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Foto: Pedro Piegas (Diário)
Quando falamos em cientistas, nosso imaginário salta para as referências de filmes ou desenhos animados, com homens de jaleco e óculos, cabelo desarrumado, com jeito de louco e antissocial. Esse estereótipo, no entanto, é bem diferente do que se vê na realidade. Um dado divulgado recentemente chamou a atenção e colocou a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em evidência perante a comunidade científica internacional: a universidade é a 10ª instituição de Ensino Superior do mundo com maior produção científica realizada por mulheres.
O levantamento foi feito em 2019 pelo Centro de Estudos da Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, na Holanda. No Brasil, a UFSM fica em terceiro lugar, atrás apenas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), segunda colocada no ranking, e da Universidade de São Paulo (Unifesp), na oitava posição. O ranking, denominado Ranking de Leiden, levou em consideração artigos publicados por mais de 900 universidades do mundo todo.
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De um total de 2.031 docentes, 942 (46,4%) são mulheres na UFSM. Destas, 83% possuem doutorado. Embora o número de docentes mulheres seja menor que o de homens, a autoria de artigos feitos por mulheres é superior a de homens na instituição. A pesquisa apontou a existência de 11.227 artigos produzidos por ambos os gêneros na UFSM no período analisado. Desse número, 50,5% são de autoria feminina, o que equivale a 5.671 artigos, grande parte deles na área das Ciências Biomédicas e da Saúde.
style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)
ÚNICA PESQUISADORA NÍVEL A1
Os mais de 400 artigos produzidos pela professora Cristina Wayne Nogueira ao longo de quase 30 anos como professora na UFSM renderam a ela o nível A1 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em excelência de produtividade em pesquisa - até o final de 2019, ela era a única mulher entre os 11 pesquisadores da UFSM que chegaram ao nível máximo da avaliação de produção científica.
style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">- A nível de instituição, eu costumo dizer que as mulheres são tão respeitadas como os homens. Mas quando a gente pensa em critérios mais subjetivos, quando as mulheres podem ser indicadas a prêmios, por exemplo, elas são menos favorecidas. Como a maioria dos postos ainda são ocupados por homens, a gente percebe que eles também costumam indicar homens a esses prêmios - avalia a pesquisadora.
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No laboratório coordenado por Cristina, são feitos estudos de toxicologia e farmacologia envolvendo moléculas orgânicas que possuem selênio. Essas moléculas são testadas em modelos experimentais. O objetivo é que, no futuro, eles possam desenvolver algum produto que ajude a combater doenças como diabetes, obesidade, estresse agudo e crônico.
- Aqui na área da saúde, há muitas mulheres. Historicamente, essa sempre foi uma área onde a presença feminina é maior que a masculina. No meu grupo de pesquisa, de cerca de 30 alunos, 70% são meninas, entre iniciação científica, mestrado e doutorado. Esses dados a nível institucional, que colocam a UFSM em uma posição importante a nível mundial, dão visibilidade pra que a gente possa inspirar outras mulheres - pondera Cristina.
Além do nível de excelência em pesquisa, a professora também coleciona premiações na área: prêmio Scopus, em 2010; Fapergs e como pesquisadora destaque da UFSM, em 2017; e prêmio da associação dos professores da UFSM, em 2019.
Para as alunas, ela é referência como pesquisadora e, acima de tudo, como mulher.
- A gente costuma dizer que ela rompe as barreiras de professora com a gente, porque muitas vezes é nossa amiga e mãe. Tem uma empatia gigantesca. Tem dias que a gente está com problemas pessoais, e ela é a primeira a estender os braços. Ela sempre diz que, acima de tudo, forma pessoas, e isso é verdade - destaca a estudante do 7º semestre de Farmácia, Milene Trindade.
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Foto: Fabiano Marques (Diário)
QUEBRANDO BARREIRAS NA ENGENHARIA
Se a área da saúde é formada por muitas pesquisadoras mulheres, o mesmo não ocorre nos cursos da área de tecnologia.
A professora Luciane Neves Canha é uma das poucas no curso de Engenharia Elétrica. No Departamento de Eletromecânicae e Sistemas de Potência, onde atua, há apenas quatro mulheres entre os 14 profissionais.
Luciane pesquisa o gerenciamento de recursos energéticos distribuídos e geração renovável de energia elétrica, com armazenamento de energia e veículos elétricos, que envolve painéis fotovoltaicos, geração eólica e biomassa. Já participou de diversas atividades em outros Estados e congressos internacionais. Ela é pesquisadora nível 1D do CNPq.
- Ser pesquisadora é um desafio, mas é a realização pessoal de algo que eu sempre quis, que é trabalhar na parte de inovação, tecnologia. Eu digo que a gente não é pesquisadora oito horas por dia. A gente dorme e acorda pensando na pesquisa. Os projetos fora do Estado envolvem uma quantidade maior de deslocamento. Na área da tecnologia, é necessário ir para fora do país buscar novidades, o que implica também ficar mais tempo longe da família - afirma.
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Para ela, os números apresentados pelo ranking refletem a qualidade da pesquisa desenvolvida na UFSM e a ocupação dos espaços de pesquisa pelas mulheres na universidade.
- Eu acho extremamente importante que se divulgue essas informações para que as meninas tenham em quem se espelhar e perceber que a área tecnológica não é essencialmente voltada ao público masculino - analisa a pesquisadora.
*Colaborou Janaína Wille