Nos últimos anos, o uso de cannabis aumentou em várias faixas etárias, muitas vezes sob a ideia de ser uma substância “natural” e, portanto, segura. Mas um grande estudo canadense publicado na Jama Psychiatry mostra um lado preocupante. Pesquisadores analisaram mais de 6,9 milhões de adultos e descobriram que pessoas que precisaram de atendimento de emergência ou internação por efeitos da cannabis tiveram quase o dobro de risco de desenvolver demência nos anos seguintes, em comparação com quem nunca teve esse tipo de evento. O risco foi 1,8 vez maior em homens e 1,7 vez maior em mulheres, mesmo após considerar idade, escolaridade e outros fatores de saúde. Segundo os autores, os mecanismos ainda não estão totalmente claros, mas podem envolver efeitos diretos da substância sobre o cérebro, maior propensão a traumatismos cranianos ou problemas vasculares. Isso se relaciona com o fato de que as substâncias contidas na maconha agem no sentido de atrofiar e diminuir a atividade cerebral. O estudo não fala contra o debate sobre usos terapêuticos controlados, mas reforça que o consumo recreativo não é inofensivo – e que episódios graves ligados à droga podem deixar marcas duradouras no cérebro.
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Regras para prevenir a demência
Nem tudo é destino quando se fala em demência. O novo relatório da Comissão Lancet de 2024 mostra que até 45% dos casos poderiam ser evitados se 14 fatores de risco modificáveis fossem controlados. Além dos já conhecidos – como pressão alta, diabetes, tabagismo e inatividade física – o relatório traz duas novas causas preveníveis: perda de visão não tratada e colesterol alto. A prevenção começa cedo, com boa educação na infância, e continua ao longo da vida com exercícios físicos, controle do peso, vínculos sociais, proteção contra traumas cranianos e redução da poluição do ar. Ou seja, o cérebro envelhece melhor quando o corpo e o ambiente colaboram. Mesmo quem tem maior risco genético para a demência de Alzheimer, por exemplo, pode se beneficiar ao cuidar desses fatores. Os autores também lembram que tratar depressão e usar aparelhos auditivos quando há perda auditiva reduzem significativamente o risco de desenvolver demência. É uma mensagem otimista: nunca é cedo ou tarde demais para começar a proteger o cérebro.
Novos medicamentos para o tratamento da Doença de Alzheimer
Depois de décadas de frustrações, surgiram os primeiros medicamentos capazes de atuar nas causas biológicas do Alzheimer. O artigo de Nick Fox e colaboradores, publicado na The Lancet em 2025, revisa os resultados dos anticorpos monoclonais lecanemab e donanemab, que reduzem o acúmulo da proteína beta-amiloide no cérebro e diminuem em 25% a 35% a velocidade de deterioração cognitiva em pessoas com doença leve. É um avanço importante – mas longe de ser uma cura. Os efeitos são modestos, os custos são altos e há riscos de efeitos colaterais graves, como sangramentos e inchaços cerebrais. Além disso, esses medicamentos só foram testados em pacientes selecionados, com poucos outros problemas de saúde, e ainda faltam dados sobre efeitos de longo prazo. Mesmo assim, especialistas consideram o momento histórico: é o início de uma nova era terapêutica, que deve ser acompanhada por políticas públicas, diagnósticos precoces e acesso equitativo. A esperança é real, mas precisa vir junto com prudência e informação clara.