Crônica da Vida: meio século em memórias

Ronie Gabbi

No dia 17 de setembro de 1974, as paredes do Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta, presenciaram o meu primeiro choro – um grito inaugural que ecoava promessas em um mundo repleto de incertezas. Minha mãe, dona Maria, com o brilho radiante nos olhos, acolheu seu quarto filho como quem recebe a vida em suas mãos, ansiosa pelas aventuras que viriam.


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O tempo deslizou com a suavidade de uma folha ao vento e logo me encontrei na Escola Estadual de Ensino Fundamental de Vista Alegre, interior de Pejuçara. A alfabetização era um convite ao mundo desconhecido - o mundo das letras e das histórias, um portal que me levaria a descobrir novos horizontes. Cada “A” e cada “B” foram passos cautelosos na dança da vida; cada livro foi como uma janela aberta para uma nova faceta da vida.


A infância seguiu seu curso, e o ônibus do Trentini se tornou um cenário de aventuras na Escola Estadual Angelo Furian, em Pejuçara. As risadas ecoavam entre os bancos e as piadas desenhadas na inocência juvenil se tornaram a tinta que coloria aqueles dias. Ah, como cada viagem tinha suas surpresas! Os momentos contados entre sorrisos formavam uma coletânea de recordações, um tesouro que guardarei para sempre.

 
A caminhada diária de 3,5 km até a Escola Estadual São João Batista, da Linha Gramado, era mais do que um trajeto: era uma jornada coletiva. Entre risadas e confidências, novos laços foram formados. Minha turma se tornou uma extensão da família, onde cada um desempenhava um papel, seja como o palhaço que arrancava risadas ou o amigo que oferecia apoio nas horas difíceis. Esses passos eram a construção de uma história compartilhada.

 
Porém, a vida nunca é uma linha reta. O adolescente que corria entre livros e companheiros de brincadeiras precisou fazer escolhas. A mudança para Panambi, para estudar e trabalhar, trouxe desafios e medos. Cada dia era uma lição em adaptação, um exercício de coragem. Na Concessionária Chevrolet da Kepler Weber, descobri o valor do trabalho duro, mas também a importância das relações que se formaram no caminho. 


Os rostos de colegas e clientes tornaram-se parte da minha história, em um mosaico de vidas interligadas.
Os desafios financeiros para concluir o meu curso superior em Administração em Ijuí eram apenas mais uma etapa da jornada. As noites em claro e os dias corridos tornaram-se um ritual, mas cada dificuldade trazia consigo um aprendizado, uma força que, pouco a pouco, construiria o que sou hoje.

 
E, então, veio o meu maior presente, a dádiva que iluminou minha existência: meu filho Patrick. O sorriso dele trouxe a materialização de todos os sonhos que um dia pareciam distantes. Ser pai ressignificou a minha vida e me transformou. Cada risada e cada momento de descoberta ao lado do Patrick reescrevem o que é amar incondicionalmente.

 
A vida sempre teve um jeito especial de entrelaçar destinos, e foi em Ijuí que meu caminho se cruzou com o da Mari, que antes era apenas a amiga da minha irmã. Em meio a encontros casuais e risadas compartilhadas, aquela mulher cheia de vida se transformou na mulher que eu não sabia que tanto precisava.


Mari se tornou muito mais que uma esposa: ela é minha amante, minha amiga que desvenda meus segredos, a cúmplice nas aventuras cotidianas e a parceira fiel em cada desafio que a vida nos apresentou ao longo dos nossos 23 anos de relacionamento. Juntos, construímos uma história repleta de amor, vinho e risadas, onde cada dia ao seu lado é uma nova página de felicidade a ser escrita.

 
Ao refletir sobre esses 50 anos, vejo a riqueza das experiências que acumulei; a essência das amizades, as risadas, as dificuldades superadas e os novos começos a cada curva do caminho. O cofre de memórias está repleto, e a gratidão enche meu coração.

 
Meio século se passou e em cada passo, em cada escolha, acumulei aprendizados essenciais. Assim, ao olhar para trás, não há arrependimentos, apenas saudades de um tempo vivido intensamente, colorido por amizades verdadeiras, conquistas e, claro, muito amor. Viver é uma arte onde cada segundo conta e, hoje, aos 50 anos, percebo que a vida, essa grande montanha-russa, ainda guarda muitas surpresas a serem desvendadas.


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