O programa carrega duas particularidades que, no meu entendimento, deveriam ser modificadas. A primeira é o fato de somente as rádios realizarem a transmissão. Sabemos que a origem dessa situação remete à década de 30, quando da criação do programa, em virtude do rádio ser, à época, o único meio de comunicação que conseguia chegar à maioria da população. A televisão ainda não existia e os jornais tinham circulação restrita. Porém, já de algum tempo existem outros veículos de comunicação. O mais justo, portanto, não seria todos retransmitirem ou então nenhum?
A segunda e mais importante situação refere-se à condição de obrigatoriedade. É algo que não cabe mais nos dias de hoje. Impor a transmissão de um programa com informações que o cidadão consegue acessar pela televisão, pela internet e pelas próprias emissoras de rádio não se justifica.
Certamente, A Voz do Brasil foi importante durante algumas décadas, levando conteúdo aos mais longínquos rincões do Brasil, num período em que apenas o rádio conseguia esse intento e que não existia, por exemplo, antena parabólica. Porém, houve o crescimento e a expansão das comunicações e, no mundo moderno, há várias maneiras de se propagar as notícias dos três poderes. Além disso, sua audiência é muito baixa, para não dizer irrisória. Como ilustração, a veiculação do programa no YouTube, na última terça-feira, teve pouco mais de 3 mil visualizações e no Facebook, uma das redes sociais mais populares, há pouco mais de 14 mil seguidores, o que, convenhamos, é um número, no mínimo, constrangedor para um país com mais de 210 milhões de habitantes, mas que dá uma ideia do nível de interesse da população pelo programa.
É preciso frisar, porém, um importante avanço que ocorreu em 2018, que foi a flexibilização do horário de veiculação. As rádios passaram a ter a condição de retransmitir o programa entre o período de 19 e 22h. Essa mudança trouxe a oportunidade delas terem uma maior liberdade nas suas programações e o ouvinte uma condição de escolha do que quer ouvir.
O mundo vem evoluindo de forma rápida, em especial nas formas de comunicação e transmissão de informações, principalmente pelo surgimento da internet. A obrigatoriedade de as rádios transmitirem A Voz do Brasil remonta a um tempo em que havia escassez de veículos de comunicação e, portanto, havia uma função social relevante. Atualmente, isso não ocorre mais. Seguir com esse regramento é parar no tempo. Aliás, é viver do passado.
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