Ciava - acolhe saúde

Serviço que nasceu para atender vítimas da Kiss será mantido em Santa Maria

Thays Ceretta

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
O pedreiro Edson Rosa, 43 anos, teve queimaduras de 3º grau e faz tratamento no Ciava há cerca de 2 meses

Há cinco anos, um circuito de atendimentos que começou em função da maior tragédia do Rio Grande do Sul, o incêndio da boate Kiss, ganhou força e tornou Santa Maria referência em atendimentos de queimados no mundo. Logo após o incêndio, um termo de compromisso assinado entre Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), prefeitura, Secretaria Estadual de Saúde e Ministério da Saúde estabeleceu uma rede de cooperação entre as entidades.

Assim nasceu o Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (Ciava), dentro do Husm. Criado para atender vítimas de queimaduras, já fez 18.204 mil atendimentos somente com pessoas ligadas à tragédia da Kiss, mas, por se tornar referência no atendimento, a equipe multidisciplinar - composta por pneumologia, otorrinolaringologia, psiquiatria, dermatologia, nutrição, farmácia, terapia ocupacional, serviço social, educação física, enfermagem, fonoaudiologia e fisioterapia - sentiu a necessidade de ampliar o serviço para outras pessoas que não foram afetadas pela tragédia. 

Assim nasceu também o atendimento psicossocial por meio do programa Acolhe Saúde, de responsabilidade da prefeitura. Ao Estado coube a responsabilidade pela entrega dos medicamentos especiais.

E a rede integrada entre Husm, prefeitura e Estado deu forma ao convênio que, cinco anos depois da maior tragédia brasileira, terminou nesta quinta-feira.

Mas, o vai acontecer com os atendimentos?
O convênio entre os órgãos será prorrogado?  

CIAVA
Apesar de não ter sido renovado ainda, uma coisa é certa: os atendimentos no Husm não vão parar. A gerente de Atenção à Saúde do Husm, Soeli Guerra, diz que o Husm tem interesse em renovar o convênio, porém, se isso não acontecer, os atendimentos vão continuar normalmente. 

- Um termo desses é importante porque ele coloca permanentemente no cenário de discussões a questão dos eventos de massa. Esses convênios legitimam e fortalecem essa necessidade de melhorias, de segurança dos locais onde circulam um grande número de pessoas. Além disso, responsabiliza gestores. Eles precisam se sentir responsáveis e se colocar no papel de entes públicos, então, para nós, tem esse caráter. Por isso, em outubro do ano passado, nós fomos fazer a defesa da renovação do convênio no Conselho Nacional de Saúde. Os atendimentos vão continuar, o Ministério da Saúde assinando ou não. Mas, assinando, ele se responsabiliza que a população tenha o devido atendimento - ressalta Soeli.

ACOLHE SAÚDE
Conforme a Coordenadora da Política de Atenção Psicossocial do município, Claudia Pinto Machado Melo, o objetivo é continuar com o serviço, mas não só para quem está ligado à tragédia, e, sim, para toda a população. Para isso, o local vai mudar de endereço, com um espaço mais amplo, e os funcionários serão contratados pelo município.

- O Acolhe vai continuar de qualquer forma, o que vai mudar é a configuração do serviço. Nós não temos hoje como priorizar o sofrimento. Vamos ter uma equipe que acolhe, além das vítimas da Kiss, outras questões, outros encaminhamentos que estamos estudando. A memória do Acolhe vai continuar dentro do serviço, mas não vai ser mais aberto só para sobreviventes da Kiss como foi o objetivo nesses cinco anos, vamos continuar atendendo esse grupo e abrir para toda a população. Estamos redefinindo o Acolhe Saúde, existe uma casa na Rua 13 de Maio, e o Acolhe vai funcionar nesse imóvel que é do município. A reforma já começou - explica a coordenadora

MEDICAMENTOS
Dentro dessa aliança de atendimentos, a dispensação dos remédios aos sobreviventes do incêndio ficou a cargo do Estado. Conforme o coordenador da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), a intenção é renovar o convênio, mas, mesmo que não haja renovação da pactuação, a entrega dos medicamentos continuará sendo feita pelo Estado desde que siga as orientações judiciais. 

- Temos interesse em manter o convênio, sim, todos aqueles medicamentos que são de responsabilidade do Estado, eles vão ser fornecidos independentemente de convênio ou não, desde que eles se enquadrem dentro das regras estabelecidas da assistência farmacêutica do Estado. O convênio é uma segurança jurídica - comenta Roberto Schorn.

O FUTURO DO CONVÊNIO

Questionado pela reportagem sobre a renovação do termo de cooperação que reúne as frentes de atendimento, o Ministério da Saúde respondeu, em nota, o seguinte: 

"O Ministério da Saúde esclarece que os procedimentos técnicos e operacionais de atenção à saúde das vítimas, familiares e profissionais envolvidos no incêndio da Boate Kiss, em janeiro de 2013, no município de Santa Marias (RS), foram realizados com sucesso dentro do que estava previsto no Termo de Compromisso assinado por esta pasta. O objetivo era prestar a assistência imediata e especializada aos queimados, o que efetivamente já aconteceu. Vale reforçar que os termos envolvidos na atenção às vítimas e seus familiares, o que inclui o atendimento psicossocial, já integram o rol de serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil, incluindo o município de Santa Maria. Por fim, o Ministério da Saúde informa que a decisão de manter os dois serviços de saúde criados a partir da tragédia, que são o Ciava e o Acolhe Saúde, compete às Secretarias Estadual e Municipal de Saúde." 

Uma reunião na próxima segunda-feira, entre Husm, 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, prefeitura e associação das vítimas e sobreviventes da tragédia de Santa Maria, está marcada para que cada órgão apresente uma proposta para analisar se irão renovar o convênio. A ideia é apresentar as propostas para o Conselho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde para decidir se todos irão renovar a pactuação. 

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REFERÊNCIA MUNDIAL
Em agosto do ano passado, os profissionais do Ciava colaboraram à distância na assistência técnica de sobreviventes de um incêndio em uma floresta em Portugal. Além disso, um grupo foi até a cidade de Janaúba (MG), em outubro do ano passado, para auxiliar os profissionais que atenderam as crianças vítimas de um incêndio em uma creche. O exemplo do trabalho também foi exportado para a França, para que os hospitais saibam como atender as vítimas dos atentados.

Foi no mesmo ano da tragédia que o Ciava atendeu não só os sobreviventes da Kiss, mas também vítimas de outros acidentes como choque elétrico, queimadura com água quente, acidentes com fogo e queimaduras domésticas. É o caso do pedreiro Edson Rosa, 43 anos. Em novembro do ano passado, ele e a família estavam em uma festa de aniversário em São Gabriel quando Rosa foi fazer um churrasco e acabou sofrendo queimaduras de 3º grau ao acender o fogo na churrasqueira. Ele teve braços, mãos e tronco queimados. Rosa fez enxerto em Porto Alegre e, para não ficar sem os movimentos e a elasticidade da pele, faz tratamento no Ciava há cerca de dois meses.

- Na hora, foi um susto, consegui livrar o rosto. Estou sem trabalhar por causa das marcas e manchas, não posso pegar sol. Desde que comecei o tratamento aqui, percebi que os movimentos voltaram. Tinha medo que a pele ficasse enrugada. Minha situação já evoluiu bastante. É importante o atendimento para os sobreviventes da Kiss e para quem sofre outros acidentes como eu. O tratamento está ajudando bastante na recuperação - conta Rosa.

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