Daniela Lopes dos Santos

Longevidade

Um dos desejos mais antigos da humanidade é viver mais tempo. Considerada a mais antiga obra literária, a Epopeia de Gilgamesh foi escrita na Mesopotâmia pelos sumérios por volta do ano 2000 a.C. e narra a vida e os feitos do rei da cidade suméria de Uruk na sua jornada em busca da imortalidade. Na Idade Média, os alquimistas dedicaram suas vidas à busca pela pedra filosofal, que lhes permitiria atingir dois de seus principais objetivos: a transmutação de um metal qualquer em ouro e a fabricação do elixir da longa vida.
Com a ascensão da ciência moderna no século 16, o prolongamento da vida seguiu sendo um norte das ciências da saúde, como é até hoje.

 
Recentemente, foi incluído em um dos serviços de “streaming” um documentário muito interessante no qual o escritor americano Dan Buettner aborda aspectos da longevidade, visitando lugares no mundo denominados “blue zones” ou zonas azuis.


O que são as zonas azuis?  

O conceito das zonas azuis resultou de um estudo demográfico realizado por Michel Poulain, Gianni Pes e um grupo de colaboradores, publicado em 2004 na revista científica Experimental Gerontology. Nesse estudo, eles identificaram a região da Província de Nuoro na Sardenha, Itália, como a de maior concentração de centenários no mundo. Não foi o primeiro estudo que analisou a longevidade nessa ilha italiana, mas foi o primeiro que propôs essa terminologia, até hoje utilizada.
A partir deste estudo, Dan Buettner propôs a inclusão de mais 4 regiões no seleto grupo de zonas azuis, nas quais havia grande concentração de idosos extremamente saudáveis e de centenários: Okinawa no Japão, Nicoya na Costa Rica, Ilha de Ikária na Grécia e Loma Linda nos Estados Unidos. Hoje existem muitos grupos de pesquisadores de várias universidades do mundo estudando as zonas azuis, na tentativa de descobrir o segredo para a longevidade. É provável que a longevidade evidenciada seja resultado de um conjunto de fatores, incluindo genética, hereditariedade, ambiente e comportamento. Nesta e na próxima coluna vamos comentar sobre alguns destes fatores já observados e relatados pelos pesquisadores.


1. Vida ativa

Em todas as comunidades consideradas zonas azuis, as pessoas levam vidas bastante ativas, com muito movimento e baixíssimos níveis de sedentarismo. Isso acontece tanto porque optaram por realizar exercícios físicos de forma organizada ou simplesmente porque moram em locais em que precisam caminhar, subir e descer para fazer compras, ir à igreja, visitar parentes e amigos e realizar atividades domésticas. Em algumas dessas regiões, existe pouco acesso à tecnologia. Por isso, as pessoas realizam esforços para completar suas tarefas domésticas e do trabalho, além de fazerem grande parte do deslocamento a pé.


2. Equilíbrio alimentar  

É comum nessas regiões o hábito de sair da mesa quando estão saciados e até mesmo com um pouco de fome. A refeição deve trazer satisfação, ser um momento de alegria junto de familiares e amigos e não precisa deixar a sensação de “empanturramento”. Nesse sentido, o ideal seria comer de tudo, mas em pouca quantidade. Além disso, se observou que nessas regiões a alimentação é baseada em plantas, sendo que 95% do consumo diário vem de frutas, vegetais, legumes, oleaginosas, sementes e cereais. O consumo de feijão está presente de forma significativa nas 5 zonas azuis, por isso, é considerado o alimento número 1 da longevidade. Pode ser consumido de várias formas, como lentilhas, feijão preto, marrom, vermelho, grão de bico, enfim, em todas as suas variedades, podendo ser usado em sopas, saladas, misturas ou consumido puro. O café preto também é bastante consumido nas zonas azuis, e a Associação Americana do Coração (AHA) demonstrou que o consumo de café, tanto cafeinado como descafeinado, está associado com um menor risco de mortalidade, pois fornece antioxidantes, melhora o humor e diminui os níveis inflamatórios.

 
Esses são apenas alguns dos fatores que os pesquisadores das zonas azuis evidenciaram. Na próxima coluna, em duas semanas, comentaremos sobre outros destes fatores. Enquanto isso, aproveitemos que um dos pratos mais típicos do Brasil e um dos mais baratos, por enquanto, é o tradicional arroz com feijão, e que também temos uma grande produção de café, facilitando o acesso a esta deliciosa iguaria.


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