"Quando um bairro é vítima de violência e nós enviamos policiais, o que estamos fazendo é incrementar o problema", afirma consultor que participou da transformação de Medellín

Foto: Antonio Oliveira

Jorge junto de Luciane Brum, Superintendente da Secretaria de Cultura de Santa Maria.

Nesta terça-feira (20), às 19h, o consultor e conferencista colombiano Jorge Melguizo, nascido no bairro onde o traficante Pablo Escobar foi morto, em 1993, fará sua estreia em Santa Maria para ministrar a palestra gratuita “Urbanismo Social: a transformação das cidades”. O encontro com o jornalista, professor e ex-secretário de Cultura Cidadã e de Desenvolvimento Social de Medellín será no LabCriativo. A ação faz parte da programação do Conecta Distrito, que integra a Feira Fora da Feira. As ações antecedem a 51ª Feira do Livro de Santa Maria, realizada de 23 de agosto a 7 de setembro. Em entrevista ao programa F5, da Rádio CDN, Melguizo explicou quais os dois principais objetivos da atividade:

— Um é contar os processos profundos de transformação social, educativa, cultural e urbana de Medellín (cidade colombiana com alta taxa de homicídios na época de Pablo Escobar). E dois, tentar unir assuntos semelhantes de cidades como Santa Maria e nossos países como Colômbia e Brasil. Temos situações semelhantes em relação à violência e desigualdades, mas também nas oportunidades... Então, como podemos transformar nossas realidades a partir dessas oportunidades.

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Reconhecido pelo trabalho desenvolvido em Medellín, cidade antes marcada pelo narcotráfico e considerada uma das mais perigosas do mundo nos anos 1990, Melguizo implementou projetos culturais e educacionais que promoveram a redução significativa da violência na cidade. A transformação melhorou a qualidade de vida da população e hoje é considerada a cidade mais criativa e inovadora do mundo. 

Segundo Melguizo, o primeiro passo foi levar dignidade para as famílias da periferia, instalando água, energia elétrica e esgoto em todas as favelas que eram dominadas pelo Cartel de Medellín. Depois, o principal investimento foi em projetos com aulas de esportes e cultura e a criação de centros de convivência nas favelas. Para combater a insegurança, a resposta não é investir em polícias, mas em espaço de convivência, diz ele. Em Medellín, segundo Melguizo, a cada 10 quarteirões, há uma grande biblioteca ou centro de esportes e cultura, para que as crianças e adolescentes tenham atividades educativas e prazerosas. Esses locais abrem os sete dias da semana, inclusive em feriados, das 8h às 20h - exceto aos domingos, quando funcionam até as 17h. O objetivo é dar qualidade de vida e oportunidades para as crianças, para que 10 a 20 anos depois elas não estejam na criminalidade.

Ele destaca que, além das obras, o envolvimento da população para usar e manter os espaços de lazer, cultura e esporte foi fundamental, justamente para evitar depredações.

O resultado desse trabalho a longo prazo foi a redução de mais de 90% dos assassinatos em Medellín, dos anos 1990 para cá.

No Brasil, o trabalho de Medellín inspirou estratégias postas em prática em Recife, que instaurou os Centros Comunitários da Paz (Compaz) em áreas mais carentes da cidade. A ação foi posta em prática ainda na gestão de Eduardo Campos, e segue em atividade até hoje.

— Lá tem uma rede de bibliotecas que não estão na Secretaria de Cultura, mas sim, de Segurança. Esses empreendimentos dependem da Secretaria de Segurança, que é um modelo muito interessante.

Questionado sobre o fato de Santa Maria já ter 50 homicídios só neste ano, 90% ligados ao tráfico, e sobre a forma de conter a violência em áreas mais pobres e violentas das cidades, ele questiona a forma como o trabalho é realizado:

— Quando um bairro é vítima de violência e nós enviamos policiais, o que estamos fazendo é incrementar o problema. O problema é gente armada, e o que enviamos são mais pessoas armadas. Quando existem intervenções no Complexo do Alemão, mandaram 200 policiais. Mas eu digo: mandaram 200 professores? Mandaram também 200 psicólogos? 200 trabalhadores sociais? 200 engenheiros e engenheiras? Mandaram 200 antropólogos? Só mandar a polícia, o que soluciona isso? Nada! — pontua.


Confira a entrevista completa




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