Fotos: Charles Guerra (Diário)/ Praticamente toda área prevista na região já foi plantada
A Região Central do Rio Grande do Sul tem importante participação na produção de soja do Rio Grande do Sul. Municípios como Tupanciretã, o maior produtor gaúcho, têm o cultivo desse grão como principal pilar da economia, chegando a produzir mais de 500 mil toneladas, como aconteceu na safra passada, em uma área cultivada que chega a 146 mil hectares. Da mesma forma, São Sepé é outro que figura entre os maiores produtores da região, alcançando a quarta colocação com um índice de produção que chega a 177 mil toneladas. Ainda entre os maiores aparecem outros municípios, como Júlio de Castilhos, Capão do Cipó, Jari e outros.
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Para a safra 2017/2017, a previsão de plantio na Região Central é de aproximadamente 920 mil hectares em 35 municípios que integram a área de abrangência da Emater Regional de Santa Maria. Em relação à safra anterior, deve haver um aumento da área plantada em todo o Estado em torno de 3%. No entanto, mesmo com acréscimo, o rendimento das lavouras não deve ser tão bom quanto no ano passado. Isso porque as condições climáticas de 2016/2017 foram extremamente favoráveis e dificilmente se repetirão, o que pode impactar na produtividade, ficando na casa dos 48 sacos por hectare ante aos 55 da última colheita.
O clima pode ser um grande entrave para os produtores, conforme o engenheiro agrônomo da entidade Luiz Antônio Rocha Barcellos.
- As chuvas estão escassas. As lavouras com soja emergindo necessitam de água para o crescimento das plantas e para o término do plantio. Ainda não há uma previsão de produtividade ou rendimento por hectare em função de que a soja está na fase inicial de desenvolvimento vegetativo e as previsões são de poucas chuvas. Também não há certeza quanto à regularidade das chuvas no período entre a floração e o enchimento de grãos, estágios em que a cultura da soja mais precisa de água - explica Barcellos, complementando que a área semeada nas lavouras da região, até a metade de dezembro, chegou a 86%, conforme dados divulgados pela entidade.
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Nestes últimos dias de calor intenso, a cultura da soja apresentou crescimento muito lento, devido às altas temperaturas e à baixa umidade no solo. Nas horas mais quentes do dia, as plantas apresentam sintomas de estresse hídrico, com folhas murchas, segundo a Emater.
O efeito La Niña, que é caracterizado por calor persistente, deve marcar o verão de 2018. As previsões indicam que o Estado tem maior probabilidade de que as chuvas fiquem dentro da faixa normal ou acima na maioria das localidades. Entretanto, de acordo com previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o início do trimestre deve apresentar baixa precipitação, principalmente no Rio Grande do Sul. Para algumas regiões, a meteorologia aponta para um longo período sem chuvas no Estado, situação que pode atrapalhar o desenvolvimento da soja. Por isso, a safra deste ano está cada vez mais nas mãos de São Pedro.
"A GENTE ENTERRA DINHEIRO E ESPERA BROTAR"
A família Della Giustina cultiva soja há cerca de 40 anos na propriedade rural que fica na localidade Tupanci, no interior de São Sepé. O negócio que começou com o pai Dario Della Giustina, 62 anos, agora conta com o comando do filho Marcos Vinícius, 33 (foto ao lado). A cada safra, os produtores se apegam na expectativa de valorização do produto, no entanto, os altos custos fazem eles repensarem sempre antes de iniciar o plantio.
- O mercado da soja só cresce, o consumo é grande. A gente se apega a esse aumento de consumo e não para de plantar. No entanto, o custo da lavoura aumenta junto. Adubo, inseticida, herbicida, óleo diesel e manutenção das máquinas, mão de obra escassa e pouco qualificada. Todas essas despesas acabam entrando na conta e consomem grande parte da produção. É um alto investimento que depende de um clima favorável para ter retorno. A gente enterra dinheiro e espera brotar - avalia Marcos Vinícius, que é veterinário.
Além destas despesas, Della Giustina acrescenta que o auxílio de programas de crédito rural esbarra na burocracia, nas altas taxas documentais para comprovação de contratos de arrendamento de terras e baixos valores liberados.
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- Na hora de financiar o maquinário, é muito mais vantajoso tu negociares direto com a concessionária - complementa.
Sobre a tecnologia incrementada à lavoura, o produtor garante que a agricultura de precisão é necessária para quem busca rendimento.
- A semente transgênica foi o divisor de águas. Além disso, as inovações como análise e correção de solo, adubação controlada, pulverização direcionada são tecnologias que encarecem a produção, mas são fundamentais - argumenta Della Giustina.
O produtor cultiva cerca de 600 hectares, sendo parte na propriedade e parte no interior de Vila Nova do Sul. O plantio iniciado em 24 de outubro foi encerrado na última semana e a planta encontra-se em fase de desenvolvimento. A prática na lavoura concentra-se, agora, no controle de inços, fungos, ferrugem, insetos e lagarta.
A estimativa do produtor é alcançar o rendimento próximo ao da safra 2015/2016, quando colheu uma média de 68 sacos por hectare. No ano passado, em safra com condições de clima atípico, o rendimento chegou a 75 sacos por hectare. Índice que dificilmente se repetirá. Após a colheita, a produção é destinada à cooperativa Cotrisel, de São Sepé. A esperança é que tenha uma boa valorização.
- O mínimo aceitável seria de R$ 80 a saca. Vamos torcer para que chegue a esse preço - projeta ele, que alterna o cultivo de soja com a criação de gado durante o inverno na busca por um rendimento extra.
VALORIZAÇÃO DA SAFRA VAI DEPENDER DO CLIMA, AFIRMA CONSULTADOR
Além do clima, o que precupa os produtores é a cotação da saca de soja depois da colheita. No entanto, uma coisa puxa a outra. Conforme o especialista em mercado da soja da Corretora Labhoro de Curitiba, Ginaldo Sousa, ainda é muito cedo para estabelecer uma cotação, mesmo para aqueles que já contrataram em mercado futuro (venda da safra por um preço pré-determinado mesmo antes de o grão ser plantado).
- Para a região, deve haver um La Niña moderado, em que se espera chuva abaixo do padrão normal, na Região Sul e na Argentina. Essa previsão ainda não se confirmou, mas, se realmente ocorrer, pode prejudicar a produção. Se a colheita tiver baixo rendimento, dentro do cenário nacional, a soja acaba valorizando. Mas isso também depende do mercado internacional. Agora, por exemplo, os preços nos Estados Unidos já estão caindo porque os americanos não estão vendendo, o que acaba gerando estoque - explica Sousa.
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Ainda conforme o consultor, é muito cedo para criar expectativa sobre um preço.
- Se ainda houver soja em estoque na época da colheita, nos meses de abril e maio, a venda da produção brasileira pode ser prejudica, já que haverá muita oferta e os preços devem cair. Seria precoce prever uma cotação. O clima é quem vai definir a produção e consequente os preços da safra - complementa Sousa.
Durante esta semana, a saca de 60 quilos da soja estava cotada em R$ 63,50. A maior valorização mais recente ocorreu em junho de 2016, quando o produto esteve cotado na casa de R$ 80 a saca