A denúncia de violência política de gênero na Câmara de Vereadores de Santa Maria segue repercutindo nos microfones da Tribuna. Há uma semana, durante a sessão do dia 2 de dezembro, o vereador Tony Oliveira (Podemos) precisou ser contido por colegas e assessores após um desentendimento com a petista Helen Cabral. O episódio ocorreu durante o debate sobre o projeto de pagamento do 13º salário dos servidores municipais.
Helen acusa o parlamentar de violência política de gênero, cobrou providências da Mesa Diretora ainda em Plenário e afirma ter registrado um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher. Tony nega a agressão.
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“Nada disso pode ser naturalizado”, declarou Helen Cabral
Durante o espaço destinado à oposição na sessão de terça-feira (10), a vereadora Helen voltou a se manifestar sobre a denúncia. Ela afirmou ter sido alvo de uma conduta “agressiva e intimidatória” dentro do plenário. Nas galerias, o pronunciamento foi acompanhado por um grupo de mulheres de coletivos e organizações que realizaram uma manifestação em apoio à parlamentar.
– Não se trata de disputas políticas, nem de divergências parlamentares, trata-se de violência política de gênero. Nada disso pode ser normal, naturalizado e silenciado – declarou Helen.
A vereadora também criticou a postura de Tony. Segundo ela, o parlamentar teria publicado um vídeo nas redes sociais em que, “mais uma vez, dirigiu palavras intimidadoras” a ela, à sua equipe e à vereadora Alice Carvalho (PSol). A líder de oposição reiterou que já pediu providências e que medidas de segurança precisam ser adotadas imediatamente.
– A violência política de gênero não é um assunto privado. É um fenômeno coletivo que afeta a qualidade da democracia e o direito dos eleitores e das eleitoras de serem representados plenamente. [...] E quero dizer a cada uma de vocês: nenhuma de nós está sozinha. A violência política de gênero não nasce no plenário; nasce na cultura que tenta nos expulsar dos espaços de poder, que tenta nos fazer acreditar que não pertencemos a esse espaço público. Mas nós pertencemos e nós ficaremos, porque esta Câmara também é nossa – afirmou a petista.
“Lavem a boca quando forem falar de mim”, disse Tony Olivera
Pela primeira vez, o vereador Tony Oliveira (Podemos) se manifestou na Tribuna sobre o assunto. Afirmou que aquela seria “a primeira e a última vez” que comentaria o caso. Tony iniciou sua fala dizendo que refletiu se deveria utilizar o microfone para “desmentir narrativas mentirosas da esquerda”. Segundo ele, há uma semana vem sendo “acusado, covardemente, por alguém da esquerda que quer se promover em cima de alguém”. O comunicador reafirmou que o desentendimento na sessão passada não teria relação com Helen.
Durante o discurso, Tony comparou o episódio com outros casos que ocorreram no Legislativo. Citou uma denúncia de suposta agressão envolvendo a ex-vereadora Roberta Leitão, à época no Progressistas:
– Vocês lembram quando a nossa colega foi humilhada nessa Casa? Ué, cadê a esquerda que diz que ‘mexeu com uma, mexeu com todas’? Não entendi.
O parlamentar também mencionou uma manifestação do vereador Werner Rempel (PCdoB), em sessão recente, em que proferiu a um assessor da direção da Mesa como “covarde” e “verme rastejante”.
– Se fosse um de direita… caía a casa – disse Tony.
Ainda sobre o episódio, o parlamentar afirmou:
– Desde terça-feira, eu não paro de receber ameaças a minha família, a minha filha de 6 anos. Eu não entendo porque PT, PSol e PCdoB têm tanto medo de mim [...]. Lavem a boca quando forem falar de mim, porque não estão falando com um qualquer.
Relembre o episódio
O que disse Helen Cabral
Em nota, e também no plenário, a vereadora Helen Cabral (PT) disse ter sido vítima de violência política de gênero durante a sessão. De acordo com a vereadora, o vereador Tony Oliveira (Podemos), da base do governo, o colega de plenário “partiu pra cima de forma violenta, aos gritos, em clara tentativa de intimidar”. Para ela, o episódio não se resume a uma divergência política, mas tem motivação de gênero. “A agressão não se deu por divergência de ideias, mas por ser mulher ocupando um espaço de poder”, escreveu.
Helen classifica o episódio como o ato mais grave de violência política de gênero que já enfrentou desde o início do mandato. Ela também afirma que o comportamento do vereador ultrapassa “todos os limites aceitáveis dentro de uma instituição pública”. Por isso, afirmou ter tomado medidas institucionais e legais como um pedido de providências à Mesa Diretora e registro de boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher.
Confira a nota na íntegra:
O que disse Tony Oliveira
Após a acusação, o vereador Tony Oliveira (Podemos) divulgou uma nota de esclarecimento em que nega ter adotado qualquer comportamento agressivo, seja físico ou verbal, contra a vereadora Helen Cabral (PT) ou sua equipe. Apesar disso, pediu desculpas pelo “momento de exaltação”. Segundo ele, embora tenha “temperamento firme”, reconhece que poderia ter agido com mais calma.
De acordo com ele, a discussão começou quando questionou a quebra de quórum na sessão anterior e que teria sido diretamente com o vereador Tubias Calil (PL), que teria “faltado com respeito à Mesa Diretora”. Segundo a nota, a situação se agravou quando a vereadora Helen Cabral começou a filmar a discussão. Tony afirma que não houve agressão de sua parte e relata ter apenas se aproximado e dito: “Filma, Helen! Filma!”. Disse em nota, também, que tomará “todas as medidas legais” contra acusações que considerar caluniosas.
Confira a nota na íntegra: