No cemitério de São Sepé, um tumulto tem a lápide com o nome e a foto de Cilon Cunha Brum, mas está vazio, pois seu corpo nunca foi localizado. Nos últimos anos, a família Brum começou a descobrir mais detalhes do que aconteceu com Cilon e na Guerrilha do Araguaia entre Pará e atual Tocantins , onde o militante do PCdoB atuou, nos anos 70. De 2008 a 2012, revelações de um dos líderes do Exército no Araguaia confirmaram o que todos tinham quase certeza. O Exército matou e ocultou os corpos de pelo menos 67 guerrilheiros ligados ao PC do B e cerca de 30 camponeses que se uniram ao movimento. Agora em outubro, o próprio major do Exército Sebastião de Moura, 77 anos, o Curió, durante depoimento à Justiça Federal, em Brasília, confessou ter matado Cilon, cujo codinome era Simão, e outros três guerrilheiros em janeiro de 1974. É mais um capítulo dessa história, que dá mais esperanças à família de achar os restos mortais e de punir o autor das mortes.
O procurador do Ministério Público Federal (MPF), Ivan Marx, que já atuou em Santa Maria e está em Brasília, participou da audiência e fez perguntas a Curió. Como o processo corre em segredo, Marx diz que não pode dar detalhes do que foi dito, mas nega que o militar tenha detalhado onde estariam os corpos, como chegou a ser publicado por alguns sites. Curió teria só confirmado a versão de que matou guerrilheiros porque eles tentaram fugir.
Acredito que, nesse caso, ele tenha falado a verdade, mas é preciso ter cuidado, pois nem tudo o que o Curió diz é verdade. É preciso confirmar, pois ele costuma dar versões contraditórias. Sempre fez isso para confundir diz Marx.
O procurador integra uma força-tarefa do MPF que trata do caso do Araguaia e participa das buscas pelas restos mortais dos desaparecidos (veja quadro abaixo).

Após a confissão de Curió, a Justiça Federal de Brasília determinou novas buscas para tentar achar os corpos de Cilon e de outros guerrilheiros, porém segue atrás de mais detalhes sobre a provável localização. Uma agenda com anotações de Curió, que o militar entregou a um jornalista, deve ser pedida pela Justiça. Mas não se sabe se nessa agenda existem mais pistas do local onde os corpos teriam sido ocultados. Há relatos de que, após as execuções, os corpos eram queimados para dificultar a identificação.
Segundo Marx, as expedições devem ser retomadas em 2016, pois devido ao período de chuvas, só é possível fazer escavações no Araguaia de maio a outubro. O procurador não diz o que fará em relação à confissão de Curió, mas é provável que o major da reserva seja processado criminalmente pelas mortes.
Enquanto houver um corpo insepulto, o Estado terá essa dívida. Acho que o processo tem de ser aberto, pois todos têm de pagar por seus atos criminosos. Execução é um crime imprescritível diz o jornalista Lino Brum Filho, 72 anos, um dos sete irmãos de Cilon.

Em 1996, o governo federal reconheceu que os desaparecidos estavam mortos e indenizou parentes. Só então a família colocou esta lápide no túmulo, que segue vazio
Mortos vivos?
Uma novidade do depoimento de Curió é que ele negou a lenda dos mortos vivos, de que cinco guerrilheiros teriam sido poupados e mudado de nome. Todos foram mortos, teria dito.
O professor de História da UFSM, Diorge Konrad, não considera que os movimentos de resistência, como no Araguaia, eram românticos, mas que havia uma tentativa real de repetir a revolução feita na China e em Cuba, só que aqui ela foi impedido pelas Forças Armadas.
Ao executar pessoas, os militares ultrapassaram até as leis da própria ditadura, que previa pena de morte, mas não condenou ninguém à morte. Houve tortura e execuções, "