pandemia

Santa Maria não dispõe de testes para Covid com diagnóstico na rede pública

Felipe Backes e Leonardo Catto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

As amostras para testagem da Covid em Santa Maria não têm o diagnóstico feito na cidade pela rede pública. O motivo para que o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e o Laboratório de Diagnóstico Molecular da Universidade Franciscana (UFN) não analisem mais o material genético de pacientes é a falta de insumos. Agora, toda coleta do Sistema Único de Saúde (SUS) cabe ao programa Testar RS, do governo estadual. Desde o começo da pandemia, Husm e UFN foram responsáveis por 86% dos testes de Santa Maria, conforme o boletim epidemiológico da prefeitura.

Protesto pede retomada presencial das aulas práticas na UFSM

TESTES PCR

  • Lacen - 259
  • Testar RS - 6.895
  • UFN - 22.491
  • UFSM - 44.342
  • Unipampa - 3.030

Fonte: boletim epidemiológico da prefeitura, atualizado em 23 de outubro com dados desde o começo da pandemia

No Husm, os exames foram restringidos apenas a internados na instituição desde o começo de setembro.Por outro lado, a demanda é considerada baixa, e o tempo médio de espera pelo resultado é 48 horas, segundo o Estado. A UFSM busca parcerias para garantir recursos e voltar a oferecer a testagem para a população.

- A verdade é que temos um limite de insumos. Os recursos que vieram para essa rubrica esgotaram. Como a demanda reduziu de forma bastante significativa e o município vem atendendo essa demanda, o hospital foi aos poucos se retirando e colocando alguns critérios para a realização dos exames - explica o reitor da UFSM, Paulo Afonso Burmann.

A Universidade está em busca de recursos para a compra dos reagentes, que estão em faltas. O Husm não dispõe do valor, e há uma tratativa com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o hospital, e outros órgãos que já apoiaram a universidade anteriormente. Também se estuda a possibilidade de alguma destinação especial de recursos do orçamento da UFSM, mas ainda não há uma perspectiva concreta.

De acordo com a coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Fabrícia Ennes da Silva Costa, a demanda por testes é baixa e os encaminhamentos são feitos pelo projeto Testar RS. Com isso, as amostras da região são enviadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS), em Porto Alegre, ou para laboratórios de fora do Estado, como em Curitiba, no Paraná. Nesta semana, as amostras da região são analisadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

O tempo médio para recebimento do resultado é de 72 horas. Já o máximo é de cinco dias, mas esse período é raro segundo a secretária-adjunta da Saúde do município, Ana Paula Seerig.

- A gente está mandando todos os nossos testes para o Testar RS. Tem levado em média de 72 horas. Excepcionalmente, leva de quatro a cinco dias. O que não consegue, por exemplo, é algumas situações como profissional da saúde, ou outro caso mais urgente. Ter um laboratório no município, nos facilitaria isso - explica.

Ana Paula reitera que o município mantém diálogo com o Estado para que sejam trabalhadas alternativas na testagem.

O QUE DIZ O ESTADO
O Testar RS foi lançado ainda no ano passado. Santa Maria conta com um centro regional de triagem, na sede da 4ª CRS, que reúne também amostrar das regiões de Alegrete e Cruz Alta. A partir deste centro, as amostras recolhidas são encaminhadas para laboratórios cadastrados em Porto Alegre ou outros Estados. Existem, no Rio Grande do Sul, seis centrais regionais, que tem como função agilizar o envio dessas amostras para diminuir o tempo de resposta.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) reiterou que já disponibiliza insumos para testes rápidos, além do Testar RS. Esses, contudo, são menos sensíveis para o diagnóstico. Na última semana, o governo estadual anunciou a terceira fase do Testar RS. A ideia é espalhar pontos de testagem fora das Unidades Básicas de Saúde (UBS) em locais estratégicos do Estado, como litoral, fronteira, região da Serra e outros municípios com mais de 100 mil habitantes. Será também vinculado a Operação Verão Total 2021/2022, que engloba ações da gestão estadual em municípios que recebem grande contingente populacional no período de veraneio. 

VÍDEO: maior horta comunitária de Santa Maria atende 20 famílias e será expandida

DIAGNÓSTICOS PODERIAM SER NO MESMO DIA
A demanda pela testagem em Santa Maria é reduzida se comparada a momentos anteriores. Conforme Ana Paula Seerig, em abril, o município teve média de 1.800 testes feitos por semana. Em outubro, até então, o dado é de 500 semanais. A redução é de 46%.

O motivo, segundo a adjunta, não é os laboratórios locais terem parado a testagem. Ela também afirma que a capacidade de testagem não é reduzida, já que o Testar RS tem disponibilidade ilimitada.

- A gente não tem limite de testes para encaminhar ao Testar RS. Mesmo que aumente (a demanda), vamos continuar mandando para o Testar. Não há impeditivo - conta.

O coordenador do laboratório da UFN, Huander Felipe Andreolla, lamenta que o Estado não repasse insumos para o diagnóstico PCR no próprio município. Segundo ele, seria possível fazer a testagem no mesmo dia de coleta se os kits para testes fossem enviados.

- O PCR em até cinco dias não tem muita valia, a não ser para boletim epidemiológico. Se alguém espera leito, em cinco dias pode vir a óbito. Se alguém está infectado há cinco dias, pode transmitir sem saber para várias outras. Dispomos de infraestrutura, logística e capital humano para os exames. Só que não temos kits de PCR. Com recursos, conseguimos entregar (o resultado) de seis a oito horas - afirma.

Andreolla define a região de Santa Maria como "estratégica" para controle epidemiológico, já que há grande circulação de pessoas pelo centro do Estado. O professor de Biomedicina reitera, ainda, a importância da testagem no cenário de vacinação avançada.

- As vacinas têm alta efetividade. Indiferente da vacinação, precisamos continuar a testagem. É essencial, mas a vacinação não exime a necessidade de continuar testando. A gente só vai saber se a pandemia ou a epidemia estiver controlada quando se tem testes. A circulação do vírus não é quantificada pelo percentual de vacinados - explica.

Prefeitura divulga calendário de vacinação até começo de novembro

IDENTIFICAÇÃO DA VARIANTE DELTA TAMBÉM É PREJUDICADA
Conforme Burmann, o Laboratório de Bioinformática aplicada à Microbiologia Clínica segue com testes de identificação da variante Delta. Entretanto, são analisadas apenas as amostras positivas de laboratórios privados, já que as demais são enviadas para fora de Santa Maria. Andreolla lembra que o diagnóstico e o sequenciamento são serviços complementares.

- Se não temos como identificar (a infecção), não vamos saber o que está circulando. Estávamos trabalhando com essa parceria. Não perdemos só o diagnóstico, mas também no sequenciamento. Seguramente, antes de sequenciar é mais importante identificar para orientar, ainda mais no momento em que são retomadas atividades - argumenta.

O médico infectologista do Hospital das Clínicas da USP e membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau, comentou o avanço da vacinação no país. Em post no Twitter, ele afirmou que a testagem deve continuar.

- Maioria vacinada significa infecções sem sintomas ou leves. Mortes, casos e internações deixam de ser relevantes para medir a Covid. Temos que testar mais para evitar subestimar a circulação viral. Ou seja: casos leves ou sem sintomas, sem teste (é) subestimação da Covid - escreveu.

Santa Maria tem, segundo o boletim epidemiológico da prefeitura 44.708 casos de infecções pelo coronavírus. Desses, 41.716 são apontados como recuperados. Entre os vacinados, 63% (179.797) da população já tem imunização completa, por duas doses ou dose única contra a Covid.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

we

Duas escolas investigam possível surto de doença diarreica aguda em Santa Maria Próximo

Duas escolas investigam possível surto de doença diarreica aguda em Santa Maria

Saúde