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Você conhece as suas emoções?

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Reprodução

Você conhece as suas emoções? Qual a diferença entre emoção e sentimento? Nascemos com determinadas emoções ou as adquirimos com o tempo? Essas e outras questões foram abordadas no Faz Sentido do último domingo, 17 de janeiro. Para falar a respeito deste tema, a jornalista Fabiana Sparremberger recebeu o psicólogo Carlos Eduardo Seixas, o Cadu. Confira como foi essa conversa.

Fabiana -Cadu, como é possível diferenciar emoção de sentimento?

Seixas - Devemos diferenciar o que vem de nascença. Todo organismo é capaz de sentir independentemente de qualquer experiência. Nascemos com as emoções. Já os sentimentos são os sentidos que damos para as nossas emoções. Toda mente vem com uma capacidade de se emocionar, ou seja, somos formados com capacidade de sentir cinco tipos de emoções, o mesmo que ocorre com os animais.

Fabiana - Mas essa capacidade não é afetada em caso de algum problema na saúde mental?

Seixas - Sim, caso estejamos falando a respeito de problemas de neurodesenvolvimento ou características cerebrais diferenciadas. Quando essas partes são afetadas de alguma forma, pode haver comprometimento na maneira em que se lida com as emoções.

Fabiana - Quais são as cinco emoções inatas do ser humano?

Seixas - Raiva, alegria, tristeza, repulsa e medo.

Fabiana - Nesse placar aí, podemos dizer que são quatro emoções negativas e apenas uma (alegria) positiva?

Seixas - Não, necessariamente. Porque a raiva e a tristeza não podem ser positivas? Nós, psicólogos, usamos os termos funcionais ou disfuncionais para essas situações. As emoções não são nem boas nem ruins. São necessárias. A alegria é um tipo de satisfação que reforça a identidade. Conseguimos perceber o que nos gratifica. Quais os primeiros sinais de alegria que percebemos em um bebê? Geralmente, é quando o pegamos no colo ou quando o alimentamos. Já a tristeza está sempre relacionada a características de alguma perda. O choro de um bebê no parto é uma mescla de uma tristeza por ser tirado de um ambiente confortável e de uma raiva pelo "desrespeito" de tirarem esse conforto dele. Da mesma forma, ocorre com o medo. Todos nós o sentimos. As pessoas também choram por algo positivo, por exemplo.

Fabiana - Como identificar essa mistura de sentimentos?

Seixas - Nem todo o choro é uma característica de tristeza. Ele pode vir com a conquista de algo. Quando a gente tem uma tristeza, temos uma falta, uma ausência. Quando suprimos essa tristeza, vem a alegria, e a alegria sem tristeza não existe.

Fabiana - Então, a tristeza também pode ser um sentimento positivo?

Seixas - Isso é resultado de como interpretamos o "estar triste". Se pensarmos que ficar triste é feio ou sinal de fraqueza, se tenho vergonha de demonstrar esse sentimento, ele pode ser negativo. Mas a tristeza também é legítima, vem de perdas, medos, luto. As emoções sempre indicam nossas necessidades. Precisamos senti-las.

Fabiana - E quanto à repulsa?

Seixas - A repulsa é a ação do corpo ao reagir a algo estranho. É "colocar para fora" o que faz mal e nos ameaça. Um barulho pode provocar uma repulsa.

Fabiana - Tudo bem a gente sentir medo, então? Faz parte da nossa essência...

Seixas - Medo é a resposta ao nosso instinto de sobrevivência. Não é uma covardia, é uma proteção. O problema é quando tememos aquilo que, na verdade, não é uma ameaça para nós.

Fabiana - Pelo que dizes, então, Cadu, o medo pode ser uma emoção e um sentimento ao mesmo tempo...

Seixas - Exato. Não precisamos questionar a alegria, tristeza, medo, repulsa e raiva. Existem estímulos que provocam isso. Nosso problema nunca está no emocional, mas em como pensamos ou agimos quando estamos emocionados. Ou seja, está na maneira como respondemos a esses estímulos.

Fabiana - Podemos concluir que as cinco emoções inatas vêm do nosso instinto de sobrevivência?

Seixas - Sim, é importante frisar isso. O resto é aprendizado. Não esqueçamos, também, que toda emoção tem uma função positiva e necessária, mesmo que não seja agradável.

Fabiana - A partir desses conceitos, compreendemos que os outros sentimentos estão ligados às experiências...

Seixas - Todos os sentimentos que não fazem parte dos cinco principais são associados a experiências, ou seja, são aprendizados. Por exemplo, a inveja, culpa, ciúmes e frustrações.

Fabiana - Como saber a diferença entre inveja e ciúmes?

Seixas - Inveja envolve poder, status e aquisição. Ciúmes envolve pessoas, entra no campo afetivo. É quando a gente questiona a falta de atenção de alguém para conosco. É reivindicar o amor que gostaríamos de ter, mas foi entregue a outra pessoa. Mais uma vez, não é uma questão de pensamento positivo ou negativo. Os problemas podem surgir com as nossas reações a tudo isso.

Fabiana - A inveja como fator de motivação e desacomodação, então, é positiva?

Seixas - Exato. Eu não sinto inveja dos jogadores de futebol que têm iate. Eles estão fora da minha alçada, de um modelo que possa me motivar. No entanto, se eu sentir inveja de algo que está ao meu alcance, posso me motivar a me aperfeiçoar. Já, quando a vontade é tirar o outro do lugar que ele conquistou, tenho um sentimento negativo.

Fabiana - Quando esses sentimentos passam a ser um problema?

Seixas - Quando eu desejo estar no lugar de alguém, mas tomo isso como exemplo para crescer, a inveja não é negativa. Mas, quando essa sensação gera irritabilidade, rancor, raiva, é prejudicial. Se o ciúme nos motiva a cuidar mais do relacionamento e a repensar atitudes para melhorar, ele é positivo. Mas, a partir do momento que entram desconfiança, irritabilidade, conflitos e acusações, começa a ficar problemático.

Fabiana - Precisamos saber lidar com a culpa quando não conseguimos lidar bem com nossas emoções...

Seixas - A culpa é absorvida na sensação de termos violado algum padrão que, para nós, é o ideal. É quando a autocrítica se torna punição. Já a responsabilidade nos faz repensarmos as atitudes e a agir de forma diferente. Um erro é um acerto se conseguimos aprender com ele. A dica é transformar o sentimento de culpa em responsabilidade.

Fabiana - A vergonha também está atrelada ao sentimento de culpa?

Seixas - Sim, mas ela está diretamente relacionada ao pensamento dos outros a nosso respeito. É quando nos sentimos fora de um padrão. Isso vem muito da cultura, da forma em que fomos criados e dos aprendizados.

Fabiana - Até onde regular as emoções é saudável? Tenho dificuldade com quem tenta fazer isso em todas as ocasiões, ou seja, aquela pessoa que é sempre do mesmo jeito, mesmo em situações críticas...

Seixas - Acho superpertinente a tua crítica, porque se a pessoa entra nesse modelo robotizado de regular as emoções, ela não está aprendendo corretamente. O ser humano é naturalmente instável. Todo dia, a gente acorda com um humor diferente. Cada novo aprendizado precisa de tempo até se tornar habilidade. Teinar as emoções de forma rígida nunca é saudável.

Fabiana - Mas como equilibrar as emoções de forma natural?

Seixas - Com treino. Ou seja, regulamentar o emocional precisa ser um exercício natural e espontâneo. Não pode ser com a rigidez comportamental de sentimentos. É sobre deixar fluir e manter uma atenção plena a respeito do que está acontecendo. Isso é equilibrar.

Fabiana - Ou seja, não precisamos agir como robôs...

Seixas - Exatamente. Se você tem algum tipo de sentimento é porque ele é importante. Se começar a sentir medo e julgar que tudo é errado, você vai entrar no sentimento, e não na emoção. 

COMO LIDAR COM AS EMOÇÕES

  • Observe como elas são ativadas, o que realmente está acontecendo
  • Não julgue o que sente. Apenas se conecte com a situação
  • Ao se conectar, você conseguirá identificar e nomear o que sente
  • Permita-se reinterpretar o momento
  • Pergunte-se como irá se relacionar com as suas emoções. Vai continuar da mesma forma? Irá fazer algo diferente?
  • Aprenda a abrir mais espaço para as suas emoções
  • Considere os momentos emocionais da sua trajetória e procure levar a vida com mais sintonia com eles
  • Seja flexível para viver em consonância com os sentimentos para que possa ser mais feliz

O FAZ SENTIDO FOI ÀS REDES E PERGUNTOU

Dessas emoções, qual você mais sente?

  • Alegria - 185
  • Tristeza - 141
  • Medo - 132
  • Raiva - 125
  • 583 participações

Você sabe lidar com os seus sentimentos?

  • Não - 268 (51%)
  • Sim - 261 (49%)
  • 529 participações

Inveja, ciúmes, vergonha e culpa...

  • Adquirimos com o tempo - 470
  • Nascemos com elas - 77
  • 547 participações

Regular as emoções

  • A gente treina até aprender - 376
  • Não controlo. Sou como sou - 147
  • Nada a ver. Não dá - 42
  • 565 participações

Inveja e ciúmes...

  • Admito, eu tenho - 324
  • Desconheço - 95
  • Só os outros têm - 32
  • 451 participações

PROGRAMA FAZ SENTIDO
"Do que as nossas crianças e adolescentes mais precisam hoje em dia"? Esse é o tema do Faz Sentido deste domingo, às 11h, na TV Diário e na rádio CDN, com a jornalista Fabiana Sparremberger e o psicólogo Patrick Camargo. Com participação recorde de público na enquete do quadro Deixa Fluir: quase 2 mil votos!


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