'Me apeguei ao conhecimento: ou eu lia, ou não teria nada' diz apenado ao lançar livro

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Renan Mattos (Diário)

"Enquanto eu lia tudo que me caísse nas mãos, sentia que não tinha passado aquele dia em vão na prisão", leu o delegado penitenciário regional Anderson Prochnow, no lançamento do segundo livro do apenado Damião Silva dos Santos, 57 anos, na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm). A frase contida em Predestinado a Sobreviver dá dimensão da relevância da produção da obra para muitos projetos de ressocialização da Susepe, bem como ao preso.

_ Que tenhamos muitos outros damiões _ disse Prochnow.

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Escrever sobre de si mesmo foi uma espécie de catarse para Damião.

_ O livro é de um ser humano que não tinha muitas opções, mas que escolheu pelo caminho errado. Vivo essa realidade (carcerária) há mais de 30 anos. Quando o professor me sugeriu um livro autobiográfico, eu não tinha nada de bom para mostrar. Recusei, mas depois de três meses comecei a escrever. Coloquei a podridão para fora e me senti mais leve. Escrevi sobre o aconteceu e as consequências de um exemplo para não ser seguido _ contou o autor.

O apenado que contou com a presença de um irmão, do filho e da ex-companheira, também foi ouvido por representantes do Executivo municipal, superintendência da Susepe, professores de Direito da UFSM, durante o coquetel organizado pela equipe técnica - psicólogas e assistentes sociais da Pesm, com apoio da direção da unidade.

_ É um dom e ele está sendo recompensado por isso, apesar de tudo o que aconteceu. A família guarda escritos dele desde quando era criança _ disse Rosane da silva 51 anos, ex-companheira e mãe do filho de Damião.

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HISTÓRICO
Preso aos 24 anos em decorrência das drogas ilícitas, Santos, em 1993, concluiu o Ensino Médio no Presídio Regional de Santa Maria. Em 1997, no regime semiaberto, ele prestou vestibular e foi aprovado em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), porém, não concluiu o curso. Mais tarde, retornou ao regime fechado, onde segue até hoje.

Conforme o defensor público Cássio Fernandes, que foi a ponte entre o apenado e a editora viabilizando a primeira obra, Odisseia do Hospício, em 2017, Damião pode progredir de pena e ingressar no regime semiaberto no ano que vem. Desde o ano passado, Damião participa do projeto de Remissão pela Leitura, em que a cada obra lida ao mês, são diminuídos quatro dias de pena.

 _ É um leitor voraz, procura ler sobre legislação, Direito e literatura. Tudo que escreve é em uma cela com mais nove apenados. Ele é esforçado _ pontua o diretor da Pesm, Fábio Rosso.

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PRODUÇÃO
Foram impressos 120 exemplares, que custam R$ 25 cada. Desses, 25 revertem para o apenado e os demais à editora.

Quem deu vida aos livros - todos feitos à mão e em papelão - foi mais uma vez a editora Vento Norte Cartonero. Ao autor, foram reservados 25 exemplares.

_ Depois o primeiro livro, eu fiquei com um compromisso moral. Não tem como esquecer o Damião. Ele tem uma escrita que seduz o leitor, tem autocrítica e pequenas reflexões filosóficas. Para ele, a palavra escrita é uma tábua de salvação _ analisa Fernando Eslava, coordenador editorial.

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E um terceiro livro está por vir. Desta vez, a edição será uma obra ficcional.

_ Nunca sonhei em publicar livros. É inacreditável. Além do apoio de algumas pessoas, isso ocorreu porque eu sempre estudei . Não tinha outra saída aqui. Me apeguei ao conhecimento: ou eu lia ou não teria nada. Isso se tornou um vício. Não consigo parar de escrever, parece que a caneta anda sozinha, as ideias vão vindo _ completa Damião.