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A moda conta sobre a emancipação feminina


A última sexta-feira celebrou o Dia Internacional da Mulher, período onde se intensificam as discussões sobre a sua condição na sociedade, sob diferentes campos. O vestuário também contribui no processo de emancipação feminina. A moda, enquanto fenômeno social, revela que sua relação com as mulheres está além da estética.

O século 20 foi o mais marcante no que se refere à construção do vestuário e da independência feminina. Um reflexo do próprio tempo, caracterizado por várias mudanças, seja no âmbito cultural, político, econômico e social. Neste, alguns momentos se destacam na jornada rumo à emancipação. Entre eles, destaco quatro pontos:

1. Adeus, espartilho!

Fotos: reprodução Pinterest

Por muito tempo as mulheres foram comprimidas em espartilhos, algo que poderia trazer prejuízos à saúde. Eles foram itens do vestuário feminino que mais contribuíram para propagar uma visão das mulheres que caracterizou o século 19: o de seres frágeis, que deveriam ser protegidas por homens.

A amarração dos laços do espartilho também eram símbolos de virtude, pois se acreditava que quanto mais apertados mais virtuosa era a mulher. Assim, o desuso da peça, no início do século 20, simbolizou mais do que liberdade física, mas o início de uma nova mudança sociocultural.

Quem "libertou" as mulheres do espartilho foi o estilista francês Paul Poiret, que resignificou a silhueta feminina com suas criações, com destaque para os chemises e os vestidos soltos.

2. A polêmica calça feminina

Uma das peças mais básicas no guarda-roupa feminino são as calças, mas elas já foram polêmicas num passado onde as vestimentas eram distintas para mulheres e homens.

 No final do século 19, em plena época de reforma no vestuário, ocorreu uma tentativa de popularizar um modelo de calça feminina. Chamada de bloomer, ela contrastava com os vestidos pesados da Era Vitoriana e consistia em uma calça larga, estreita no tornozelo e sobreposta por uma saia. Tal modelo beneficiou a prática de ciclismo pelas mulheres.

Contudo, as calças femininas ganharam adesão apenas com a Primeira Guerra Mundial, quando as mulheres ocuparam espaços considerados "masculinos", como as atividades industriais.

No decorrer dos anos, a popularidade das calças veio com uma nova percepção, um novo estilo de vida para a mulher. Quem transmitiu esse novo olhar foi a estilista Coco Chanel (foto), com o "pijama de praia", com calças de pernas folgadas, inspiradas nos marinheiros. Uma moda que se alastrou e popularizou a versão feminina das calças para o cinema e foi inspiração entre as atrizes.

3. A revolução da minissaia



A moda também registra os movimentos políticos e a efervescência cultural de uma época. Foi isso que ela mostrou a partir da segunda metade do século 20, quando iniciou um novo período permeado por vários estilos. A década de 60 foi caracterizada por mudanças sociais, onde os jovens transformaram o vestuário numa forma de contestação e de construção da identidade.

Nesse movimento, as saias subiram suas bainhas: era a vez da minissaia. Esse modelo de saia rompeu com antigos padrões e foi símbolo de uma nova geração de mulheres que estavam além da esfera doméstica. Elas buscavam romper com o passado, mais liberdade, mais poder sobre seus corpos (chegavam as pílulas anticoncepcionais) e iam para as ruas protestar. A minissaia surgiu, então, com cunho político.

4. Vestida para os negócios

A mulher de negócios instaurou uma nova identidade feminina na moda durante os anos 80. Ela deixou de lado as saias longas da década anterior e foi apresentada pela moda para ser vestida para a ascensão profissional. Foi um novo olhar da moda para as mulheres a partir do mercado de trabalho.

O vestuário construiu estereótipos em torno da mulher líder, séria, que vestia salto alto de ponta fina, camisas com ombros grandes, saia justa e alongada. As passarelas criaram um modelo feminino de sucesso associado ao poder, requinte e sensualidade, chamado de glamazon.

Século 21: a vez e a voz da mulher gorda
A relação da moda com o público feminino adotou nova abordagem a partir do século 21, principalmente em relação às mulheres gordas. Durante muitos anos, as suas tendências foram voltadas apenas para pessoas que se encaixavam em determinado ideal de beleza. Porém, ela foi utilizada pelo público plus size para questionar a indústria e construir um discurso de resistência e de autoestima.

Diferentes peças são utilizadas por pessoas plus size para mostrar que a moda é ou deve ser para todos. Elas também servem para romper com regras que limitam o que uma pessoa pode ou não usar devido às características físicas.

Tal mudança ainda cedeu espaço para modelos com tamanhos maiores, como a supermodel Tess Holliday, e assim, para que mulheres com outros tipos de corpo se sintam representadas.

 Desta forma, a moda acaba por se transformar em instrumento de empoderamento e de voz para o segmento, que ganha espaço tanto nas redes sociais quanto na mídia.






















Fontes desta coluna

  • BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
  • CAMPOS, Ludimila Caliman. No afrouxar dos espartilhos: uma análise interdisciplinar acerca da formação da identidade ocidental feminina durante Primeira Guerra Mundial sob a ótica da indumentária. Revista Eletrônica História em Reflexão, v. 6, n. 12, p. 01-18, UFGD, jul/dez 2012.
  • FOGG, Marnie. Tudo sobre moda. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
  • ISAIA, Letícia Sarturi. A revolução fashion: os blogs como instrumentos de consolidação da identidade plus size.
  • Dissertação de Mestrado, Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura. Universidade do Minho, Portugal, 2015.
  • LURIE, Alison. El Lenguaje de la Moda. 2. ed. Barcelona: Paidos, 2004.
  • MESQUITA, Cristiane. & JOAQUIM, Juliana Teixeira. Rupturas do vestir: articulações entre moda e feminismo. Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e UnespBauru, p. 87-101, 2012.
  • Modices. A história e resistência da minissaia. Disponível neste link

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