educação

Ministro da Educação diz que errou ao pedir que escolas filmem crianças cantando o hino

Michelli Taborda*

Foto: Eduardo Anizelli (Folhapress)

Um dia depois que uma carta enviada (foto ao lado) pelo Ministério da Educação (MEC) às escolas pedindo que as crianças cantassem o hino, e os professores gravassem as cenas, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, reconheceu ter cometido um erro ao pedir que escolas filmassem as crianças cantando o hino nacional, sem autorização dos pais, em uma mensagem que termina com o slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!".

- Percebi o erro. Tirei esta frase, tirei a parte correspondente a filmar crianças sem autorização dos pais. Se alguma coisa for publicada, será dentro da lei, com autorização dos pais - disse Vélez, após sair de uma visita de cortesia ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Indagado se já avisou as escolas sobre a nova posição do MEC, o ministro disse apenas que "saiu de circulação" e, cercado por seguranças e assessores, não respondeu a nenhuma das perguntas feitas por jornalistas que o acompanharam durante o trajeto de alguns metros entre a presidência do Senado e o plenário da comissão de Educação, onde ele prestará esclarecimentos a senadores ainda nesta terça.

A CARTA
Na segunda-feira, o jornal O Estado de S. Paulo vazou a notícia da carta do ministro com o pedido às escolas. Depois que a carta veio à tona, foram inúmeros os relatos de revolta na internet, alegando que o pedido do ministro se tratava de doutrinação religiosa e política. 

Na rede pública de Santa Maria, ainda não há registros de escolas que tenham recebido o e-mail enviado pelo ministro, nem com o primeiro pedido nem com a retificação anunciada nesta terça pelo próprio ministro. A 8ª Coordenadoria de Educação afirmou que ficou sabendo do episódio por meio da imprensa e disse que, até o final da manhã desta terça-feira, não havia sido recebido nenhum documento ou e-mail sobre o pedido. A Secretaria de Educação também alegou que não recebeu nenhuma comunicação do Ministério da Educação até o momento.

Em nota, o Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) disse que a iniciativa do ministro causou espanto. Além disso, o órgão entendeu a atitude como ilegítima. Leia a íntegra da nota:

"Educação acima de tudo

A educação pública brasileira tem imensos desafios pela frente. O investimento na qualificação de escolas, na valorização da carreira docente, aumento de vagas na educação infantil, a permanência das crianças nos bancos escolares, a garantia da aprendizagem, entre outros. O Ministério da Educação é o órgão que tem a missão de propor e conduzir políticas neste sentido. Seu papel é fundamental para que o país avance enquanto sociedade. 

Causa espanto a iniciativa do ministro da Educação do Governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, de utilizar suas prerrogativas para propor às escolas atos demagógicos e ilegítimos com fins meramente políticos e ideológicos. Por atos ilegítimos, entenda-se

- propor a leitura de mensagem em que se destaca o slogan da campanha eleitoral do presidente Bolsonaro, em clara improbidade administrativa;

- ignorar o laicismo constante na Constituição Brasileira;

- se utilizar da imagem de alunos para finalidades ideológicas.

O Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria repudia qualquer interferência no trabalho das escolas e dos professores que tenha implicações outras que não a de qualificar a aprendizagem. O Hino, a Bandeira e os demais símbolos nacionais não devem ser utilizados para fins político-ideológicos. Seu desrespeito travestido de valorização mais tem a prejudicar os valores que eles representam do que o contrário.

Mesmo após o recuo do ministro, a orientação demonstra a falta de responsabilidade do governo com pautas tão sérias. Sugere-se ao ministro Vélez que se preocupe mais com os problemas reais do que com os imaginários. Em nenhuma ocasião se ouviu seu posicionamento com relação ao FUNDEB, fundo cuja lei tem validade até o final de 2019 e que praticamente sustenta a educação no país. Também não se conhecem quaisquer outros projetos em elaboração pelo MEC para atacar problemas graves, como os citados acima. Para estes assuntos, estamos aguardando ansiosamente seu e-mail, ministro."

Nos comentários da publicação, no Facebook do Diário, foram mais de 350 participações de leitores aprovando e reprovando o pedido do MEC. 

"Cantar o hino nacional faz parte do civismo, mas a questão nem é o hino ou filmar, a questão é as condições das escolas, ou melhor, as más condições. Também temos a questão salarial dos professores que, realmente, é vergonhosa. Então, o hino? Correto, mas tem muitas coisas que são mais relevantes para que haja civismo", comentou um leitor.

"No meu tempo era a coisa mais normal, meu filho fez colégio militar e fazia todos os dias, estamos todos inteiros e sabemos dar valor a pátria e seus símbolos", disse outra leitora.

Os problemas recorrentes na educação também foram citados por leitores do Diário. Em alguns comentários, eles afirmam que o problema não é cantar o hino, mas ignorar as más condições das escolas ao redor do país. Em Santa Maria, há relatos de escolas que não puderam dar início às aulas, na semana passada, devido à falta de professores para algumas turmas. Em outra escola, da rede estadual, uma turma do 2º ano do Ensino Médio ainda aguardava liberação da 8ª Coordenadoria de Educação para poder dar início às atividades.

*Com informações da Folhapress

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