
Num domingo desses fui num aniversário de criança e me deliciei com hambúrgueres e brigadeiros. No fim do dia veio uma culpa sem igual. Fui para a esteira e fiquei 40 minutos tentando me redimir. Então comecei a questionar por que não quero engordar, porque sinto culpa ao comer guloseimas. Apesar de ser magra, sempre acho que tenho que perder 2kg. Racionalmente, desaprovo esses pensamentos. Mas, é fato: a insatisfação ronda meus dias. Mais uma vez: por quê?
Há um padrão de beleza idealizado em torno da magreza, da juventude e da sensualidade, reproduzido há décadas pelas revistas femininas e anúncios de marcas, com o qual nos comparamos. Não é de admirar que pesquisas de vários países comprovem que pelo menos 7 em cada 10 mulheres estejam insatisfeitas com seus corpos. Vivemos um contexto perverso.
Talvez tenhamos perdido a noção do que é normal, real, possível. Sequer sabemos qual é a aparência de um corpo normal. Deixamos de aceitar outros tipos de estatura, peso, formas, cabelos, buscando um biotipo perfeito, que a rigor não existe porque na verdade foi projetado e editado em computador. Questões como essas, que nos levam a não aceitar nossos corpos foram abordadas pela australiana Taryn Brumfitt no documentário "Embrace" ("Aceite", disponível no Netflix), lançado há cerca de um ano. Esse filme seguirá atual para sempre e merece a atenção de todas as mulheres.
Foi muito impactante me dar conta que também obedeço a essa lógica. No meu íntimo, eu projeto ser aquela magra da revista ou do Instagram fitness. E vejam vocês, mesmo sendo eu uma jornalista e estudiosa do tema. O que só demonstra a força dessa narrativa de idealização das aparências que enfrentamos diariamente.
Mas como podemos nos sentir bem ao nos olharmos no espelho?
Em primeiro lugar, penso que devemos enxergar e acolher outros biotipos. Essa é uma forma de pluralizar nossa concepção de beleza e desobedecer o discurso determinista que nos oprime. Precisamos ter um olhar generoso e redescobrir a diversidade da beleza feminina.
Em segundo lugar, escolhendo bem o que vestir. A moda só faz sentido se nos fizer felizes (já escrevi isso aqui). E nesse sentido, roupas e calçados são recursos auxiliares para nos amarmos mais, lidarmos melhor com a autoestima e tolerarmos aquilo que não aprovamos no nosso corpo.
A moda pode ser um caminho de transformação na vida de uma mulher e no seu processo de autoaceitação. Certa vez ouvi a escritora mineira Cris Guerra afirmar que "em lugar de escravizar, a moda pode ser um caminho para a libertação e o encontro verdadeiro consigo mesma". Comigo é assim.
Look do dia nesse frio, só o solidário
O exercício de explorar as possibilidades das roupas impactou de muitas maneiras minha história: nos piores dias de uma depressão, com 15 kg acima do peso no pós-parto, até mesmo em aulas e palestras. Me enxergar bem-vestida em momentos difíceis ou desafiadores me fez retirar o foco da tristeza ou da tensão. Por isso eu tenho amor pelas roupas e sou tão defensora da moda.

Nossos "looks do dia" comunicam bem mais que uma imagem, um estado de espírito. Uma roupa que faz sucesso diante do espelho muda o nosso ânimo, deixa a gente confiante, bem-humorada, nem aí para os quilinhos que consideramos extra ou para "certo e errado" da indústria.
Por isso, leve-se menos a sério e experimente brincar com o guarda-roupa. Faça até uma selfie para ver o resultado. Deixe de ser dura com a sua aparência e foque em valorizar aquilo que seu estilo sugere. É um caminho mais leve para a autoaceitação e para reforçar a beleza poderosa que você tem.
Se quiser ler mais sobre moda e movimento, maternidade possível e dilemas da meia-idade, me acompanhe todos os dias no Instagram: @hinerasky