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Foto: Pedro Piegas (Diário)
Depois das primeiras cinco horas de debate, realizadas ainda na noite de quinta-feira, o Ministério Público e os assistentes de acusação voltaram, na manhã desta sexta-feira, a falar em plenário no júri da Kiss. A acusação sustenta a condenação dos quatro réus por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar). No momento de maior impacto, a promotoria mostrou vídeos dos corpos das vitimas dentro e fora da boate logo após o incêndio.
O primeiro a falar foi o advogado Amadeu Weinmann. Aos 86 anos, o criminalista conhecido como "Príncipe do Júri" integra a assistência da acusação. Ele fez um desagravo em nome da classe dos advogados criminalistas pelas ofensas da defesa ao Ministério Público durante o debate de quinta-feira.
- O que houve aqui não foi uma defesa, foi um ataque ao Ministério Público, ao Corpo de Bombeiros. Mesmo que houve displicência de outros órgãos, isso não isenta a culpa dos réus. Quem cala consente. Não tinha segurança, não tinha extintores de incêndio, havia lotação acima da capacidade, isso caracteriza o dolo eventual - reforçou o criminalista.
style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">Weinmann foi a plenário em uma cadeira de rodas para fazer a fala. Na semana passada, ele caiu no Foro Central, durante o julgamento.
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Na sequência, foi a vez do promotor David Medina da Silva quem argumentou aos jurados. Ele refutou as atitudes das defesas durante a primeira parte do debate. O promotor insinuou que as defesas dos réus fizeram "teatro" ao longo do julgamento para ganhar mídia. Primeiro, falou sobre a carta psicografada de uma vítima, apresentada pela advogada Tatiana Borsa, da defesa do ex-vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos:
- Nós não estamos aqui em um espaço religioso. Sabemos que muitos acreditam em Deus e em religião, mas esse não é o espaço.
Na carta psicografada, uma vítima pedia para inocentar os réus. Para contrapor, o promotor exibiu um trecho do depoimento de Delvani Brondani Rosso, sobrevivente, ouvido no quinto dia de júri. Na fala, Delvani falou que virou "prisioneiro do próprio corpo".
- A defesa trouxe uma carta de alguém que está morto. Eu vou mostrar agora a fala de alguém que está vivo (...) Nós fomos tratados aqui como carrascos, insanos. Quem causou essa prisão do Delvani? Como ele chegou a esse estado? Fogo. É simples. Quem colocou fogo? Quem permitiu que se colocasse fogo? - questionou.
LIVRO RASGADO
David também criticou a postura de Jean Severo, advogado do ex-roadie da banda, Luciano Bonilha Leão, ao longo do julgamento. Na quinta, ele rasgou o livro, de autoria do promotor, em plenário. No livro, David traz um conceito de crime doloso.
- Tem atitudes aqui que, na minha opinião, são inconcebíveis, como rasgar um livro - analisou.
DOLO EVENTUAL
O promotor relembra aos jurados os conceitos de dolo eventual e culpa, e relembrou as penas para cada um: o homicídio culposo vai de um a três anos de prisão; já por dolo, de seis a 20 anos.
- Quais cautelas foram tomadas? Nenhuma. O dolo é mero conhecimento de que a ocorrência do resultado é algo provável. Está havendo uma transferência injusta de responsabilidade para o poder público - destacou David.
ESPUMA
Por fim, a promotora Lúcia Helena Callegari reforçou os argumentos de David. Ela exibiu no telão um trecho de um documentário sobre a Kiss, onde frequentadores falavam sobre superlotação. A promotora também apresenta componentes e informações de segurança sobre a espuma que foi adquirida para a boate, para sustentar que réus foram alertados que espuma não funcionaria para revestimento acústico e, ainda, tem risco para saúde e é inflamável.
Lúcia mostrou também as notas fiscais da compra dos artefatos pirotécnicos. Na sequência, apresentou reportagem televisiva em que vendedor da loja onde Luciano comprou os fogos confirma que o réu adquiriu o sputnik e a 'chuva de prata' - que não são produtos para uso interno.