Série A Força do Interior

Facas produzidas em Arroio Grande são vendidas em todo o país

Denise Braga Lopes

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Impossível não ficar, por alguns instantes, fascinado ao observar o processo de fabricação de uma faca, principalmente durante a têmpera (tratamento térmico que garante a dureza do fio), em que a lâmina fica incandescente. De forma mais artesanal ou com o uso de máquinas sofisticadas, a arte da cutelaria desenvolvida em Arroio Grande ganha os pagos deste Rio Grande, de outros Estados e segue mundo afora. Na primeira reportagem da série A Força do Interior, que vai mostrar as principais atividades econômicas desenvolvidas nos nove distritos de Santa Maria, o passeio é pela região leste do município.

40 mil facas por mês


Trabalho especializado: Mesmo nas fábricas mais mecanizadas, a mão firme do trabalhador é que garante a qualidade das facas

Arroio Grande é uma das portas de entrada para a região da Quarta Colônia. As semelhanças com os municípios vizinhos são grandes: a maioria dos seus 2,7 mil moradores é descendente de imigrantes italianos. Além da produção rural, como hortigranjeiros, arroz e produtos coloniais, Arroio Grande abriga cinco fábricas de facas: Coqueiro, Ginete, Cascavel, Ipê e Gaúcha, que geram 152 empregos diretos e produzem pelo menos 40 mil produtos por mês. Tudo isso sem contabilizar os números dos fabricantes de fundo de quintal.

–  Aqui não tem desemprego. Todo mundo tem trabalho nas fábricas – afirma dona Ledi Colpo Noal, uma das moradores mais antigas de Arroio Grande.

Com maior ou menor grau de tecnologia, o trabalho ainda depende muito da mão de obra artesanal. A mão treinada dos funcionários é necessária do corte da lâmina até a finalização do cabo.

Pioneirismo virou tradição

A tradição remonta a 1946, quando o ferreiro Maximiliano Albereci colocou o ofício em prática, começando com ferramentas agrícolas, como machado, enxada e foice e, depois, facas artesanais.

 – Muitos trabalharam com meu avô. Eles aprendiam, se profissionalizavam e depois abriam a própria fábrica – conta Carlos Alberto Albereci,  neto  de Maximiliano, que hoje administra a Ginete.

Entre os primeiros está também Botholo Bianchini, que chegou a trabalhar com Albereci. Bianchini começou a se tornar conhecido quando passou a vender a produção na rodoviária do distrito, nos anos 1940. Com visão empreendedora, registrou a marca Coqueiro, e abriu caminho para a fama da cutelaria da localidade. Hoje, a Coqueiro é a maior das fábricas do distrito e segue sob o comando da família, nas mãos do filho Walter Bianchini. Lá são produzidas cerca de 20 mil peças por mês, parte exportada a países como Itália, EUA e Chile.

– Crescemos porque Deus nos ajuda, e valorizamos os funcionários –  diz Walter.
A boa fama das facas atrai compradores fiéis como o zootecnista e empresário de Santa Maria Daniel Antonio Gorski Pereira. Há 20 anos ele só compra facas de Arroio Grande e aproveita os sábados para passear na região e aumentar a coleção.  Em casa, tem um total de 60 delas, entre estilos gourmet e de churrasco.

– Eu gosto de ter facas, com aços e cabos diferentes. Sempre vou trocando, uso bastante porque faço uma média de quatro churrascos por semana para a família e amigos –  conta o empresário.

Parceira entre os fabricantes

Seja pela herança familiar ou pela cultura de levar adiante o que está dando certo, as fábricas de Arroio Grande estão buscando a profissionalização e a qualidade desse produto, que  está na mesa de todos. Na localidade de São Marcos, no distrito de Arroio Grande, o ofício da cutelaria é passado de geração para geração. Funcionário da Coqueiro por 30 anos, o administrador das Facas Ipê, Vicente Sthangerlin, afirma que, quando falta algum material, ele pede para o vizinho:

 – É a política da boa vizinhança,"

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