"É inacreditável estar aqui", diz atleta da região que disputará os Jogos Paralímpicos de Paris

Foto: Arquivo Pessoal

Os Jogos Paralímpicos de Paris irão ocorrer entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro. O Brasil, classificado como uma potência na competição, terá 280 atletas na capital francesa, sendo a maior delegação da história do país. Um dos competidores é Reinaldo Charão, do tiro com arco, que é natural de São Gabriel. Aos 47 anos, ele chega no melhor momento de sua carreira, acumulando medalhas a nível nacional e internacional. Em Paris desde a quarta (21), o arqueiro estreia na próxima quinta (29) e espera seguir evoluindo no esporte.


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A modalidade

O tiro com arco paralímpico integra o grupo de modalidades dos Jogos desde 1960, e o Brasil nunca subiu ao pódio. As disputas são separadas por classes, que são diferenciadas pela deficiência dos competidores. No caso de Charão, ele disputa na classe W2, classificada em conjunto com a W1, como para atletas com deficiências graves, em três ou quatro membros. Além dessa categoria, os Jogos de Paris contam com a classe “open” para atletas com deficiência em um membro (superior ou inferior) ou ainda em dois membros (inferiores ou superior e inferior do mesmo lado).

A competição se inicia na quarta (28) com a fase classificatória individual, na qual os competidores fazem 72 tiros para determinar um ranking geral. A partir disso, os confrontos eliminatórios são determinados com base nas colocações. Além da disputa sozinho, o gaúcho também participa da modalidade por equipes mistas, acompanhado de Jane Karla, com estreia no mesmo dia da individual. Vale destacar que Reinaldo Charão compete na modalidade de arco composto, objeto que possui cabos e roldanas, garantindo um maior conforto e potência no disparo. Outros paratletas utilizam o arco recurvo, que conta com alguns adereços, como alça de mira e estabilizador.


Um desejo de longa data

Foto: Arquivo Pessoal

O gabrielense tem paralisia cerebral e se locomove por meio de cadeira de rodas. Com nove anos, ele deixou São Gabriel e foi morar em Uruguaiana. Aos 15 anos, ao acompanhar a abertura da Olimpíada de Barcelona, em 1992, uma cena chamou a sua atenção. O paratleta espanhol Antonio Rebollo lançou uma flecha que sobrevoou o Estádio Olímpico de Barcelona e acendeu a pira olímpica, encantando o mundo todo.

No entanto, o esporte entrou na vida de Reinaldo na fase adulta, quando foi morar em Canoas, em 2012. Para abandonar o sedentarismo, ele buscou o RS Paradesporto, uma associação que leva a prática esportiva às pessoas com deficiência. Em um primeiro momento, a tentativa foi no basquete com cadeira de rodas, mas a modalidade não foi a que brilhou os olhos do gaúcho.

Em 2017, ele iniciou no tiro com arco a partir de uma escola que abriu perto de sua casa. Dois anos depois, ingressou na seleção brasileira, passou a competir em alto rendimento e o amor pelo esporte cresceu, permitindo que o paratleta disputasse competições nacionais e internacionais, garantindo excelentes resultados que o credenciaram a estar nos Jogos Paralímpicos.

– O meu foco era evoluir no esporte e essa evolução veio no final de 2019. Infelizmente, a pandemia deu uma afetada em tudo, mas desde 2021 eu só venho crescendo. Está aí o resultado, estou na Paralimpíada – comentou Charão, orgulhoso.

A vaga para os Jogos Paralímpicos veio em 2023, quando foi vice-campeão mundial por equipes mistas, ao lado de Jane Karla, na República Tcheca. Entre outros resultados de destaque estão o bicampeonato brasileiro (2021 e 2022), o ouro no Para Pan-Americano de Tiro com Arco em 2024, além de um ouro e um bronze na mesma competição, em 2022.

– Apesar de eu já estar lutando há alguns anos para chegar neste momento, é inacreditável estar aqui. A ficha caiu hoje (quinta) de tarde, na hora que saímos da Vila Olímpica e fomos treinar no campo de provas – disse o atleta paralímpico, que também é servidor público no Tribunal de Contas do Estado, em Porto Alegre.


O sonho real

Foto: CPB

Após os Jogos de Tóquio, em 2021, a Paralimpíada de Paris era um sonho distante na vida do gabrielense. Mesmo assim, ele intensificou os treinos e aperfeiçoou técnicas. Outro aspecto fundamental na evolução foi o auxílio de um patrocínio que iniciou em 2023 e do programa Bolsa Atleta, do governo federal.

– O tiro com arco é um esporte de elite, por conta do preço que não é barato. Praticamente todo o nosso material é importado. Nada é fabricado no Brasil, o que encarece bastante a modalidade – afirmou o gaúcho ao dizer que até o final de 2022 colocava dinheiro do próprio bolso no esporte.

Apesar do esforço, ele não se arrepende das decisões e quer desfrutar ao máximo da experiência paralímpica. Em sete anos como praticante da modalidade, o paratleta chega a Paris para viver o auge de sua carreira, conquistado na base do esforço e do aprendizado com os erros, como o mesmo descreve.


Futuro

Quanto aos passos após a Paralimpíada, Charão não esconde que o grande objetivo é estar nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028. No entanto, outra meta é ajudar no crescimento do RS Paradesporto, onde o paratleta também é instrutor de tiro com arco.

– Quero melhorar cada vez mais e ajudar o projeto a crescer. E se conseguir uma medalha vai ser muito melhor. Eu sempre digo para o pessoal, que, às vezes, a gente consegue as coisas por causa do “carteiraço”, eu chego e dou o “medalhaço” – brincou.

Além disso, algo que o motiva é a possibilidade de dar visibilidade ao esporte paralímpico, que na visão dele é pouco valorizado pela grande mídia. Mesmo o Brasil estando entre os 10 melhores países no quadro de medalhas desde 2008, os paratletas brasileiros ainda são pouco valorizados pela sociedade, como reforça o gaúcho.

– A mídia dá um enfoque muito maior para o esporte olímpico, mesmo a gente apresentando resultados expressivos. O ideal é que funcionasse no mesmo nível. É muito fácil dar apoio para o esporte olímpico, e para o paralímpico fica o que sobrar. E mesmo com que sobra, a gente consegue vir aqui e arrebentar.

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Antonio Oliveira

antonio.oliveira@diariosm.com.br

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