imunização

Dose reforço pode aumentar proteção de cinco a seis vezes contra o coronavírus

Leonardo Catto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

A aplicação de terceira dose ou dose reforço contra a Covid-19 começou na última semana em Santa Maria e já chegou a 1.577 santa-marienses. Por definição do Ministério da Saúde, isso é destinado a idosos acima de 70 anos, ou acima de 60 em Instituições de Longa Permanência, ou para imunodeprimidos. O maior controle de indicadores da pandemia (como casos, internações e óbitos) já era creditado por especialistas à vacinação. A expectativa, agora, é que haja ainda mais atenuação dos índices, o que leva a Covid-19 a ter características endêmicas, como a gripe.

A avaliação é feita por especialistas que acompanham o comportamento do coronavírus desde o começo da pandemia. Doutor em Epidemiologia, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor Paulo Petry avalia a aplicação do reforço em comparativo com outros países que já a aplicavam, como Israel.

- Existem estudos já publicados mostrando um aumento de proteção já com essa dose de reforço, na casa de cinco a seis vezes mais do que apenas no regime de duas doses conforme o fabricante. Então, a dose de reforço é um complemento bastante importante. Com a oferta, vai conferir uma proteção substancial para deter a velocidade da pandemia - projeta.

A escolha dos primeiros grupos a serem vacinados com o reforço não é aleatória. São os grupos que mais tem a imunidade em risco pelo coronavírus. O tempo desde a aplicação da vacina também importa neste cálculo

De forma geral, os idosos foram os primeiros vacinados junto dos profissionais de saúde. Acima de 60 anos, no Estado, a cobertura vacinal chega a quase 100%. Duas doses, em mais de 90%, o que faz com que a variante Delta circule com mais dificuldade. Esse percentual é importante para ter como base a circulação do vírus em função do contingente de pessoas já vacinadas - explica.

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VARIANTES
Até o momento, em Santa Maria, não foram encontradas variantes que comprovadamente "driblam" as vacinas em uso na campanha de imunização. Os casos mais preocupantes são os da variante Delta, mais contagiosa. O avanço da vacinação, porém, permite projetar que o cenário de colapso vivido em março deste ano não vai se repetir.

-  As vacinas são, no momento, a única arma farmacológica que temos. Um medicamento salva um indivíduo, e a vacina, a população. Estamos salvando vidas. Pelos dados que nós temos até agora, não parece que nós vamos voltar a ter aquele pico que tivemos com a variante Gama em março e abril, uma vez que a grande diferença é a vacinação - diz Petry.

Em Santa Maria, 69% da população total já tomou ao menos uma dose. Com o esquema vacinal completo (duas ou única), são 44%. A nível estadual, mais de 70% da população com a primeira dose. E, em torno de 45% dos gaúchos estão completamente vacinados.

De acordo com Petry, isso faz com que a variante Delta não encontre pessoas tão suscetíveis, como aconteceu em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a recusa à vacina é maior. Em comparação com o Brasil, o país norte-americano superou a proporção de mortes diárias e foi superado em vacinação com primeira dose. O ponto de virada das duas estatísticas se deu no mesmo dia, 25 de agosto, conforme a análise do biólogo e divulgador científico Átila Iamarino.

OUTROS GRUPOS
Ainda não há anúncio sobre dose de reforço para demais grupos além dos idosos e imunodeprimidos. O que já está previsto é um estudo clínico da vacina AstraZeneca/Oxford com três doses. No Brasil, isso será feito com parte dos voluntários da pesquisa que levou este imunizante à aprovação para uso no país. Em junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização do estudo clínico para avaliar a segurança, a eficácia e a imunogenicidade da aplicação de terceira dose.

O médico infectologista Alexandre Scharzbold explica que, dos cerca de 1 mil voluntários que participaram da pesquisa na UFSM, nem todos participarão desta etapa. A perspectiva é que idosos sejam vacinados pelo programa de vacinação, o que já iniciou. No caso de pessoas de outras faixas etárias e que já tomaram as duas doses há um ano, o estudo concederá o reforço.

- No estudo, com os voluntários, quem completar um ano entre outubro e novembro, nós vamos vacinar. Agora, menos de nove meses, pelo estudo, não vacinaremos. Se forem idosos, a população vai ser vacinada no programa nacional. Se for um jovem com vacina há menos de nove meses pelo estudo, vai ter que aguardar até chegar o momento do reforço - explica Schwarzbold.

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No total, em todo o Brasil, será 4,5 mil pessoas que já tomaram primeira e segunda dose e participaram do estudo. O critério será, provavelmente, para aqueles que tomaram as doses com cerca de um mês de intervalo.

ACABAR A PANDEMIA?
A vacinação é o caminho para que a pandemia acabe. Entretanto, isso não significa extinguir o coronavírus. Segundo Petry, o mais provável é que o vírus se torne endêmico, como é a gripe.

- A literatura internacional sugere que o coronavírus veio para ficar. Nós não vamos mais nos livrar do Sars-Cov-2, que nem é um vírus novo. Mas vai se tornar uma doença endêmica, perder força em termos de letalidade. Não vamos ver esses números de internados e doentes graves. No Estado, já passamos 34 mil mortes. No Brasil, mais de 584 mil. No mundo, 4,5 milhões de pessoas. São números absurdos. Mas certamente esse impacto vai ser diminuído. A doença endêmica é como a gripe sazonal, vai afetar pessoas, mas não vai ter a mortalidade que temos hoje - elucida.

Ainda há dúvida sobre a frequência com que a vacinação deverá ocorrer. Algumas projeções mostram que a efetividade do sistema imunológico é reduzida entre seis a oito meses após a vacinação.

Em comparação, a gripe sazonal atinge em torno de 1 bilhão de pessoas por ano no mundo. A característica de uma doença endêmica é estar presente, mas ter baixa mortalidade e produzir poucos casos graves mortes, além de ser controlada por meio de uma vacinação provavelmente anual (no caso da gripe).

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