O Brasil alcançou um marco histórico na saúde pública ao completar 10 anos sem registros de raiva humana transmitida por variantes virais típicas de cães (AgV1/AgV2). Para celebrar este passo, o país deve entregar à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), vinculada a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dossiê em 2026, reunindo mais de uma década de evidências epidemiológicas. Caso seja validado, o Brasil será o segundo país das Américas a receber o selo de Eliminação da Raiva Humana transmitida por Cães, depois do México.
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
Segundo o Ministério da Saúde, "o resultado é proveniente de uma estratégia integrada do Sistema Único de Saúde (SUS), que combina campanhas massivas de vacinação de cães e gatos, distribuição gratuita de vacinas e soros antirrábicos para humanos e animais, rápida resposta a focos da doença, além do fortalecimento da vigilância epidemiológica". Entre 2023 e 2025, a pasta investiu cerca de R$ 231 milhões por ano em imunização.
– É com muito orgulho que celebramos 10 anos sem casos de raiva humana transmitida por cães em nosso País. Um resultado histórico, fruto de campanhas de vacinação de cães e gatos, distribuição gratuita de vacinas e soros para toda a população, e dedicação incansável dos profissionais do SUS. Enquanto o mundo ainda registra cerca de 60 mil mortes, todos os anos, por raiva canina, o Brasil já é uma referência global, mostrando que o SUS, com a estratégia ‘Uma só saúde’ é capaz de proteger a vida das pessoas e dos animais – afirmou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão.
Histórico
Desde a criação, em 1983, do Programa Regional de Eliminação da Raiva, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os casos na América Latina caíram em 98% (de, aproximadamente, 300 registros naquele ano, para apenas 3 em 2024). No Brasil, o último caso de raiva humana de que se tem notícia foi registrado em 2015, no Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com a Bolívia. Antes disso, em 2013, houve ocorrência no Maranhão.
Apesar da conquista brasileira, especialistas alertam para a necessidade de manter a vigilância ativa contra outros reservatórios, como morcegos e primatas não humanos. Globalmente, a raiva transmitida por cães ainda causa milhares de mortes por ano, principalmente na Ásia e na África.
Estratégia "Uma Só Saúde"
A “Uma Só Saúde”, também conhecida como “Saúde Única”, é a tradução do termo em inglês “One Health”, que se refere a uma abordagem integrada que reconhece a conexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. Essa estratégia propõe e incentiva a comunicação, cooperação, coordenação e colaboração entre diferentes disciplinas, profissionais, instituições e setores no enfrentamento a desafios emergentes e reemergentes, como pandemias, resistência microbiana, mudanças climáticas e outras ameaças à saúde.
O objetivo é encontrar soluções sustentáveis e integradas para promover a saúde dos seres humanos, animais domésticos e silvestres, vegetais e o ambiente mais amplo, incluindo ecossistemas.