educação infantil

Creches prometidas há seis anos ofertariam 1,5 mil vagas em Santa Maria

Dandara Flores Aranguiz

Fotos: Pedro Piegas (Diário)

A espera por uma vaga nas creches públicas não é novidade em Santa Maria. Desde 2017, o Observatório Social de Santa Maria (OSSM), uma organização sem fins lucrativos, faz o acompanhamento do andamento das obras de 12 creches na cidade financiadas pelo governo federal (10 anunciadas em 2013 com recursos do Proinfância e duas anunciadas com recursos do PAC) através do Projeto Obra Transparente. Elas foram monitoradas ao longo dos processos e, no dia 26 de março, o observatório divulgou um balanço do que foi analisado de perto por eles até o momento. Segundo a prefeitura, mais de 800 crianças estão na fila por uma vaga. 

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Cinco obras do Proinfância até tiveram início em 2014, mas foram interrompidas. As empresas que assumiram o serviço, ao longo do tempo, abandonaram os projetos e tiveram os contratos rescindidos.

Das 12 obras previstas no total, quatro tiveram projetos cancelados e estão em processo de reformulação (Diácono João Luiz Pozzobon, Residencial Lopes, Nossa Senhora Medianeira e Nova Santa Marta). Outras cinco (Dom Luiz Victor Sartori, Campestre do Menino Deus, Estação dos Ventos, São João Batista e Vila Jardim) tiveram o contrato cancelado pelo Ministério da Educação (MEC) e ficaram fora dos planos.

Para a presidente do Observatório Social de Santa Maria (OSSM), Sílvia Vontobel, se todos os projetos tivessem sido executados e as creches anunciadas tivessem sido entregues, Santa Maria teria, pelo menos, 1,5 mil vagas a mais na Educação Infantil.

- Seriam 12 creches que Santa Maria teria que fazer com recursos federais. O prejuízo maior é no aprendizado. Essas crianças poderiam estar, há anos, nesses espaços e estão perdendo as possibilidades de aprender e de desenvolver a cidadania. Muitos pais poderiam estar trabalhando também. Infelizmente, esse período fechado é um tempo que não se recupera - disse Sílvia.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), 852 crianças com idades entre 0 e 5 anos e 11 meses aguardam na fila de espera por uma designação de vaga na Educação Infantil de Santa Maria. Somente este ano, 4.075 inscrições foram feitas para esta faixa etária, sendo que, segundo a prefeitura, até terça-feira passada, 3.438 novos alunos ingressaram na rede municipal em 2019. Ainda segundo a Smed, as inscrições e respectivas designações de vagas para a Educação Infantil seguem ao longo do ano, por meio dos critérios de ordem de inscrição, disponibilidade de vaga e proximidade entre a escola e a residência dos pais.

Com creche funcionando, Graziele pretende trabalhar

Enquanto a Escola Profª Glaci Corrêa da Silva, na Vila Brenner, Bairro Divina Providência, não abre, Graziele Chaves Gomes, 28 anos, não consegue trabalhar. Ela mora nas proximidades do prédio que está por inaugurar e aguarda o funcionamento da creche para conseguir um local para deixar o filho mais novo, Felipe Gomes da Silva, 4 meses, e procurar um emprego.

No ano passado, a filha mais velha, Julia Gomes da Silva, 5 anos, estava matriculada na EMEI Darcy Vargas, no Bairro Rosário. No entanto, com a promessa e a expectativa de abertura da nova creche ainda para o primeiro semestre, desde o início do ano Julia tem aulas em uma turma mista do Pré A e Pré B na EMEF São João Batista, uma instituição mais próxima à sua casa, também na Vila Brenner, e com outras crianças com idade entre 4 e 5 anos. Ao todo, segundo a direção da escola, são 25 crianças na mesma situação, que já estão inscritas para a EMEI Profª Glaci Corrêa da Silva e que estudam com uma professora já foi designada para a escola da Brenner.

- É mais longe, tem várias crianças aguardando abrir a creche, mas, por enquanto, ela está indo lá. Disseram que vai ter berçário também, então, estou esperando, porque não tem onde deixar o bebê enquanto isso - comenta Graziele. 

No Cipriano, mães acompanham de perto a situação

Alexsandra Assis, 42 anos, mora em frente ao portão lateral que dá acesso à Escola Ivanise Jann de Jesus. Enquanto a reportagem do Diário visitava o local, na terça-feira, ela retornava da casa da mãe, no Bairro Tancredo Neves, onde tinha acabado de deixar seu filho, Arthur Silva, 4 anos, para ficar sob os cuidados da avó. Ela, que é diarista, até conseguiu uma vaga para Arthur na rede municipal, mas, como a creche ainda não estava pronta, o menino foi designado para uma escola no Bairro Nova Santa Marta.

- Agora, tenho que esperar para poder pedir transferência da matrícula dele para cá. Não vejo a hora de ficar pronto, não consigo levar ele lá todos os dias. E a gente acompanha, fico de olho, cuidando. Dizem que daqui a um mês vai estar funcionando, que os móveis vão chegar esta semana. Tomara - relata.

Elen Becker Dorneles (foto), 28 anos, também buscou informações. Segundo ela, a previsão era de que, no final de março ou no começo de abril, a unidade estaria de portas abertas. Mãe de dois filhos, um de 4 anos e outra de 1 ano e 3 meses, ela acredita que ficará mais fácil procurar trabalho depois que tiver um lugar onde deixar os filhos.

- Se eles puderem ficar na creche, só pago babá para a manhã, já que, de tarde, o meu filho estuda. Então, fica mais viável - diz. 

Kelen e a filha aguardam na fila há quatro longos anos

Sem esperança de conseguir vaga para a filha mais nova, a segurança Kelen Frazão Cardoso, 38 anos, teve que abandonar o emprego. Ela mora no Residencial Monte Bello, no Bairro Camobi, há mais de seis anos, e já perdeu as contas de quantas vezes tentou vaga na rede municipal.

- Quando começaram a construir as casas, engravidei e pensei que ia ser maravilhoso, íamos ter uma creche bem pertinho. Aí, quando nasceu, passou a licença maternidade, corri atrás de babá, mas chegou ao ponto em que trabalhar e pagar alguém para cuidar ela era muito caro. Todos os anos, eu tento vaga para ela, mas só cai na Maringá ou no São José, não tenho como pagar uma van até lá - conta.

Pela idade, a filha Érica, de 5 anos, deveria estar na pré-escola. Na mesma casa, moram também duas netas de Kelen. Manuelle Almeida Rodrigues, 4 anos, é a única que estuda na Escola Renato Zimmerman, que fica no Bairro Carlos Gomes.

- Desde que começaram a construir a creche, eu corro de um lado para outro. Ela fica até meio chateada, porque a sobrinha vai para a creche, e ela, não. Ela acha que está ficando atrasada, vê a Manu aprendendo coisas que ela não sabe. Ano que vem ela vai entrar no Ensino Fundamental, mas não tem a mesma base que os outros, teve o aprendizado prejudicado - desabafa.


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