Renan Mattos
Prefeito reeleito de Restinga Sêca com mais de 76% votos em 2020, Paulo Salerno (MDB) assumirá nesta segunda-feira um novo desafio. Aos 38 anos, ele, que foi vereador aos 20 anos, presidirá a Federação das Associações de Municípios do Rio Grane do Sul (Famurs), principal entidade representante dos gestores municipais no Estado. A posse ocorrerá em casa, no Recanto Maestro, às 17h, onde ocorrerá o 40º Congresso de Municípios do Rio Grande do Sul, que vai até a quarta-feira. A última vez que um representante da região de cobertura do jornal ocupou a presidência da Famurs foi com Gil Almeida (MDB), ex-prefeito de Cacequi, que deixou o cargo em 1995. A seguir, confira a entrevista completa que Paulo Salerno concedeu ao Diário.
Diário de Santa Maria – Depois de quase 30 anos, Santa Maria tem um presidente da Assembleia eleito e, agora, aos 27 anos, a região de cobertura do jornal, terá um presidente da Famurs. Na sua avaliação, qual é motivo para a região levar tanto tempo para ter uma liderança em cargos estaduais importantes?
Paulo Salerno – Eu percebo que a nossa região está evoluindo, cada vez mais, politicamente. Sinto que a nossa população começa a escolher representantes que realmente possam fazer a diferença em nossos municípios. Mas é preciso sempre fortalecer para os nossos moradores a importância de termos representantes que estejam próximos dos municípios da região.
Quando decidi lutar pela presidência da Famurs, eu tive de forma imediata o apoio de 33 municípios da Região Central que me deram todo o apoio. Tive ao meu lado prefeitos de diversos partidos que lutam pelo desenvolvimento da região. E isso mostra que os gestores deste mandato já possuem uma visão diferente e lutam pelo fortalecimento regional. A partir desta base, é que comecei a visitar as demais regiões do Estado e pude conhecer de perto cada realidade. E agora, com esse conhecimento, pretendo buscar as soluções para todas as necessidades, priorizando a nossa Região Central.
A presidência da Famurs acaba sendo a consequência de todo esse trabalho iniciado na gestão como prefeito de Restinga Sêca. Claro que minhas gestões como presidente do Consórcio e da própria Associação foi aumentando esta vontade em função do acúmulo de experiência. O fortalecimento da região, a união que criei entre os prefeitos da Região central, foram fatores que ajudaram a construir o momento em que estamos agora. A aproximação que tive com a Famurs neste último ano em que fui presidente da câmara temática de inovação, tudo isso foi se somando para esta motivação de querer ser presidente da federação. Estes fatores me fizeram entender que todo esse trabalho nos dava a condição de presidir a Famurs. E de disputar dentro do MDB essa oportunidade.
É uma oportunidade única para desenvolvermos boas práticas que podem ser rapidamente aplicadas nos municípios do RS. A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul é um dos órgãos mais importantes do nosso Estado. É através dela que as prefeituras encontram apoio, uma vez que a entidade representa e promove os municípios gaúchos, defendendo a causa municipalista e atuando de maneira pluripartidária. Me sinto pronto para assumir esse desafio, pois quero fazer a diferença na vida de todos os moradores dos municípios gaúchos.
Quanto as representações da região tanto na presidência da Assembleia Legislativa, quanto na Presidência da Famurs são frutos de um trabalho que, às vezes demora a acontecer e são cíclicos, entendo que estamos vivendo um novo ciclo de liderança da nossa região junto ao nosso estado.
Diário – O senhor terá um mandato de um ano na Famurs, período que passa rápido. Por isso, que ações o senhor pretende priorizar?
Já nos primeiros dias de gestão como presidente da Famurs eu entro preocupado com a aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022 que tem potencial impacto de R$ 15 bilhões por ano aos Municípios brasileiros, sendo R$ 5 bilhões perdidos somente aqui no RS, caso o projeto chegue a se transformar em norma legal. O impacto no mandato dos atuais prefeitos totaliza R$ 45,3 bilhões, começando neste ano, sendo R$ 8,67 bilhões apenas de junho a dezembro. Vamos trabalhar na Famurs ao lado da CNM para evitar que essa proposta avance. O texto aprovado não prevê nenhum recurso efetivo para compensar os Municípios pela perda de R$ 15 bilhões anuais. Já estou dialogando com o presidente da CNM, Paulo Ziukoski para unificarmos as entidades municipalistas nesta importante luta.
Já na arrancada, temos esta missão, mas são muitos os desafios que vou priorizar. Quero fazer com que a Famurs avance fortemente na questão da inovação. Quero aproximar a Famurs das clusters de inovação. Será uma pauta que tratarei com prioridade. Desde os menores municípios, até os maiores, vou trabalhar muito nesta pauta de inovação. Principalmente após o evento South Summith, onde percebi que as pessoas despertaram para este movimento da nova economia. Por isso, precisamos fortalecer também a questão da educação, para formarmos essa mão de obra qualificada para ocupar os espaços e empregos que vão surgir, que são frutos desta nova mentalidade mundial que a inovação provoca positivamente. O mercado mudou. E muitas vezes não temos mão de obra para aproveitar essas oportunidades. Temos que desenvolver essas ferramentas. Ou seja, inovação casada com educação. Uma união que forme pessoas. Quero também aumentar os repasses para os municípios na questão da saúde, olhar com atenção para a questão dos repasses aos hospitais, temos que vencer a pauta do piso da enfermagem, ninguém é contra o piso da enfermagem, mas não dá para admitir que somente os municípios paguem pelos pisos nas diferentes categorias. Os municípios possuem orçamentos prontos. Precisamos debater com o governo federal. Vou também cuidar dos municípios que não possuem acesso asfáltico. Quero acompanhar de perto estas obras e construir políticas que possam de fato acelerar a vinda destes recursos. Na vida pública é preciso encarar desafios cada vez maiores e de peito aberto. Vou ter um olhar atento para a busca do desenvolvimento hidroviário e ferroviário em nossos municípios. Fazer o enfretamento necessário para encarar estas pautas.
Será preciso trabalhar com coletividade, pois só com o trabalho colaborativo entre os gestores é que os municípios seguirão na luta pela defesa de seus ideais, de suas pautas e pelas suas necessidades.
Diário – Como presidente da Famurs, o senhor representará prefeitos de todo Estado, mas que reivindicações do centro do Estado o senhor pretende dar uma atenção especial?
Vamos priorizar a efetivação do funcionamento pleno do nosso Hospital Regional. Já tivemos avanços, mas precisamos batalhar fortemente para que esta unidade tenha um atendimento completo e possa atender toda a nossa população da região central. Também vamos dar uma atenção especial para os municípios da nossa região que ainda não possuem acesso asfáltico. Desenvolveremos um trabalho especial nesta área, através de uma Câmara Temática que trabalhe de forma específica a vinda de recursos. O acesso asfáltico é preponderante para o progresso e o desenvolvimento das nossas comunidades aqui na região central, sendo que algumas aguardam há mais de vinte anos pela ligação asfáltica. Se contemplados, os municípios ganharão maior integração com as demais regiões e acesso a determinados bens e serviços; os custos de escoamento da produção se tornarão menos onerosos; além de proporcionar maior conforto e rapidez no trânsito e qualidade vida para a população. Sou engenheiro agrônomo por formação, bacharel em Direito e atuo na iniciativa privada, na área da agronomia, e também como produtor rural em Restinga Sêca. Portanto, conheço muito bem a região. Entendo e conheço muito da realidade do nosso homem do campo, das dificuldades que temos, seja na infraestrutura, seja nos preços, na condição de conseguirmos seguir produzindo no campo, no agro brasileiro.
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Diário – Recentemente, o senhor integrou uma comitiva da Famurs à Europa, quando foram assinados alguns acordo de cooperação? Que benefícios práticos essa cooperação pode trazer para os municípios?
Nossa missão internacional nas cidades de Porto, Lisboa e Braga, em Portugal, e nas localidades de Madrid e Barcelona, na Espanha foi muito importante para os municípios gaúchos. Firmamos diversos acordos com agências de desenvolvimento dos países europeus com o objetivo de gerar oportunidades para os moradores dos municípios gaúchos nas áreas de tecnologia, turismo e investimentos. Em Porto, tivemos uma aula sobre como Portugal se transformou em uma potência turística e o bom exemplo dos cuidados com o patrimônio cultural com o Diretor do Museu Nacional Soares dos Reis de Porto, António Ponte. Inclusive o especialista português António Ponte vem da Europa e estará aqui em Restinga Sêca para o nosso 40º Congresso dos prefeitos da Famurs durante a nossa posse. Além da palestra que o Dr. Ponte vai apresentar aos prefeitos gaúchos, nosso convidado especial também vai conhecer a nossas potencialidades turísticas aqui de Restinga Sêca e da quarta colônia. Vamos mergulhar em nossas áreas de desenvolvimento turístico para buscarmos aprimorar os nossos destinos e gerar bons negócios, a partir do modelo de Portugal. Desde 2010, o planejamento português passou a inserir nas escolas o desenvolvimento cultural, turístico e a valorização dos patrimônios históricos. E quando o povo português passa a se apropriar de sua história, aumenta sua capacidade de hospitalidade e boa recepção aos turistas. E essa é uma tendência também aqui no Rio Grande do Sul que queremos aprimorar.
Destaco aqui também algumas visitas técnicas que realizamos em startups e programas na área de educação em Lisboa. Chamo a atenção aqui para a startup Academia de Código que forma programadores e coloca os alunos empregados no mercado de trabalho em um período de 04 meses. Há uma forte parceria entre o governo português, as empresas que contratam os profissionais e a startup. Uma união que gera milhares de empregos através de boas parcerias. Também conhecemos um sistema educacional que trabalha o desenvolvimento das crianças em matérias como lógica, matemática e raciocínio rápido. O sistema Ubbu em Portugal ensina ciência da computação e programação usando vídeos interativos, jogos divertidos e projetos desafiadores para as crianças. É um sistema que quero levar para os alunos de Restinga Sêca, pela grande evolução educacional que o método apresenta para as crianças portuguesas. Em Braga, assinamos um importante acordo de cooperação com a agência de desenvolvimento INVESTBRAGA em Portugal. O protocolo busca o desenvolvimento de novas oportunidades para os 497 municípios gaúchos. Fomos recepcionados pelo diretor executivo da Invest Braga/ Altice Fórum Braga, Carlos Silva e pelo diretor da Agência de Desenvolvimento portuguesa, Gil Carvalho. Foram cerca de três horas de trabalhos técnicos desenvolvidos entre os integrantes da agência portuguesa e os prefeitos que integraram a missão.
Retornando para Porto, e observamos uma cidade de negócios, empreendedorismo, inovação e cultura, aberta a empresas e talento de todo o mundo. Mas, afinal, como utilizar o case de Porto, cidade de Portugal, nos municípios do Rio Grande do Sul? Com este objetivo, assinamos um termo de cooperação técnica com a agência de desenvolvimento InvestPorto. Fomos recepcionados e desenvolvemos a parceria com a responsável pelo InvesPorto, Claudia Soares, pelo Vereador do Pelouro da Economia, Emprego e Empreendedorismo Ricardo Valente e pela adjunta do vereador, Maria João Sá. Depois, nos deslocamos para Barcelona, na Espanha. E firmamos um termo de cooperação técnica entre os municípios gaúchos e a agência de desenvolvimento Catalonia Trade & Investment. A recepção da agência espanhola foi realizada pelo Gerente de Promoção Externa e diretor de Investimentos do Governo da Catalunha, Roger Costa. A agenda foi articulada com o governo federal brasileiro, através do Ministério da Economia. A Catalonia Trade & Investment é uma agência pública que trabalha para atrair investimento estrangeiro direto para Barcelona e Catalunha, promovendo a área como um local de negócios atraente, inovador e competitivo.
Na sequência, em Madrid, estivemos com a agência de desenvolvimento Madrid Investment Atrraction. Nossa comitiva gaúcha foi recebida pelo diretor da agência espanhola, Daniel Henrique e pela Secretária Adjunta do departamento, Mônica Gomes Royuela. Ao final da reunião, a Famurs e Madrid Investment Atrraction assinaram um acordo de cooperação técnica entre as instituições. Uma das principais medidas é a oferta de seis meses de instalação gratuita em Madri para os gestores que estão chegando. Ou seja, a agência disponibiliza local e estrutura para o fortalecimento inicial dos projetos. Entre os cases, gigantes como Toyota, Microsoft e Google. Madri, hoje, é o principal motor da economia da Espanha. O aeroporto Madrid Barajas é o segundo da Europa em capacidade. Outros destaques estão na rede ferroviária e no desenvolvimento do transporte rodoviário. Além disso, há cerca de 300 estações de metrô. Percebemos uma ótima fórmula de fomento para as novas empresas que estão se instalando. Há todo um trabalho de gestão e acompanhamento até o negócio obter independência, credibilidade e sucesso. E queremos adotar esse modelo aqui em nossos municípios. Nossa última agenda foi com o Embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro Silva na Embaixada do país em Lisboa, onde fortalecemos institucionalmente parcerias entre a Famurs e o governo federal em Portugal. E deixamos as portas abertas para novas parcerias entre os nossos países.
Diário – Qual a importância da realização do Congresso de Prefeitos na região e quais os temas que o senhor considera mais relevantes e serão debatidos no evento?
Teremos a oportunidade de mostrar as potencialidades de Restinga Sêca e da nossa região para mais de 300 prefeitos gaúchos. Ou seja, são 300 municípios conhecendo o novo potencial turístico da região. Teremos também a presença do governador do Estado com boa parte da equipe do seu governo. Portanto, boa parte do Rio Grande do Sul vai poder observar como Restinga é uma terra boa de se viver. Estamos muito bem localizados. Perto de Santa Maria. Perto de Porto Alegre. Tenho muito orgulho de tudo o que construímos até hoje em Restinga. Ali nasci, ali estudei, ali dei meus primeiros passos. Estamos deixando de ser um município exclusivamente agrícola, com algumas indústrias para passarmos a ser uma cidade que gera desenvolvimento a partir do turismo, que possui virtudes e qualidades em suas paisagens, formação geomorfológica, temos Pampa, temos Serra, Mata Atlântica, e uma formação italiana, germânica, negros e portugueses, assim geramos nossa riqueza cultural na formação do nosso povo. E com o Congresso teremos uma grande oportunidade em desenvolvermos parcerias.
Temos um parque termal, já temos a formação de uma boa gastronomia, bons hotéis, faculdades com diversos cursos importantes, estamos formando jovens na área de gastronomia e turismo. Estamos construindo um legado forte para os próximos 20 anos. Os representantes do nosso Estado vão ver de perto a grande evolução que estamos construindo.
Na área rural, temos além do arroz e da soja, do tabaco, gado de corte e gado de leite, temos agora o desenvolvimento do azeite de oliva, das azeitonas, a região cresce muito. Tenho orgulho deste trabalho. É uma cidade do presente e ao mesmo tempo do futuro. E esse futuro começa com a realização do Congresso em nosso município.
Durante os dois dias de qualificação, está previsto na programação o debate sobre pautas nacionais municipalistas, a importância do patrimônio cultural para o desenvolvimento sustentável, integração tributária e repartição do ICMS, cidades como ecossistemas de inovação e empreendedorismo, retomada do turismo, participação da mulher na gestão municipal e muito mais.
Na quarta-feira, ainda haverá uma apresentação especial do empreendedor e especialista em Gestão da Inovação, Paulo Renato Ardenghi Rizzardi. O CEO da Wise Innovation vai falar sobre como implementar estratégias de inovação que permitam a construção das cidades do futuro no presente.
Diário – O senhor chegou a ser cogitado para concorrer a deputado nesta eleição. Depois de concluir o mandato na prefeitura de Restinga Sêca, o senhor em concorrer a outros cargos?
Fico muito feliz em ter meu nome cogitado com a nobre missão de ser candidato ao cargo de deputado pelos moradores de Restinga Sêca, pela população da nossa região central, pela imprensa e por diversas entidades representativas. Vou concluir o meu segundo mandato em Restinga com muitas entregas para a nossa população. Depois de ser prefeito reeleito em Restinga Sêca, presidente da AMCENTRO, associação dos municípios da Região Central, presidente também do CIRC – Consórcio Intermunicipal da Região Centro do RS, chego agora para comandar a Famurs que representa os 497 municípios do RS. Com toda essa experiência adquirida, eu afirmo com toda a tranquilidade que vou continuar buscando melhorar a vida das pessoas, através da política. Quando eu terminar o mandato de prefeito, eu e meu grupo de apoiadores vamos analisar qual o melhor cenário a ser construído. Neste momento, a nossa região tem a presença do MDB na Assembleia Legislativa com o mandato do meu grande amigo, o deputado Beto Fantinel. Por sermos do mesmo partido vamos construir de maneira conjunta os passos à frente e uma possível dobradinha para representar a nossa região na Assembleia e na câmara dos deputados. Seria uma parceria que fortaleceria ainda mais a nossa região com atração de novos investimentos, inovação e geração de boas oportunidades para a nossa gente. Mas, certamente estarei dentro da política colaborando com a nossa região.
Trajetória de Paulo Salerno
Tem 38 anosÉ engenheiro agrônomo e bacharel em direitoÉ produtor ruralFoi eleito vereador aos 20 anosÉ o prefeito reeleito em Restinga SêcaFoi presidente da Associação dos Municípios da Região Centro (AMCentro) e presidente do Consórcio Intermuncipal da Região Centro (Circ)
Jaqueline Silveira, [email protected]
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