Três PMs da Região Central morreram em confrontos violentos em 8 meses

Ainda que todos sejam sabedores do risco da profissão, a perda de um combatente em serviço é sempre um choque para os integrantes da Brigada Militar. Prova disso foi o sepultamento e o enterro, na tarde chuvosa e melancólica de sexta-feira, em Caçapava do Sul, do soldado Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, morto em combate durante uma operação policial, em um ponto de drogas na Capital, na última quarta-feira.

Na mesma ação, morreu também o PM Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos. Seixas é o terceiro policial militar da região assassinado nos últimos oito meses.

A cerimônia ocorreu na sede da Câmara de Vereadores de Caçapava, município onde ele havia nascido e que tinha deixado há mais de uma década para perseguir e atingir a sua meta de vida: integrar a instituição centenária da Brigada Militar. No velório, dentro do Legislativo, uma cena chamava a atenção: o olhar fixo da esposa do PM, Camila Fernandes, que o mirava com um semblante que era uma profusão de tristeza e de incredulidade. Nem por isso, ela deixou por um minuto sequer de afagar de forma delicada o rosto e os cabelos do marido, com quem teve Helena, 3 anos.

Antes do sepultamento, no fim da manhã, o governador Eduardo Leite (PSDB) e o secretário Otomar Vivian, que é ex-prefeito de Caçapava, estiveram no velório.

- Queremos agradecer às famílias pelos serviços prestados por esses policiais, que cumpriram ao extremo o juramento que prestaram, de dar a própria vida para defender os interesses da sociedade por uma condição de paz - disse Leite.

À tarde, o vice-governador e secretário de Segurança Pública, Ranolfo Vieira Jr., também acompanhou o enterro.

SALVA DE TIROS

A despedida do PM não se deu apenas por parte de quem o conhecia - colegas de farda e amigos. Houve, ainda, a participação de moradores e, igualmente, de outros policiais que souberam do desfecho, policiais rodoviários, bombeiros e militares do Exército. Mais de duas centenas de soldados estiveram no local.

Ao fim do velório, integrantes do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Bagé realizaram uma salva de tiros em homenagem ao PM. O caixão foi levado em um caminhão aberto dos bombeiros e seguiu até o Cemitério das Catacumbas, na zona rural do município. A cerimônia durou cerca de 30 minutos.

EM OITO MESES, TRÊS PMS MORTOS

Rodrigo Seixas é o terceiro policial militar da região assassinado nos últimos oito meses. Todos foram mortos na Região Metropolitana de Porto Alegre. Dois deles perderam a vida em assaltos, nos quais não tiveram a chance de se proteger.

Em abril deste ano, o soldado Emersom Daltri Tadielo, 41 anos, foi morto a tiros ao ser assaltado na BR-386, em Triunfo. Natural de Jaguari, ele morava em Santiago, mas atuava em Porto Alegre. Com duas décadas de Brigada Militar, Tadielo voltava para Santiago quando, ao parar para comprar flores numa tenda de beira de estrada, foi abordo por dois criminosos e baleado.

Em outubro de 2018, o soldado Bruno Rodrigues de Souza, 34 anos, morreu de forma semelhante em uma tentativa de assalto em Canoas, onde atuava. Natural de Rosário do Sul, Souza foi atacado por criminosos que queriam roubar seu carro. Ele estava sem farda, e foi executado quando os bandidos o identificaram como policial militar.

Em março do ano passado, o soldado da Polícia Militar de Santa Catarina Rafael Biazus Massoco morreu em uma operação naquele Estado. O santa-mariense de 36 anos fazia um patrulhamento no lago da Usina Hidrelétrica Machadinho, quando a embarcação virou e ele acabou se afogando junto com outro policial.

Segundo a Brigada Militar, 41 PMs foram assassinados no Estado nos últimos cinco anos.

SEIXAS PLANEJAVA RETORNAR À TERRA NATAL NESTE ANO

Em 2006, com então 19 anos, o jovem Rodrigo da Silva Seixas ingressou, ao fim do serviço militar, na BM como PM temporário. Após prestar prova, aos 22 anos conquistou o status que tanto queria: ser soldado efetivo.

O perfil calmo, perspicaz e de raciocínio rápido logo chamou a atenção do tenente Luiz Gil, comandante do Pelotão de Operações Especiais (POE). Os atributos e o gosto por estar na linha de frente de qualquer que fosse a missão, logo renderiam o ingresso à "família POE", recorda Gil:

- Um cara tranquilo e frio, como exige o ofício. E com rapidez e poder de decisão que o POE exige. Fora do combate, um cara sensacional, com humor leve e brincalhão. Ele deixava o ambiente sempre leve.

O sargento Denilson Bondanza, que tem 28 anos de Brigada, sendo 20 deles de POE, acompanhou o crescimento de Seixas.

- Ele se aperfeiçoou muito nesse tempo todo. Era um dos nossos granadeiros. E estava sempre atento a tudo, interessado e inteligente - conta.

Bondanza afirma que, em duas décadas de POE, nunca havia tido nenhuma baixa:

- E, de uma hora para outra, como um pesadelo, dois irmãos de farda se vão - lamenta.

Seixas completaria, em agosto, 10 anos no pelotão. Planejava retornar para Caçapava do Sul no fim deste ano. A transferência já havia sido solicitada e era aguardada. Seixas acreditava que o retorno para a terra natal era a chance de ter mais tempo para a esposa e a filha. No dia 5 de julho, ele faria 33 anos e planejava passar o fim de semana com os pais dele e a família da esposa na cidade em que nasceu.

Na sexta, policiais civis e militares da região fizeram homenagens aos dois PMs assassinados.

Na mesma operação em que os policiais foram mortos, a Polícia Civil prendeu Lucas Iago da Rosa, 19 anos, suspeito dos crimes. Ele era apenado do regime semiaberto.

VÍTIMAS FARDADAS

Policiais militares da região que morreram entre outubro de 2018 e junho deste ano em serviço ou em assaltos no Estado:

26 de junho 2019

Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos

  • Natural de Caçapava do Sul. Era casado e pai de uma menina de 3 anos
  • Assassinado durante confronto na zona leste de Porto Alegre na noite da última quarta-feira. Foi atingido por um tiro. O colega Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, também morreu baleado

4 de abril 2019

Emersom Daltri Tadielo, 41 anos

  • Natural de Jaguari, mas residia em Santiago. Era casado e tinha uma filha
  • Morto durante tentativa de assalto em uma tenda de venda de flores e vasos às margens da BR-386, em Triunfo, na Região Metropolitana. Tadielo atuava em Porto Alegre e viajava para casa, em Santiago, quando parou para fazer compras e foi abordado por dois criminosos. O PM reagiu ao assalto e atirou contra os bandidos, mas foi baleado por um deles

14 de outubro de 2018

Bruno Rodrigues de Souza, 34 anos

  • Natural de Rosário do Sul. Era casado e tinha um casal de filhos de 11 anos e de 9 meses
  • Alvejado por quatro disparos em uma tentativa de assalto em Canoas, na Região Metropolitana, em 27 de setembro. Os suspeitos tentaram roubar o carro de Bruno, que estava à paisana, e atiraram quando o identificaram como policial. Souza foi internado em estado grave e não resistiu, morrendo duas semanas depois

Outro caso de 2018

  • Em março de 2018, o policial militar santa-mariense Rafael Biazus Massoco, 36 anos, morreu em acidente com barco em Santa Catarina, enquanto trabalhava em uma operação da Polícia Militar catarinense. Ele fazia patrulhamento no lago da Usina Hidrelétrica Machadinho, quando a embarcação em que estava colidiu em uma pedra e virou. A ação tinha o objetivo de coibir a entrada de criminosos em SC por causa da intervenção militar no Rio de Janeiro

"Um cara tranquilo e frio, como exige o ofício. E com rapidez e poder de decisão que o POE exige".

Luiz Gil, comandante do Pelotão de Operações Especiais, onde o PM Rodrigo Seixas atuava

"Cumpriu ao extremo o juramento de dar a própria vida para defender os interesses da sociedade por uma condição de paz".

Eduardo Leite (PSDB), governador do Estado

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