Com proposta pioneira no Brasil, ingresso de atletas de alto rendimento na UFSM deve mudar o cenário esportivo de Santa Maria

Com proposta pioneira no Brasil, ingresso de atletas de alto rendimento na UFSM deve mudar o cenário esportivo de Santa Maria

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Programa de Ingresso de Atletas de Rendimento ao Ensino Superior (Piares) da UFSM deve atrair esportistas para a Santa Maria.

Quem acompanha as principais modalidades esportivas norte-americanas sabe que a maioria dos atletas é oriunda de equipes universitárias. Seja no futebol americano, no basquete ou no baseball, as ligas universitárias são encaradas como uma porta de acesso para contratos profissionais. São raros os casos de atletas de alto rendimento que não passam por alguma universidade.

As instituições de Ensino Superior no país são, majoritariamente, privadas. Para recrutar jovens com potencial esportivo, as universidades oferecem bolsas de estudos. A possibilidade dos atletas conseguirem conciliar educação e prática esportiva, sem ter que fazer uma escolha entre um e outro, coloca os Estados Unidos como uma verdadeira potência olímpica mundial.

Na última semana, foi aprovado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) o retorno do Vestibular e do Processo Seletivo Seriado (PSS), além de outras formas de ingresso na instituição. Entre as novidades na maneira de conquistar uma vaga na universidade está o Programa de Ingresso de Atletas de Rendimento ao Ensino Superior (Piares). A proposta, que, apesar de ter inspiração no modelo norte-americano, se diferencia por se tratar de um formato voltado ao Ensino Superior público. Ainda em definição, o Piares deve representar 5% das vagas ofertadas em cada curso de graduação.

– O projeto vem nessa linha de tentar oferecer o espaço para os atletas que, muitas vezes, se dedicam uma vida inteira para representar o país no esporte. É uma política pública que já deveria estar ocorrendo há muito mais tempo e tem potencial. É uma ideia transformadora que tende a mudar o cenário esportivo não só de Santa Maria, mas nacionalmente também – afirma o professor do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM, Luiz Fernando Cuozzo Lemos.

O docente, que é o autor do projeto, explica que será necessário fazer uma regulamentação para implementar a minuta. O programa não terá um caráter impositivo e será destinado para vagas excedentes, isso é, a decisão será dos cursos e colegiados. Outro ponto a ser debatido são os critérios de seleção. Lemos afirma que a conquista de medalhas e a participação em torneios olímpicos, mundiais, estaduais e regionais tendem a ser valorizados. Mas há a possibilidade da nota de ingresso ser calculada por meio de uma média entre histórico esportivo e uma prova. Também serão pensadas políticas de permanência para os atletas.

– Muitas vezes onde está o atleta? Ele está no bairro, ele começa no projeto social. Essas crianças e adolescentes, quando chegam na idade adulta, muitas vezes optam por outros caminhos, que não o Ensino Superior. Com o Piares, ele entra na UFSM como estudante e representa alguma equipe da universidade em campeonatos. E, aí, nós começamos a mudar a sociedade – reflete Luiz Fernando.

O Piares deve contemplar três perfis. O primeiro é o atleta jovem que está iniciando no esporte e precisa decidir entre seguir a carreira esportiva, estudar ou trabalhar. Nesse caso, o programa é um incentivo para o indivíduo se dedicar à modalidade a fim de ingressar na universidade. O segundo perfil é o atleta que tem potencial em um patamar local e regional, mas, por falta de suporte, ainda não vingou em competições nacionais. Com a estrutura e o conhecimento da universidade, ele pode se desenvolver e elevar o nível profissional. Por último, serão beneficiados os atletas que estão em transição de carreira e se encaminhando para a aposentadoria.


Inspiração para outras instituições

Desde que a proposta foi apresentada, outras universidades federais do país já entraram em contato com o professor para replicar o programa.  

– Quando o Piares se disseminar em outros lugares, a concorrência de ingresso será, em sua grande maioria, local. Daqui a 20 anos nós vamos para as Olímpiadas e dizer: “como melhorou”. Será que é sorte ou é política? – afirma Lemos.

O presidente da Federação Universitária Gaúcha de Esportes, Francisco Lemes de Menezes, ressalta que essa mudança na UFSM tende a agregar muito para o esporte universitário gaúcho como um todo:

– Muitas universidades particulares já têm atletas de ponta, inclusive atletas gaúchos que vão para outros lugares do país com bolsas. Seria ótimo se outras instituições públicas também aderissem ao modelo, podemos colocar atletas em competições internacionais.

Para o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Universitários (CBDU), Luciano Cabral, o projeto deve trazer maior paridade competitiva em disputas universitárias de todo o país, já que coloca instituições públicas e privadas no mesmo nível.

– O atleta tem a universidade pública como uma possibilidade para além de praticar o esporte, estudar. No geral, as instituições públicas do país tem uma ótima estrutura que pode favorecer a evolução até o alto rendimento – avalia Cabral. 

Desde que a ideia surgiu, a CDBU acompanha de perto o Piares. Cabral explica que a intenção é atuar coletivamente para levar o modelo a outras instituições:

– A UFSM passa a ser um case que vamos tentar espelhar para todo Brasil. Não é uma evolução, mas sim uma revolução do esporte brasileiro. Vai mudar o patamar do esporte no país.


Como vai funcionar

  • Cursos poderão disponibilizar 5% das vagas para o Programa de Ingresso de Atletas de Rendimento ao Ensino Superior (Piares). 
  • Para selecionar os candidatos, serão seguidos alguns critérios, como ser medalhista ou ter participado de Olimpíadas, jogos Pan-Americanos ou campeonatos nacionais. A UFSM ainda estuda a possibilidade de aplicar uma prova que deve compor a nota junto com o histórico esportivo.
  • Atletas selecionados ingressam no curso escolhido e passam a integrar equipes esportivas da instituição.


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Luis Santos

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