Veado-mão-curta, pítons e emus: conheça a história de alguns dos novos moradores do Zoo São Braz

Ao mesmo tempo que o Brasil é o país com a maior diversidade de fauna e dono de 20% de toda a biodiversidade do mundo, é também um dos países que mais a desrespeita. De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), o tráfico de animais tira 38 milhões de bichos do seu habitat natural e movimenta R$ 3 bilhões por ano no país. Em Santa Maria, animais vítimas de tráfico, maus-tratos, atropelamentos, criadouros e cativeiros ilegais ganham uma segunda chance no Zoo São Braz.

Atualmente, cerca de 500 animais vivem no local. Aqueles em condições, voltam à natureza. Já os animais que são criados em cativeiros e que não se adaptam mais à liberdade, ficam sob os cuidados da equipe. Hoje, você vai conhecer alguns dos novos moradores que, na verdade, não são tão novos assim. Todos eles chegaram em setembro de 2023, e desde então, recebem os cuidados da equipe para uma vida digna e saudável. Veja, abaixo, as características e um resumo da história de cada um:

 

Novos moradores


Veado-mão-curta


Em fase de adaptação no novo recinto, o pequeno veado-mão-curta é um dos bebês do Zoo São Braz. Ele foi resgatado em Porto Alegre e, logo depois, transferido para Santa Maria pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). Muito dócil e simpático, o filhote ainda era alimentado na mamadeira pela equipe. No novo recinto, foram colocadas barreiras feitas com folhas para que o animal não se assustasse com os movimentos à sua volta. Segundo a equipe, a adaptação vai bem. Ele pode ser considerado um dos cervos mais ameaçados de extinção no Brasil.

Suas pernas são proporcionalmente curtas, o que explica um de seus nomes populares: veado-mão-curta. Mas a espécie também é conhecida pelos nomes veado-bororó-do-sul, veado-poca, veado-cambuta, veado-bororó, veado-mão-curta ou cambucica. Esses animais habitam principalmente áreas com densa vegetação e altas altitudes, como serras do interior da Mata Atlântica no interior de Santa Catarina e Paraná. Possui entre 45 e 50 cm de altura e de 60 a 100 cm de comprimento, e costuma pesar menos de 15 kg.

Conhecidos por serem altamente evasivos, são pouco estudados no seu habitat. Pode ser considerado o cervídeo brasileiro menos conhecido pela ciência. No Rio Grande do Sul, ele é considerado criticamente ameaçado de extinção.


  • Nome científico: Mazama nana
  • Curiosidades: têm hábitos noturnos e crepusculares, são solitários, territorialistas e sedentários. 
  • Alimentação: frutos, folhas, brotos e gramíneas
  • Origem: Brasil



Emu

Desconfiados e observadores, os quatro Emus, três machos e uma fêmea, chegaram até o São Braz através do Ibama. A ave é uma espécie nativa da Austrália e teve os ovos importados para o Brasil. Aqui, foram colocados na chocadeira e, logo após o nascimento, foram criados em cativeiro desde filhotes para depois serem comercializados. Os animais foram encontrados através de uma denúncia anônima. O emu é a segunda ave mais alta do mundo, perdendo apenas para o avestruz. Os maiores podem atingir 1m50cm a 1m90cm de altura.

  • Nome científico: Dromaius novaehollandiae
  • Curiosidade: os emus são as únicas aves com músculo na panturrilha, tornando-os altamente adaptados à corrida, atingindo até 48 km/h. Podem viver até 40 anos
  • Alimentação: frutas, insetos e pequenos animais.
  • Origem: Austrália


Corn snake


A ‘corn snake’, também conhecida como cobra-do-milho ou cobra-do-milharal, é uma espécie não peçonhenta, que pode ser encontrada pela região sudeste dos Estados Unidos.
Por possuir um temperamento dócil e não ultrapassar 1m50cm de comprimento, é comumente reproduzida para o comércio de pets em diversos países.

A espécie já foi legalizada anteriormente no Brasil, mas foi proibida por ser uma espécie exótica e por ter potencial de bio invasão — processo no qual um organismo animal ou vegetal é introduzido a um ambiente distinto ao seu de origem, causando prejuízos à fauna e à flora. Ela vive de 15 a 20 anos e leva esse nome — traduzido ao pé da letra — em homenagem à sua presença perto dos celeiros norte-americanos e ao padrão distinto da sua barriga, que lembra grãos de milho.

As cobras foram apreendidas em uma residência e levadas até o São Braz.


  • Nome científico: Pantherophis guttatus
  • Curiosidade: a espécie possui quase 20 variações de cor, porém, a maioria é encontrada na forma clássica, apresentando uma coloração alaranjada com manchas vermelhas contornadas de preto.
  • Alimentação: roedores, como os camundongos
  • Origem: região sudeste dos Estados Unidos


Arara-azul


Ela é a maior espécie do grupo dos psitacídeos — algumas das aves mais inteligentes e que possuem o cérebro mais desenvolvido. Antes de chegar no São Braz, a arara de 30 anos vivia em cativeiro na cidade de Cruz Alta. O espaço era pequeno e o animal passava grande parte do tempo andando no chão. Por esse motivo, a equipe, que temia a adaptação da ave em grandes ambientes, chegou a adaptar o recinto para deixar a ave mais próxima do solo. Mas, para a surpresa de todos, ela escalou os galhos com facilidade e, hoje, observa o movimento do Zoo com muita atenção.

Essa é uma ave de grande porte, com cerca de 1 m de comprimento da cabeça à cauda e 1m20cm de envergadura, e pesa, aproximadamente, 1,3 kg. Possui coloração predominantemente azul-cobalto, com regiões em amarelo ao redor dos olhos e na mandíbula inferior. A espécie vive em bandos de 10 a 30 araras, constituem famílias e cuidam um dos outros. O casal, que só é dissociado em caso de morte de um dos indivíduos, divide os cuidados com a prole. Vale destacar que essas aves podem viver por mais de 50 anos.


  • Nome científico: Anodorhynchus hyacinthinus
  • Curiosidade: em pesquisa realizada pela presidente do Instituto Arara-Azul, Neiva Guedes, foi confirmado que a maioria dos casais de arara-azul é monogâmico. A espécie forma casais que permanecem unidos até mesmo fora da estação reprodutiva. Esses pares dividem tarefas entre si, como o cuidado com o filhote, o ninho e, na grande maioria dos casos, os animais vivem juntos até a morte.
  • Alimentação: sementes, frutas, coquinhos e nozes.
  • Origem: é nativa do centro e leste da América do Sul e habita as regiões tropicais, em especial, regiões abertas do Brasil, Paraguai e Bolívia.


Pítons


Encaminhadas também pelo Ibama, a dupla de pítons Albina e Burmesa veio de Brasília, onde era criada em casa com outras quatro cobras da mesma espécie. O motivo do resgate não foi informado, mas a suspeita é que o couro das cobras seria vendido para a fabricação de roupas ou bolsas. Elas são um grupo de serpentes consideradas as maiores do mundo — seu tamanho varia de 5 a 9 metros. 

Pítons são serpentes que não possuem veneno e que matam sua presa por constrição, ou seja, enrolam seu corpo ao redor da presa e a apertam de modo a interromper o fluxo sanguíneo. Em relação ao peso, fica próximo da casa dos 170 kg, podendo chegar até 270 kg para serpentes maiores. Na natureza, uma píton vive cerca de 20 anos.


  • Nome científico: python molurus bivitattus (albina) e python bivittatus (marrom)
  • Curiosidade: apesar de serem animais ectotérmicos — aqueles que dependem principalmente de fontes externas de calor — as pítons são capazes de produzir calor metabólico. Essa vantagem é usada na incubação dos ovos, momento em que a fêmea produz calor por meio de contrações musculares. As fêmeas botam, geralmente, entre 25 e 50 ovos, os quais incuba por cerca de 90 dias. 
  • Origem: Ásia e África
  • Alimentação: come morcegos e musaranhos (pequenos mamíferos roedores), até animais de grande porte, como veados.


Melhorias

Hoje, o Zoo São Braz trabalha com uma equipe com 20 pessoas. Formada pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Daniele Gehres, 28 anos, foi estagiária do Zoo São Braz e, hoje, atua como uma das médicas veterinárias do local: 

— Eu consegui acompanhar toda a trajetória de Mantenedouro para Zoológico, teve muita evolução, melhoria na qualidade de vida dos animais, principalmente com o ambulatório, que não existia quando eu comecei. É muito gratificante, principalmente o trabalho de reabilitação. É muito bom saber que estamos contribuindo para a fauna — explica.


Frutas e verduras fazem parte da dieta de grande parte dos animais que vivem no local.


Falta pouco para virar Zoológico

As mudanças apontadas por Daniele vieram com a decisão de transformar o antigo Mantenedouro em Zoológico. A solicitação foi feita pela Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Sema) em função do crescimento da infraestrutura do local. Em setembro do ano passado, o Diário foi acompanhar a transição e entender os motivos. Agora, o espaço já funciona com a nova denominação, mas aguarda apenas a visita da Sema para finalizar o processo:

— Falta apenas a vistoria da Sesma, que será feita, provavelmente, até o final de março — explica Santos Braz, diretor do Zoo.

 

Visite

O Zoo São Braz é aberto para visitas todos os dias, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h. O preço da entrada é R$ 25 para adultos e R$ 20 para crianças (3 a 12 anos).

As visitas guiadas, com mais de 20 pessoas, são com preços diferentes e precisam ser agendadas.



Ajude

O Zoo São Braz conta com a ajuda da comunidade para seguir funcionando. Aqueles que desejam fazer uma doação, podem entrar em contato pelo telefone (55) 99138-0000 ou enviar uma contribuição via Pix, com a chave: 378.866.140-20 (opção CPF).

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Vitória Parise

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