Santa Maria chega ao 40º assassinato

Após pouco mais de 10 dias hospitalizado, Mauricio Lima Cardoso, 20 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu ontem em Santa Maria. Além de elevar para 40 o número de assassinatos em 2013 na cidade, o falecimento do jovem contribuiu para que o município atingisse uma marca histórica. O fato de Cardoso ser a 40ª vítima de crime contra a vida acabou se tornando um recorde dos últimos 10 anos. Ele estava internado em estado grave no Husm, devido a uma facada que levou no pescoço, em 29 de dezembro de 2013, nas margens do Arroio Cadena, na Vila Arco Íris.

Segundo o setor de Investigação da 3ª Delegacia de Polícia Civil (3ª DP), responsável pelo caso, Cardoso e o suposto autor teriam discutido em um bar. Em meio à briga, os dois começaram a se esfaquear. O suspeito do homicídio, que ficou ferido no baço, na barriga e no braço, está a intimado a depor na próxima segunda-feira.

Nos últimos 10 anos, apenas em 2009 e 2012, Santa Maria chegou à marca de 39 assassinatos. Apesar da triste e histórica estatística, o delegado regional interino, Antonio Firmino de Freitas Neto, afirma que não há motivo para pânico. O delegado argumenta que a segurança pública na cidade está controlada e muito acima dos níveis aceitáveis. Por isso, não haveria motivos para preocupação excessiva nem mesmo para que se forme uma cultura do medo.
- Temos um índice de resolução que beira os 97%, sendo que no Estado a média é 74%. Os autores estão sendo identificados e presos.

O delegado afirma, ainda, que a grande maioria dos homicídios registrados no município estão ligados ao consumo ou tráfico de drogas.
- Esse é o final de quem usa ou comercializa drogas ilícitas: cadeia ou cemitério - avalia Freitas Neto.

O delegado Carlos Alberto Dias Gonçalves, titular da 2ª DP e que investiga o terceiro assassinato de 2014 (veja mais na página 9), vai além:
- A maioria dos homicídios ocorre em áreas de exclusão social, somada ao envolvimento com o tráfico de drogas e disputa entre grupos rivais que, às vezes acontecem, para se fazer uma demonstração de força. Geralmente, os que morrem ou matam têm antecedentes criminais - afirma Gonçalves.

Segundo Andréia de Lima Cardoso, irmã da vítima, ele era solteiro e trabalhava como servente de obras. Além dos pais, Cardoso deixa oito irmãos. Ela lembra que o irmão gostava de ouvir música e tomar chimarrão.
- Ele era uma rica de uma pessoa. Estava sempre sorrindo e brincando com os outros - conta a familiar.

O corpo de Cardoso foi sepultado na tarde de quinta-feira, em Santa Maria.

Integração e reforço no policiamento
Mesmo que não haja motivo para um alarmismo exagerado acerca dos números, tanto Brigada Militar quanto Polícia Civil estão trabalhando na tentativa de conter esse avanço. Para Carlos Alberto Dias Gonçalves, titular da 2ª DP, uma das medidas que poderiam minimizar essa realidade seria deixar os autores de homicídio o máximo de tempo possível presos.
- Uma medida seria uma legislação menos branda na sua interpretação. Somado a isso, um trabalho conjunto de repressão criminal logo após os delitos, realizado entre Brigada e Polícia Civil - argumenta o delegado Gonçalves.

Segundo o major Eduardo de Oliveira Focking, que responde pelo comando do 2º Batalhão de Operações Especiais (BOE) da BM, estão sendo realizadas operações de policiamento ostensivo diariamente, em especial na zona Oeste, que, num período de 22 dias entre o final de 2013 e o início de 2014, foi palco de cinco assassinatos.
- Apesar de sabermos que são fatos específicos ligados a acerto de contas envolvendo pessoas ligadas ou recém saídas do sistema prisional, estamos realizando operações em conjunto com o 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) na tentativa de evitar esses crimes, que podem ser considerados de uma certa forma atípicos e não têm um reflexo direto na questão da segurança pública - revela Focking.