Foto: Webmapa Movimentos de Massa RS (Reprodução)
Mapa online mostra áreas que alagaram (em azul) e os 8 mil pontos de deslizamento (em vermelho)
Nas imagens de satélite em alta definição, basta dar um zoom para ver que o Estado foi recheado de cicatrizes em tons de terra. Onde era tudo verde, de mata, rastros de destruição de deslizamentos, que provocaram parte das 182 mortes das enchentes.
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Com base nessas imagens, um estudo liderado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já identificou 8 mil pontos de deslizamentos em todo o Estado, que foram provocados pelas enxurradas de abril e maio. Esse número é quase o dobro do antigo recorde brasileiro, em 2011, no Rio de Janeiro.
Porém, segundo o pesquisador Clódis Andrades Filho, como o trabalho de análise das imagens de satélite ainda não terminou, a estimativa é chegar a 12 mil cicatrizes de deslizamentos no Estado. Até o momento, em números totais, Caxias do Sul é a que teve mais danos, com 494 deslizamentos, seguida por Roca Sales, com 340, e Silveira Martins, com 336. Em Santa Maria, onde só 30% da área foi mapeada, são 117 deslizamentos até agora, ficando na 17ª colocação. Porém, Silveira Martins é a campeã do Estado em escorregamentos de encostas por densidade, com 2,81 casos a cada quilômetro quadrado.
– Esse evento ocorrido no Rio Grande do Sul é inédito no Brasil. Como já chegamos a 8 mil cicatrizes mapeadas decorrentes desse extremo metereológico, essa marca já superou aquilo que a gente tinha como referência de maior evento no Brasil, que foi na região serrana do Rio de Janeiro, ocorrido em 2011, onde foram mapeadas 4,3 mil cicatrizes de movimentos de massas – diz Andrades, que lidera essa pesquisa no Instituto de Geociências da UFRGS em parceria com o Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia.
Segundo ele, além de ser uma marca histórica em termos de Brasil, esse número de deslizamentos é muito superior ao último registro aqui no Estado, em 2023, quando na região de Rolante, foram 335 cicatrizes.
Mas qual a finalidade desse estudo? Não é só para contabilizar os estragos. Esse trabalho foi útil para a Defesa Civil e socorristas logo nos primeiros dias das enchentes, pois as informações das imagens de satélite em alta definição ajudaram nos resgates de pessoas isoladas – e segue sendo usada para auxiliar buscas por desaparecidos. Além disso, o trabalho tem várias outras utilidades.
Segundo ele, depois da Serra gaúcha, o Vale do Taquari e a Quarta Colônia foram as regiões que mais tiveram deslizamentos. Alguns deles muito graves, chegando a 2 quilômetros de extensão. Em vários pontos, o solo ainda segue instável e sujeito a novas movimentações de massa. Por isso, o mapa ajudará também prefeituras e Defesas Civis a terem uma visão detalhada da situação em cada cidade, permitindo o monitoramento de áreas com maior risco, para definir planos futuros e obras.
O mapa é liberado e pode ser acessado aqui.
Outras utilidades do estudo e as campeãs em cicatrizes
- Já foi usado para ajudar a socorrer vítimas e segue em uso para achar desaparecidos;
- Auxilia no monitoramento e avaliação de áreas de risco geológico, onde podem ocorrer novos deslizamentos. Ajuda a definir a necessidade de retirar moradores ou realocar estradas;
- Prefeituras podem usar as imagens para comprovar calamidade e até fazer pedidos de verbas para obras;
- Mapa único, com manchas de inundação e áreas de risco (deslizamentos) para identificar moradores atingidos pela enchente;
- Ajudará na definição de projetos de novas obras nos municípios e em fazer planos futuros para redução de riscos;
Cidades com mais deslizamentos (até agora)
Cidade | Área já mapeada | Nº de cicatrizes |
1ª) Caxias do Sul | 50% | 494 |
2ª) Roca Sales | 95% | 340 |
3ª) Silveira Martins | 100% | 336 |
4ª) Bento Gonçalves | 80% | 329 |
15ª) São João do Polêsine | 100% | 145 |
16ª) Passa Sete | 20% | 137 |
17ª) Santa Maria | 30% | 117 |
23ª) Agudo | 15% | 99 |
25ª) Faxinal do Soturno | 70% | 86 |
Cidades com maior densidade de deslizamentos (até agora)
Cidade | Área já mapeada | Cicatrizes por km² |
1ª) Silveira Martins | 100% | 2,81 |
2ª) Santa Tereza | 90% | 2,17 |
3ª) São João do Polêsine | 100% | 1,85 |
20ª Faxinal do Soturno | 70% | 0,5 |
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