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Com mais de 2 mil pacientes na fila de espera, setores do Hospital Universitário de Santa Maria agonizam

Dandara Flores Aranguiz e Pedro Pavan

Foto: Renan Mattos (Diário)

A Vigilância Sanitária da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) notificou o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) para que providencie algumas modificações estruturais na ala onde funcionam os serviços de Urologia, Proctologia e Gastroenterologia, responsável por fazer exames de endoscopia digestiva e colonoscopia. O documento foi emitido em 22 de abril e sugere, segundo funcionários, o conserto da via de desprezo dos materiais da sala de expurgo (local destinado à limpeza, desinfecção e descarte dos materiais e roupas utilizadas na assistência ao paciente).

Na segunda-feira, um profissional, que não quis se identificar, entrou em contato com o Diário demonstrando preocupação com os atendimentos no setor, e alegando que a direção do Husm teria suspendido temporariamente os atendimentos até que a obra no local fosse executada. A informação, porém, não foi confirmada pela direção do Husm. Apesar disso, na terça-feira, algumas pessoas que tinham exames agendados tiveram os procedimentos cancelados, mas pelo menos dois teriam sido realizados. A situação preocupa também pacientes, já que o Husm é o único hospital da cidade que realiza os dois exames através do SUS.

A dona de casa Vilma Nunes Cavalheiro, 56 anos, mora no distrito de Arroio Grande e, há cerca de dois anos, tentava uma consulta com um gastroenterologista para descobrir a causa de dores estomacais. Ela conseguiu, em março deste ano, o encaminhamento e consultou com o profissional, que fez o pedido de uma endoscopia, que não foi feita.

- Na segunda, me ligaram dizendo que iam ter que cancelar e que era para eu ir até lá para tentar remarcar. Me disseram que ia fechar, mas que, depois, já não ia ser preciso, mas que iam me ligar para reagendar. Até agora, estou sem entender os motivos. Tenho consulta com o gastro em julho, mas não tenho o exame - explica.

Segundo a Central Municipal de Regulação, cerca de 1,4 mil pessoas esperam por endoscopias e aproximadamente 780 pacientes aguardam por uma colonoscopia na fila de espera em Santa Maria (somando mais de 2,1 mil pacientes). No entanto, o número de pessoas que esperam por uma endoscopia tende a ser bem maior, já que a 4ª CRS contempla também outros municípios da região. Em média, são realizados cerca de 15 exames por dia no setor de Gastroenterologia do Husm.

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O Diário entrou em contato com a assessoria de comunicação do Husm, que não informou quais adequações foram solicitadas pela Vigilância, e disse que o hospital só terá um posicionamento se a obra vai ou não afetar os serviços depois que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) avaliar o projeto de adequações, que ainda está sendo discutido em conjunto com a 4ª CRS. Esse projeto está sendo elaborado para, depois, ser encaminhado para aprovação junto à Vigilância Sanitária.

Ao Diário, a 4ª CRS informou que não ia se manifestar sobre o assunto. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) também não confirmou quais seriam as alterações necessárias e apontadas no documento, mas enfatizou que a Vigilância não interditou o setor de Gastroenterologia e que não foram comunicados sobre interrupção de serviços.

Hoje pela manhã, ocorre uma reunião entre a direção do Husm e a 4ª CRS para avaliar de que maneira a obra deverá ocorrer.

- A gente vai tentar fazer o serviço sem parar, mas podemos ter alguma intercorrência e a CCIH vai avaliar, mas vamos tentar organizar de forma que, se tivermos que parar, que seja um número de dias muito pequeno. Mas, nesse primeiro momento, não vai parar - afirmou o gerente administrativo do Husm, João Batista de Vasconcellos.

FALTA DE MATERIAIS TAMBÉM PROVOCA REAGENDAMENTOS

Além dos problemas estruturais apontados pela Vigilância, o setor de Gastroenterologia enfrenta mais dificuldades. Outro profissional que trabalha no Husm e também pediu para não ser identificado relatou que a falta de manutenção dos aparelhos e de materiais - como sonda de gastrostomia e cateter de escleroterapia - é constante, o que ocasiona, por vezes, a remarcação de exames.

Dos mais de 10 equipamentos que o setor possui, somente dois estariam em funcionamento atualmente, pois o restante estaria em manutenção.

A idosa Terezinha Gladys Pithan de Moreira, 81 anos, tem Alzheimer e apresenta dificuldades para engolir os alimentos. Ela aguarda desde o final do ano passado para fazer uma gastrostomia (colocação de sonda gástrica). Ela teve o procedimento remarcado duas vezes neste ano.

- O procedimento estava marcado para o dia 25 de janeiro. Me ligaram e disseram que iam remarcar porque tinha estragado o endoscópio. Passou um tempo e como ninguém me ligava, eu liguei. Isso foi em março. Perguntei e agendaram para o dia 5 de abril. Chegando perto da data, ligaram novamente dizendo que iam ter que mudar porque estava faltando o tubo. Até agora, ninguém me ligou. Agora, eu e meus irmãos estamos vendo para fazer no particular, vai ter que ser - relatou Marise Eliane Moreira, 56 anos, filha de Terezinha, que está internada em uma clínica.

O gerente administrativo do Husm, João Batista de Vasconcellos, disse que o hospital tem um contrato de manutenção preventiva e corretiva com uma empresa desde o ano passado e que os equipamentos utilizados na endoscopia são todos importados e que, quando estragam, a empresa contratada é quem é responsável por providenciar o conserto ou a troca de peças:

- São equipamentos de alta tecnologia e que não existe estoque de peças. A gente só consegue em São Paulo e, algumas vezes, não se consegue nem no Brasil.

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