À medida que nos aproximamos do Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, o Informativo da APUSM dedica espaço especial para refletir sobre os desafios e as transformações da educação. Para isso, trazemos a visão da professora Martha Adaime, vice-reitora e reitora eleita da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que em breve assumirá oficialmente o comando da maior universidade pública do interior do Rio Grande do Sul.

Associada da APUSM desde 20 de setembro de 1989 e integrante de gestões anteriores da entidade, Martha construiu sua trajetória acadêmica na UFSM, onde também já contribuiu como dirigente da associação. Hoje, com a experiência de quase quatro décadas no ensino superior, ela ressalta que a docência sempre foi movida mais pela paixão de ensinar do que pelo retorno financeiro. “Nunca vimos um professor rico que não tenha herdado fortuna. O que nos move é o brilho no olhar e a vontade de ensinar”, resume.
Entre os principais desafios atuais, Martha aponta a necessidade de acompanhar a evolução tecnológica e de compreender as mudanças no perfil das novas gerações. A sala de aula tradicional, baseada apenas na exposição do professor, já não satisfaz. “O professor precisa ser mediador. A aprendizagem hoje precisa estar conectada com projetos, problemas reais e vivências que façam sentido para os estudantes. É isso que estimula, que mantém a motivação”, afirma.
Ela também reforça que a formação universitária precisa contemplar temas contemporâneos como diversidade, inclusão, meio ambiente e direitos humanos. “Precisamos ir além da especialização. Questões sociais e culturais devem estar no centro do debate em sala de aula. Esse também é o papel do professor”, destaca.
A trajetória docente, porém, tornou-se mais complexa nas últimas décadas. Se antes o ensino era a prioridade, hoje a universidade exige também forte produção científica e compromisso com a extensão universitária. “Isso gera acúmulo de tarefas para o professor, que além de ensinar, precisa pesquisar, orientar, gerir projetos e muitas vezes assumir cargos administrativos. Esse equilíbrio é sempre um desafio”, observa.
Ao assumir a reitoria, Martha encara mais uma etapa de grandes responsabilidades, mas também de maturidade. “Esse é um momento muito bonito da minha carreira e também para a universidade. É uma conquista que simboliza a quebra de uma tradição histórica, já que a UFSM sempre teve reitores homens. Hoje, me sinto preparada para esse desafio, com a tranquilidade de quem sabe que é preciso identificar fragilidades e trabalhar para superá-las.”
Mesmo diante das conquistas, Martha destaca que o que a mantém ativa é a inquietação própria do educador. “Eu poderia estar aposentada há dez anos, mas o que me mantém viva são os desafios, é aprender com as novas gerações. É isso que movimenta a vida”, afirma.
Com um histórico marcado pela pesquisa em Química e pela atuação no ensino superior, Martha reforça sua crença no impacto que o professor tem na vida dos estudantes. “Nós temos multiplicadores em nossas mãos. Cada aluno pode levar adiante os conhecimentos e valores aprendidos e, assim, mudar o mundo. Esse é o lado mais bonito da docência”, ressalta.
Ao longo da carreira, estima que mais de 5 mil estudantes já passaram por suas aulas. “É lógico que nem todos absorvem tudo, nem todos te têm como exemplo. Mas, se 10% desses 5 mil lembrarem de mim de forma positiva, já é uma diferença enorme. Esse é o poder transformador da educação.”
Às vésperas do Dia do Professor, Martha Adaime deixa uma mensagem de inspiração e de esperança à comunidade docente: “A educação é para transformar realidades e mudar o mundo. Nós, professores, temos esse poder em nossas mãos. É preciso acreditar nisso.”