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Especialistas dão dicas de como se livrar de relacionamentos tóxicos

Luisa Neves

Foto: Renan Mattos (Diário)
Após viver em função das demandas de outras pessoa, Daiane resolveu cuidar dela

Não saber dizer "não" e ser permissiva demais com as amizades era o estilo de vida da nutricionista santa-mariense Angelina Holberbaum, 33 anos. Além disso, abrir mão dos próprios compromissos para priorizar a vontade de outras pessoas fazia parte da rotina dela, até que percebeu que vivia sufocada com as próprias decisões.

- Um dia, finalmente, percebi que minha vida não estava saudável. Eu deixava que as amizades me dominassem, não dava limites aos meus relacionamentos e pensava que tinha obrigação de estar constantemente disponível para os outros - conta Angelina.

No final do mestrado, cansada da pressão dos estudos e dos outros, Angelina procurou ajuda. Com acompanhamento profissional, abandonou as cargas negativas, aprendeu a dizer "não" e a cuidar das próprias prioridades.

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- Hoje, vivo muito melhor. Abandonei o que é tóxico, faço minhas escolhas e durmo em paz - diz a nutricionista.

Para ter mais qualidade de vida, a fisioterapeuta, Daiane Fontana Bordin, 25 anos, precisou selecionar os ambientes que frequentava. Muito dependente dos amigos, fazia de tudo para agradar os outros, deixando de fora as próprias opiniões e vontades. Assim como Angelina, ela procurou ajuda de uma especialista, que a ajudou a enxergar a vida de uma forma mais leve e muito mais feliz. Ela conta que, antes de abandonar vínculos tóxicos, aprendeu a conhecer a si mesma e a identificar as próprias emoções.

- Saber lidar com vínculos tóxico começa na vontade de mudar e no desejo de uma vida simples, mas com significado. Abrir mão do que passou e procurar algo novo é encorajador. Ambientes ruins, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, acabavam me afetando de maneira geral. Nem tudo é perfeito e precisamos de pessoas. No entanto, temos que ser fortes o suficiente para não desistir dos nossos princípios e do que realmente somos - afirma Daiane.

REPOSICIONAMENTO
Psicóloga em Santa Maria, Aline Bedin Jordão diz que o primeiro passo para lidar com vínculos tóxicos é o reposicionamento. Ela orienta que pessoas que estejam diante dessas situações se permitam ouvir a si mesmas.

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- Com esse discernimento, a pessoa terá melhores condições de se reposicionar. Ao perceber a própria implicação neste processo, o lugar que ocupa e o espaço que dá ao outro, de algum modo, você terá mais possibilidades de se desamarrar das demandas que são alheias - explica Aline.

Para a máster coach Vera Barbosa, de Santa Maria, quando as mulheres reconhecem as próprias fortalezas, não aceitam mais viver condicionadas a relacionamentos nocivos. É neste momento que elas reconhecem o valor pessoal e profissional. Então, tornam-se mais fortes, eliminam a culpa e a dependência do reconhecimento alheio.

- Três fatores precisam estar alinhados em nossas vidas: identidade, capacidade e merecimento. Precisamos compreender quem somos, reconhecermos nosso potencial e saber o quanto somos merecedores. Se algum desses fatores estiver em baixa, não conseguiremos nos livrar do aprisionamento - diz Vera.

RECONHECIMENTO
De acordo com Aline, vínculos nocivos estão presentes em todos os âmbitos e podem ter sérios efeitos também nas relações profissionais. Ela explica que algumas pessoas acabam se sujeitando a alguns tipos de violência ou abusos no ambiente de trabalho por se encontrarem fragilizadas emocionalmente. Nestes casos, é necessário que estejam atentas aos efeitos dos problemas cotidianos na saúde mental e na qualidade de vida.

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Mais uma vez, aqui, vale o reposicionamento. É preciso estar atento aos limites de cada um. Muitas vezes, a chave da questão pode estar no modo com que a própria pessoa permite que os mesmos problemas se repitam e em como ela se "empresta" ao outro. Nem sempre a solução é trocar de emprego - diz a psicóloga.

Reconhecer a situação de submissão e buscar possibilidades de se recolocar frente a ela é muito importante, ainda de acordo com Aline. Ela explica que esses processos nem sempre são fáceis. Além de serem trabalhosos, muitos vezes requerem tratamento, já que, a longo prazo, essas situações podem trazer prejuízos emocionais significativos.

Segundo a psicóloga e analista comportamental Lize Calvano, também de Santa Maria, a dificuldade de reconhecer o próprio valor é um prato cheio para possíveis abusadores no ambiente de trabalho. Ela explica que esses profissionais costumam reforçar a inferioridade dos colegas ou colaboradores, além de repetirem que o mercado de trabalho está difícil, que não vale a pena mudar de postura se quiser evitar demissões.

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- Vítimas dessas circunstâncias precisam romper com círculos viciosos, buscar independência, compreender que existem outros caminhos, saber que são capazes e se prontificar a estabelecer outro tipo de relações. Embora elas demorem a se dar conta do problema, precisam libertar-se da imposição de agradar o tempo todo. Só assim poderão desenvolver autoconfiança para seguir em frente - afirma Lize.

ADEUS AOS EXCESSOS
Além de não conseguir desvincular-se com facilidade de relacionamentos ou ambientes nocivos, há pessoas que, uma vez libertas, voltam a se envolver nos mesmos processos que tanto as prejudicavam. Muitas vezes, acreditam que a situação ou a pessoa mudou ou ficam na expectativa de que podem mudar a qualquer momento. Aline explica que algumas pessoas têm certa tendência às mesmas modalidades de relacionamentos, o que faz com que as experiências, boas ou ruins, sejam repetidas nas demais relações. Para a psicóloga, é importante reconhecer essas modalidades para resinificá-las e promover mudanças.

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- Relacionar-se comporta sempre algum grau de angústia e desacomodação. Os vínculos afetivos nos trazem crescimento e enriquecimento emocional, mas eles também têm o potencial de se tornarem altamente adoecedores, parasitários, nocivos - diz Aline.

Para a psicóloga, manter um relacionamento na expectativa de mudança do outro é um tanto quanto ilusório. O que se pode é estabelecer limites para si mesmo e reconhecer o que se quer.

- Assim, pode-se construir vínculos mais saudáveis, que escapem à repetição "tóxica" - adverte Aline.

Lize acrescenta que sair de relações abusivas é um processo demorado. Além disso, segundo a especialista, muitas pessoas levam dificuldades pessoais para o trabalho, o que gera desconforto na rotina profissional:

- Quem está em um relacionamento abusivo tende a se sentir sempre culpado ou devendo algo. É como se precisasse provar valor e produtividade o tempo todo. A culpa constante gera sofrimento. Quando a situação chega a este ponto, é hora de buscar ajuda.

BASTA
Enquanto houver permissão, os vínculos nocivos ganham força. Embora nem sempre ocorra de uma hora para outra, é fundamental decidir acabar com a situação. Lize diz que o primeiro passo é reconhecer o problema. Feito isso, estabelecer um diálogo para expor a situação e procurar soluções é a decisão mais correta.

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- Muitas vezes, ao se dar conta que perdeu o domínio da situação, o abusador fica mais severo. Assim que perceber que a conversa não teve efeito e que não há intenções de mudança, o ideal é dar um fim à relação - diz a especialista.

NA PRÁTICA

Conheça 13 atitudes que fundamentais que precisam ser tomadas por quem deseja ser mais livre e mais feliz:

  • Valorize as amizades. Invista tempo, atenção e carinho em quem sabe escutar, apoiar e cuidar
  • Não se preocupe tanto com a opinião dos outros
  • Aprenda a dizer não
  • Priorize tempo para si mesmo.Invista no cuidado do próprio corpo, tanto pelo bem-estar quanto pela beleza e saúde
  • Afaste-se de relacionamentos com pessoas que só criticam, botam para baixo, exigem e sugam energia
  • Coloque foco na própria vontade. Em primeiro lugar, agrade a você mesmo
  • Não se compare com os outros e valorize seus pontos fortes
  • Tenha um olhar generoso com seus defeitos Não se esconda, nem tenha vergonha de si mesmo
  • Brinque mais
  • Olhe a volta e saiba que não está sozinho
  • Com pessoas de confiança, fale a respeito de suas inseguranças, medos e vergonhas
  • Rir de si mesmo é uma forma de lidar com mais leveza com dificuldades ansiedades. É libertador
  • Construa um projeto de vida

Fonte: Mirian Goldenberg, antropóloga (Folhapress)

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