias carentes

A presidente da Leon Denis, Nubia Maria Denardin da Rosa, 63 anos, é outra colega que, ao mesmo tempo, é fã dos serviços prestados pela aposentada. Nubia entende que o trabalho realizado pela colega, que é uma das fundadoras da casa, é importantíssimo.

- O trabalho que ela desenvolve é ótimo. Ela é uma da nossas mais antigas voluntárias, afinal, foi uma das fundadoras da casa - relata.

Mães da Kiss entregam roupas de lã para bebezinhos

Filho de Dunia, Raphael Ozéias Ramos, 36 anos, é grato à mãe pela sua inserção nos meios solidários. Formado em Serviço Social, ele é um dos poucos profissionais contratados pelo lar e tem o trabalho de ajudar diariamente seus hospedados. Ele diz que, se não fosse pela mãe, nunca estaria onde está, hoje.

- Ela é o coração da nossa instituição. A minha mãe é uma pessoa corretíssima e que faz de tudo para ajudar quem precisa. Depois de um período turbulento da instituição, no qual ela estava afastada, ela resolveu voltar e, juntamente com uma nova direção, retomou as nossas atividades. Ela assumiu o brechó com quase nada em caixa e conseguiu realizar tudo o que nós precisávamos. Claro, tivemos muito apoio da comunidade em que vivemos e de parcerias importantes. Mas o mais relevante é que, sem ela, eu não teria me tornado Assistente Social - explica o filho.

VISITE

Comandado por Dunia, o brechó do Leon Denis funciona de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h30min

Hoje, o Leon Denis conta com cerca de 20 voluntários. O brechó da instituição, que é comandado por Dunia, funciona de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h30min. O Abrigo Assistencial Leon Denis funciona na Rua Erly de Almeida Lima, 520, no Bairro Camobi. Mais informações pelo (55) 3226-4928.