Foto: Pedro Piegas (Diário)
Borba se recupera da primeira cirurgia no pé direito. Ele ainda deve passar por outros procedimentos
Acompanhado da família e do advogado Thiago Carrão em um quarto no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo, o policial militar Luís Henrique Santos Borba, 34 anos, driblava a emoção e as fortes dores enquanto conversava com a reportagem do Diário, na manhã desta quinta-feira. Ele também tem recebido visitas constantes dos colegas da Brigada Militar (BM). Passados quatro dias - desde que sofreu um atropelamento na Rua Tamanday, enquanto trabalhava na Operação Balada Segura - ele ainda diz que não consegue acreditar no que aconteceu.
Borba é casado e pai de um filho de 9 anos, atua como policial há uma década e, atualmente, é soldado vinculado ao 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon). Segundo ele, duas situações marcaram sua trajetória profissional, entre elas, o incidente ocorrido no último domingo.
- Trabalhei no incêndio da boate Kiss. Aquela foi a experiência mais angustiante que tive. Essa, a mais dolorosa em todos os sentidos. Foram os dois piores momentos dentro da minha profissão - resume.
Balada Segura já flagrou 133 motoristas embriagados neste ano
Segundo o médico-traumatologista que acompanha Borba, ele sofreu uma fratura complexa no pé direito, na altura do tornozelo. Ele também tem vários ferimentos pelo corpo. Nesta quarta-feira, ele passou por uma cirurgia e ainda não há previsão de alta.
- Ele teve uma fratura-luxação do tálus, que possivelmente deixará sequelas. O tratamento está sendo feito com analgesia e preparação para um novo procedimento - explica Lotti.
Borba também desabafou ao falar dos momentos de pânico que vivenciou e a luta pela própria vida.
O CASO
Um jovem de 26 anos atropelou Borba após depois de ter furado uma blitz da Operação Balada Segura na Rua Tamanday por volta das 22h30min de domingo. Durante a tentativa de fuga, o motorista também colidiu com outro carro. Segundo a Guarda Municipal (GM), o jovem, que dirigia um Corsa, não obedeceu quando um dos agentes da Coordenadoria de Trânsito e Mobilidade Urbana (CTMU) pediu que ele parasse. Ao seguir com o veículo, ele atropelou um policial, que ficou preso sobre o capô do carro por cerca de 200 metros até que o Corsa parou depois de bater em outro carro.Com a colisão, o policial militar caiu embaixo do carro.De acordo com a BM, o jovem apresentava sinais de embriaguez. Ele teve a prisão deferida na última segunda-feira, sendo encaminhado à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm).
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Na tarde desta quinta-feira, a reportagem ligou para o escritório de Jéssica Toniolo, advogada do jovem que dirigia o carro. As ligações não foram atendidas. Pelo Facebook, também não houve retorno até as 19h.
Confira a entrevista*
Diário de Santa Maria - Passados quatro dias, qual a tua percepção de tudo que aconteceu?
Luís Henrique Santos Borba - Difícil, estou com pinos no pé. Difícil acreditar...mas voltei e estou aqui
Diário - Em 10 anos trabalhando como policial já tinha passado por acidentes ou atropelamentos?
Borba - Eu não. Já houve alguns transtornos, pessoal que tenta furar a blitz, mas nada comigo. No domingo, estavam autuando o pessoal que estava estacionado em horário proibido, aí iam passando para fazer o teste de etilômetro e documentação. A gente só estava para dar apoio, cuidando a área. Trabalho no Balada Segura há bastante tempo.
Diário - Mas motorista do carro acabou desrespeitando a blitz. Como foi a tua atuação?
Borba - Ouvi quando o pessoal estava gritando: aborda, aborda. Aí, a um metro de distância, eu estendi a mão para que ele parasse. Ele reduziu a velocidade, mas logo acelerou para cima de mim. Foi tudo muito rápido, segundos. Mas como não bati a cabeça, lembro bem. Só que, quando percebi, já tinha acabado toda situação, e eu estava debaixo o carro.
Diário - Do que tu te lembras?
Borba - Que ele tocou duas vezes por cima de mim. No momento em que avançou com o carro, ele poderia ter manobrado e fugido, mas ele tocou reto. Comecei a atirar na parte do capô para o carro parar de funcionar e ver se atingia alguma parte mecânica, o motor, a bateria. Dei 1, 2 , 3, 4 (tiros), aí, ele bateu em um carro. Na segunda vez, caí longe, com as costas no chão. Mas (o motorista) alinhou a direção e veio parar em cima de mim. Ele não queria fugir, queria me matar. Fui para cima do para-lamas. Protegi o tronco e a cabeça, mas o carro era rebaixado e trancou minhas pernas e começou a me arrastar. O colete me protegeu bastante, e os coturnos, também. Se fosse um calçado normal, eu estaria sem os pés. Comecei bater no vidro com a arma na mão. Tinha película, não via nada. A minha intenção era cessar a ação, porque, se eu quisesse atirar para matar, teria feito. Tive várias oportunidades.
Diário - E você atirou?
Borba - Minha última medida foi trocar de mão e atirar no vidro. Parece que pegou de raspão na mão dele, não sei...
A gente nunca sai de casa para matar, mas, na hora, lembrei da minha família e pensei: tenho que voltar para casa, isso não pode estar acontecendo.
Diário - O que fica de tudo isso?
Borba - Na minha atividade, presenciei muitas situações com envolvimento com álcool. É (lei) Maria da Penha, briga de vizinho e acidentes. Embriaguez no trânsito não tem explicação. Mas o pior é a índole das pessoas, que ainda podem usar o subterfúgio: "eu estava embriagado, não vi".
*A entrevista durou cerca de 20 minutos e teve de ser interrompida por conta do estado emocional de Borba, que não conseguiu continuar os relatos