Santa Maria Design House levará para o mercado (e para o espaço) chips pioneiros no Brasil

Há quatro anos, pesquisadores do grupo de microeletrônica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o GMicro, receberam um desafio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): desenvolver componentes para ser usados em satélites, que não sofressem interferência da radiação presente fora da atmosfera. O pedido foi levado a sério e os testes começaram. Além da fórmula do chip batizado de RH-DRV, os pesquisadores descobriram um nicho de mercado milionário: projetar, no país, mais especificamente em Santa Maria, chips que hoje são importados aos bilhões pela indústria brasileira.

O coordenador da Santa Maria Design House (SMDH), João Batista Santos Martins, acredita que iniciativas como essa podem reverter o resultado da balança comercial, que acumula déficit de 15 bilhões de dólares só na área de microeletrônica:
- Por enquanto, a SMDH é o que chamamos de fabless, não tem fábrica e os projetos saem do papel (do computador, na verdade) em uma fábrica alemã. Com o tempo, esperamos que surjam empresas brasileiras para fazer isso.

Há pessoas que sonham que, em Santa Maria, surja, um novo Vale do Silício, como a região da Califórnia, nos Estados Unidos, que tinha gargalos para o desenvolvimento em ramos tradicionais da indústria e se tornou um polo tecnológico. Assim como a Califórnia, o Brasil é rico em silício (a matéria-prima dos chips). Porém, atualmente, exporta o material bruto e o importa refinado.
- Queremos inverter a lógica. Para isso, é necessário ter competitividade no mercado, que tem potencial de gerar bilhões de reais na cadeia produtiva. Santa Maria, daqui a uns cinco anos, poderá ser um polo muito importante, com os incentivos que vem tendo e se souber aproveitá-los - acrescenta Martins.

Para Márcio Rebelatto, que é gestor de projetos da indústria do Sebrae Regional de Santa Maria, a SMDH faz a chamada inovação de vanguarda ou de ruptura:
- Eles inserem no mercado um produto que não existe, e isso mexe com o entorno e cria um ambiente que motiva ainda mais inovação.

Objetivo também é responder à demanda do mercado

Depois de produzir o RH-DRV, que vai para os testes finais no espaço em maio, a SMDH iniciou outros projetos, como o microcontrolador, com venda garantida para uma empresa de iluminação. Cada sensor de presença para alarmes precisa de um chip como o que aparece no topo da página.

Até agora, só existem estrangeiros. Além desse primeiro contrato, a SMDH já fez outras duas versões do microcontrolador. Uma delas será usada para diminuir o gasto de energia das luzes de stand-by em televisores.
- Como as empresas ainda são muito fechadas para o que é nacional, enfrentamos uma primeira resistência. Por isso é tão importante o apoio de instituições públicas - conta o gerente de projeto Fernando Herrmann.

Mercado sem fronteiras

Quando se fala em tecnologia, não é possível pensar em um mercado apenas local ou regional. A principal característica desse setor é a abrangência mundial das vendas, parcerias e descobertas.
- Por isso, mesmo empresas micro e pequenas têm um grande potencial de vender mundialmente. Nessa área, sobram criatividade e conhecimento. Só não pode faltar gestão - afirma o técnico do Sebrae, Márcio Rebelatto, que neste e no próximo ano vai atuar junto ao Arranjo Produtivo Local (APL) Centrosoftware, e uma das prerrogativas será levar as empresas de tecnologia da informação para eventos internacionais.

A Santa Maria Design House já sabe disso, tanto que o seu site é todo em inglês, para facilitar a aproximação de possíveis parceiros e clientes de fora. Mesmo assim, orgulha-se em ser a primeira design house do interior do país, com uma equipe altamente qualificada.
- Com a chamada biblioteca que criamos aqui, que reúne componentes e peças inovadores, podemos adaptar os produtos para os mais diversos fins: militar, comunicação, automação. Tudo conforme o gosto do