Longas filas

Sobrecarga do sistema de saúde causa demora nos atendimentos da UPA 24h

Sobrecarga do sistema de saúde causa demora nos atendimentos da UPA 24h

Fotos: Nathália Schneider (Diário)

Há cerca de 60 dias, segundo informações da prefeitura de Santa Maria, o Pronto-Atendimento (PA) do Patronato, da Tancredo Neves (Ruben Noal) e a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA 24h), registram um aumento considerável na busca atendimentos. Na UPA 24h, no Bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, os sintomas entre os pacientes são diversos. Com a mudança de temperatura, perto da chegada do inverno, problemas respiratórios começam a aparecer, algo comum para esta época do ano. No entanto, os casos de dengue no município, junto com o aumento da influenza A e B, além dos sintomas causados pelo vírus sincicial respiratório, levam a uma sobrecarga no sistema de saúde. 

De acordo com o responsável Técnico e Administrador Interino da UPA 24h, Michel Finger Schmidt, 80% destes atendimentos são relacionados a casos que poderiam estar procurando atendimento na Rede de Atenção Básica. Ou seja, baseado no Protocolo Manchester para organizar a ordem de atendimentos - classificação do Sistema Único de Saúde (SUS) -, os usuários com menos urgência são atendidos, mas os casos mais graves, serão priorizados. A reportagem esteve neste serviço de pronto-atendimento, na quinta-feira (25), e em alguns relatos os pacientes primeiro tentaram as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Estratégias de Saúde da Família (ESFs), no entanto os medicamentos indicados não surtiram efeitos e os sintomas permaneceram, por isso a busca pelos prontos-atendimentos. 

Longa espera 

O construtor civil Gelson Machado, 43 anos, morador do Bairro Caturrita, contou ao Diário que está há mais de uma semana com falta de ar e dores nos pulmões. Gelson estava, pela segunda vez, buscando ajuda na UPA, porque as medicações que recebeu na primeira consulta não diminui os sintomas, além de ter realizado um teste de Covid-19 que deu negativo.

– É a segunda vez que eu venho aqui e continuo mal.Vim em busca de socorro e de diagnóstico, para saber o que realmente tenho. To cada vez pior. Tomei as medicações que me indicaram, mas não adiantou. Tentei procurar o PA esta semana, mas estava superlotado – conta Gelson. 

Em conversa com o Diário, o construtor civil estava a mais de 2 horas esperando para passar pela triagem antes de ser atendido.

O construtor civil Gelson Machado, 43 anos, morador do Bairro Caturrita

Já o ajudante de refrigeração Guilherme Vieira de Olinda, 25 anos, morador do Bairro Km 3, estava desde às 14h30min na UPA, junto com a mãe, a dona de casa Jucemara da Silva Vieira, 40, e a sobrinha Maria Vitória Vieira, 5 meses. Às 18h30min, a pequena já havia sido atendida e liberada. Mas, Guilherme e Jucemara, que apresentavam sintomas de dengue, como febre alta, dor de cabeça e no corpo, estavam esperando pela consulta e para fazer o teste, que confirma ou não se estavam com a doença. 

– Depois que a gente for atendido, tem que esperar mais 4 horas para saber o resultado do exame. Desde domingo passado que estou com sintomas e procurei o posto de saúde, mas falaram que era só uma gripe, que eu estava com imunidade baixa, e me deram um anti-inflamatório. Só que os sintomas continuaram – explica Guilherme. 

Além dos adultos, crianças com febre muito alta estavam na fila da UPA, na quinta-feira (25). Como é o caso da Pietra da Silva Ribas, 5 anos, moradora do Bairro Diácono João Luiz Pozzobon, que estava com a mãe, a doméstica Jaqueline Munhoz, 24, e com o pai, o servente João Paulo da Silva Ribas, 24. Às 18h40min, Pietra tinha acabado de passar pela triagem.

– Nós chegamos era 16h30min, a minha filha estava com muita febre. Acabamos de passar pela triagem e é possível que seja suspeita de dengue, mas estamos esperando. O pai dela está com os mesmo sintomas. Só abaixou um pouco a febre dela, porque precisei dar um remédio, senão não estava diminuindo – relata a mãe, Jaqueline.   

A pequena Pietra da Silva Ribas, 5 anos, que estava com a mãe, a doméstica Jaqueline Munhoz, 24

Número de atendimentos 

Conforme o responsável Técnico e Administrador Interino da UPA 24h, Michel Finger Schmidt, com o aumento da demanda dos últimos dois meses, para conter ou ao menos diminuir o tempo de espera dos pacientes que aguardam consultas não urgentes, está sendo acionado o ‘reforço médico’, em diversos turnos e em vários dias.

– São muitos casos de pessoas que vem com diagnóstico de Dengue das Farmácias e vem para receberem orientação, tratamento e atestado médico. Temos que esclarecer para população que os tempos dentro dos consultórios também estão maiores por conta deste aumento de casos de dengue em que muitos dos sintomas se confundem com síndromes gripais – explica Schmidt.

Além disso, o Técnico e Administrador Interino, afirma que não tem como prever a normalização dos fluxos, pois os serviços de saúde vivem o pós-pandemia, em que muitas situações são novidades para os profissionais. 

Os atendimentos de pacientes na UPA neste ano (2023)

  • Janeiro – 7.192
  • Fevereiro – 5.965
  • Março – 8.464
  • Abril – 8.815
  • Maio – 7.446 (até o dia 25/05)

E, em 2022:

  • Abril – 11.373
  • Maio – 13.030

O que diz a UPA

Conforme o responsável técnico Michel Finger Schmidt:

“Naturalmente desde março, num período em que a retomada das aulas, a volta por completo de atividades e serviços com aglomeração de pessoas, associado, entre outros, ao período de pós-Carnaval e a agudização de condições crônicas que, durante a pandemia de Covid-19, não tiveram, em sua grande maioria, o devido acompanhamento, traz a sobrecarga dos estabelecimentos de portas abertas. Cabe ressaltar que cerca de 80% destes atendimentos são relacionados a casos que poderiam estar procurando atendimento na Rede de Atenção Básica. Ou seja, conforme a complexidade dos casos, baseados no Protocolo Manchester, os usuários são atendidos, mas precisam entender que os casos mais graves sempre serão priorizados. Nada que fuja do historicamente comum para época do ano, mas que traz como conseqüência a superlotação de Pronto Atendimentos/UPAS. Porém, isso tudo seria ‘normal’, se não tivesse surgido paralelamente a isso o aumento (‘surto’) de casos de dengue aliado a um expressivo aumento dos casos de Influenza A e B, além das infecções pelo vírus sincicial respiratório.

Cabe reforçar que, enquanto as demandas dos consultórios seguem aumentado, nossa sala vermelha também não interrompe seus atendimentos, ou seja, as prioridades que na sua maioria, não está sendo vista por quem aguarda consulta na recepção.

Para agravamento do cenário, a superlotação de hospitais acarreta em maior tempor dos pacientes ‘internados’ na UPA, não permitindo o referenciamento adequado e ‘obrigando’ estes a realizarem todo seu tratamento em um UPA 24h.

Para conter ou ao menos diminuir o tempo de espera dos pacientes que aguardam consultas não urgentes, estamos há mais de 2 meses acionando um, ou até dois, ‘reforços médicos’, em diversos turnos e em vários dias, mas também não está fácil para eles. Estão cansados também pelo grande aumento da demanda nestes últimos meses.

São muitos casos de pessoas que vêm com diagnóstico de dengue das farmácias e vêm para receberem orientação, tratamento e atestado médico. Temos que esclarecer para população que os tempos dentro dos consultórios também estão maiores por conta deste aumento de casos de dengue em que muitos dos sintomas se confundem com síndromes gripais, e isso gera necessidade de notificação compulsória, ou seja, maior tempo de consulta por conta da necessidade de um diagnóstico mais preciso, o que também implica, em muitas vezes, complementação com testagens para Covid ou dengue por exemplo, além da realização de RX e exames de Laboratório.

Não temos como prever a normalização dos fluxos, pois estamos vivenciando o pós-pandemia em que muitas coisas estão sendo ‘novidades’ para os serviços”

Leia o restante desta reportagem:

» Longas filas de espera e falta de pediatra no Pronto-Atendimento do Patronato

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