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'Tenho só uma meta: servir a Deus, servindo ao povo que está em Santa Maria', diz novo arcebispo

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Arquidiocese de Porto Alegre (Arquivo/Divulgação)

Os badalos dos sinos da Catedral Metropolitana, às 7h da manhã de ontem, registravam um marco na história eclesiástica da cidade e da região: o anúncio do novo arcebispo da arquidiocese de Santa Maria, Leomar Antônio Brustolin. A nomeação oficializada pelo papa Francisco obedece a uma norma da Igreja Católica que determina a renúncia do cargo aos 75 anos, idade completada pelo até então arcebispo dom Hélio Adelar Rubert, ainda no ano passado. A posse de dom Leomar, porém, ocorrerá no dia 15 de agosto, às 10h, no Santuário-Basílica da Medianeira. A data é recebida com coincidência e bênção pelo religioso:

- Em 15 de agosto comemora-se a data de criação da diocese de Santa Maria, a festa de assunção de Virgem Maria e meu aniversário natalício. É muito emocionante não só pela posse, mas para configurar a minha vida cada vez na missão que recebi do papa Francisco junto à cidade de Santa Maria.

A comunidade católica, que representa 66% da população de Santa Maria, bem como toda arquidiocese - que se desdobra em 26 municípios e 39 paróquias -, creditam ao novo arcebispo a confiança para continuar o trabalho de dom Hélio e de outros seis bispos, da renovação da fé e da missão de levar a doutrina cristã entre o público mais jovem.

O pároco da Catedral, padre Enio José Rigo, acredita que a trajetória de dom Leomar na academia será elo importante, sobretudo junto às universidades. O caráter universalista da gestão do novo arcebispo promete "abraçar cristãos e não cristãos".

- Ele foi coordenador da pós-graduação em Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS). Isso pode fazer ele ter proximidade de diálogo com o mundo acadêmico - destaca o pároco.

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A avaliação do padre Ênio é de que não se substitui o arcebispo. O desafio é estabelecer, com singularidade, uma sucessão:

- O dom Hélio, quando assumiu a diocese, disse que não vinha substituir o dom Ivo, mas, sim, sucedê-lo. Cada bispo tem a sua particularidade, como Deus nos fez singulares. Eu acredito que seu governo se sintetiza na serenidade e na espiritualidade.

BOAS-VINDAS
O prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), antecipou as boas-vindas a dom Leomar. A ideia do prefeito é tentar contato com o arcebispo na próxima segunda-feira, em uma viagem a Porto Alegre previamente marcada.

- Os nossos arcebispos deixaram legados. É só lembrar do dom Ivo Lorscheiter. Há também o legado que o nosso dom Hélio está deixando. E tenho certeza que o novo arcebispo vai dar continuidade a isso. Ele vai ser recebido com muito carinho. Santa Maria é uma cidade acolhedora e tem uma tendência de respeitar cada uma das religiões. Portanto, o dom Leomar será bem recebido por todas as religiões - analisa.

Pozzobom também destacou o fato de dom Leomar ter nascido em Caxias do Sul, região de forte influência de imigrantes italianos. Para ele, essa experiência ajudará no trabalho feitos na região, sobretudo por conta da imigração italiana na Quarta Colônia.

- O dom Leomar vem de Caxias do Sul, mas vai virar santa-mariense também - brinca. 

Na manhã de quarta-feira, por e-mail e após, por telefone compartilhou com o Diário um pouco da sua vida pessoal e religiosa, e a expectativa para assumir o novo cargo.

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Diário de Santa Maria - O senhor é natural de Caxias do Sul, como foi sua infância e adolescência e como descobriu sua vocação?

Arcebispo dom Leomar Antônio Brustolin - Nasci em uma família católica de pais atuantes na Igreja. Meu pai era devoto da Nossa Senhora Medianeira e, algumas vezes, viajou até Santa Maria para a romaria. Dele, recebi uma pequena estátua da Medianeira quando eu tinha 4 anos. Até hoje, conservo essa que é a mais bela lembrança do meu pai que faleceu há 40 anos. Não poderia imaginar que um dia servir à Basílica da Medianeira. Minha mãe foi minha catequista e após ter recebido a crisma ela encaminhou-me para ser catequista também. Nesse contexto eclesial, nasceu minha vocação ao sacerdócio.

Diário - O senhor já esteve em Santa Maria? Qual a sua leitura da cidade e como vê a responsabilidade de se tornar o novo arcebispo?

Dom Leomar - Estive em Santa Maria para assessorar encontros sobre formação cristã e catequese. Percebi que a cidade tem uma forte presença de universitários. A vida cultural e acadêmica marca essa realidade. Igualmente, o grande contingente de militares se destaca e dá relevância. Creio que o fato ser a capital mariana do Rio Grande do Sul, pela Romaria da Medianeira, também contribui para fazer de Santa Maria uma referência. Tenho bem presente os diversos municípios que compõem a Arquidiocese com suas 39 paróquias. Percebo que há uma variedade de contextos a ser considerada. Ser arcebispo desta Igreja traz responsabilidade para reverenciar a memória, legado de tantos que nos precederam na caminhada e alegria da certeza de que irei encontrar muitas pessoas dedicadas e empenhadas em promover a fé, o bem comum e a ética do cuidado. Essa é a alegria cristã, de saber que no caminho de Cristo, há a companhia de muitos irmãos e irmãs com a mesma meta.

Diário - O senhor tem formação diocesana, mestrado em faculdade jesuítica e doutorado com os dominicanos em Roma. Qual é o maior objetivo da sua trajetória religiosa? O senhor vislumbra em se tornar cardeal?

Dom Leomar - Eu só tenho uma meta: servir a Deus servindo ao povo dele que está em Santa Maria. Não é possível ter outra razão para a nossa missão. Para exercer esse serviço pretendo me aproximar da pessoas e situações diversas, para escutar e dialogar. Neste processo, espero poder contribuir para nos tornarmos cada vez mais discípulos de Jesus Cristo em uma sociedade plural e promotores do humanismo integral e solidário que a Igreja tanto preza em sua Doutrina Social.

Diário - Além de atribuições religiosas, o senhor é escritor professor universitário. O que mais gosta de fazer?

Dom Leomar - Tenho repartido meu tempo nos últimos anos entre o ministério sacerdotal e a vida acadêmica. E isso implica em gostar de ler, pesquisar e escrever. Especialmente tenho alguns escritos que partem da minha experiência pessoal com a fé. Por exemplo, o livro Sob o Olhar de Guadalupe, lançado em dezembro de 2020, foi concluído no tempo que fiquei confinado por causa da Covi-19. Mesmo assintomático, aproveitei a oportunidade para rezar, refletir e escrever. Para descansar gosto muito de conviver com meus familiares e amigos, ler bons livros, assistir filmes e séries, e viajar, quando possível.

Diário - O senhor tem um site, um canal no YouTube e um brasão próprio. A comunicação é um aspecto bem marcante na sua trajetória ...

Dom Leomar - Creio que hoje há excelentes meios de nos aproximarmos das pessoas por meio dos diversos meios de comunicação. O mais importante é a produção de conteúdo capaz de ajudar as pessoas a formarem um pensamento crítico, em vista de uma sabedoria que se consolida num estilo de viver. Por isso é cada vez mais urgente alargar nossa comunicação para além do nosso grupo e meio. Mas a primeira e fundamental comunicação é aquela que estabelecemos no cotidiano com as pessoas com as quais convivemos. Ali se estabelece a comunhão necessária para testemunhar os valores que ensinamos.

Diário - E como vê a importância da imprensa na pauta religiosa?

Dom Leomar - A Igreja desde seu fundamento muito valorizou a comunicação. Uma tradução possível para o termo grego Evangelho é Boa Nova, isto é, Boa Notícia. Especialmente em tempo de tantas fake News que causam confusão e desorientam as pessoas, é preciso uma imprensa capaz de promover a verdade, a justiça, a bondade e a empatia.

Diário - O papa Francisco tem pautado assuntos, tradicionalmente tabus, dentro da Igreja Católica, entre eles, a união homoafetiva e a entrega da comunhão a pessoas divorciadas. Qual a sua avaliação?

Dom Leomar - O ensinamento do Papa Francisco é fiel à tradição da Igreja, tem princípios e fundamentos que são pautados pelo Evangelho e pela doutrina católica. As pessoas têm percebido novidade é na postura pastoral que o Papa propõe. Pastoral é o cuidado da Igreja ao tratar com as pessoas. O Papa pede para superarmos uma forma fria, burocrata e distante de atender, indo ao encontro de cada ser humano para se aproximar, acompanhar e integrar no caminho da fé. Mais do que provocar polêmicas, essas atitudes requerem pessoas mais atentas à misericórdia e ao diálogo. Garantir que toda pessoa tem direito de sua dignidade, de ser reconhecida em sua singularidade e do respeito que merece é o objetivo dessa pastoral. Nem sempre se poderá oferecer o que as pessoas pedem à Igreja, mas sempre será possível oferecer acolhida e atenção que todos precisam. Na Igreja todos têm lugar e todos são chamados a seguir Jesus Cristo, configurando suas vidas ao que Ele propõe, revendo atitudes para se adequar ao Evangelho. Isso não pode ser reduzido à lógica do que "pode ou não pode", porque isso requer uma conversão cotidiana ao que Cristo propõe como caminho de felicidade.

Diário - O senhor foi ordenado em 1992, há quase três décadas. Houve muitas mudanças na realidade daquela época - tanto na Igreja quanto da sociedade - e agora? Quais mencionaria?

Dom Leomar - Nos últimos se verificou na verdade não uma época de mudanças, mas uma mudança epocal. Diversos aspectos foram mudando no estilo de vida. A pandemia acelerou nossa utilização da internet e das tecnologias que a ela se associam. Na verdade, cresceram possibilidades, mas também desafios. Dentre eles creio que devamos nos preocupar sobremaneira com a crise do sentido da vida que muitas pessoas revelam e a crise ética, que se expressa na falta de empatia e de cuidado para com o outro. Essa crise ética que assistimos em tantas instâncias da nossa vida comum, está se traduzindo numa crise antropológica também, na qual o ser humano precisa reencontrar-se para viver e conviver neste mundo.

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