Diário nos Bairros

Aldo é o escultor da vida e da morte

Silvana de Castro

"O escultor Aldo Carvalho Venes, 72 anos, defende que tudo na vida tem um sentido. Na infância, arrepiava-se ao passar por uma cruz em um matagal, no caminho da escola, a qual sinalizava o lugar onde uma pessoa havia sido morta, em São Luiz Gonzaga. A cruz e a história por trás dela impressionavam-no tanto, que o então rapaz chegava a ouvir gemidos. Naquela época, Aldo mal sabia que os símbolos religiosos ligados à morte garantiriam o seu sustento. Aos 12 anos, já ganhava dinheiro com isso. Começou a trabalhar numa marmoraria em Santa Maria, no acabamento de lápides. Depois, transformou-se em escultor de imagens de cemitério. Hoje, seus trabalhos produzidos no atelier existente há 30 anos na Vila Caramelo, no bairro Juscelino Kubitschek, estão espalhados pelos túmulos do Ecumênico Municipal.

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– Para mim, aquele arrepio que eu sentia era uma orientação de Deus de que iria trabalhar com isso. Para ver como a vida tem um sentido. Comecei na área e não saí mais. Paguei minhas dívidas com isso – revela Aldo.

Ele aprendeu sozinho a esculpir anjos e o rosto de cristo, todos de cimento, resina e cola. Continuou seu trabalho artístico mesmo quando assumiu a função de coveiro no Cemitério Municipal. Lá, conquistou ainda mais clientes, divulgando sua arte. Sensível, seguiu arrepiando-se a cada sepultamento.
– Nenhum enterro é igual a outro – conclui.

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Mas a obra de Aldo não se limita aos campos santos. Para quem não sabe, são dele alguns dos enfeites do finado Parque Oásis, em Itaara, como o anão e o saci. Os ETs e a réplica do disco voador do Museu Internacional de Ufologia, na mesma cidade, também. Para o Exército, esculpiu uma pantera negra. Além disso, bancos de praça, vasos, sapos, anões, brancas de neve e fontes d' água surgidos de suas mãos adornam muitos jardins santa-marienses há décadas. Aldo também faz restaurações.

– Tenho clientes em várias cidades da região. Um indica para o outro. O cliente pede, eu faço. Hoje, meu sustento é mesclado entre esculturas para cemitério e para outros fins – conta o escultor, que usa desenhos e fotografias como modelo.

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Nascido em São Pedro do Sul, mas registrado aos seis anos de idade em São Luiz Gonzaga, o escultor mudou-se para Santa Maria na pré-adolescência. Aldo tem três filhos e mora no atelier desde que se separou da esposa, há dez anos. Da juventude, mantém o mesmo estilo de cabelo, sucesso na década de 1970. Apreciador de uma conversa longa, o escultor registra os principais acontecimentos do dia em folhas avulsas, antes de dormir. "

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