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ENTREVISTA: comandante dos Bombeiros fala da responsabilidade do trabalho na 'Cidade da Kiss'

Camila Gonçalves

Foto: Charles Guerra (Diário)

Já está no posto o novo comandante do 4º Batalhão do Corpo de Bombeiros, com sede em Santa Maria. Responsável pela prevenção e combate a incêndios em 37 municípios, o tenente-coronel Nilton Camargo traz a experiência de 20 anos na corporação. Camargo, que substitui o tenente-coronel Cláudio Ricardo Pereira, está na região desde a semana passada, vindo do comando do 11º Batalhão, na Região das Missões. Entre as prioridades, o comandante destaca o trabalho de prevenção de incêndios e fala sobre a responsabilidade de assumir a instituição na Cidade da Kiss. Confira a entrevista com o gestor:

Diário de Santa Maria - Como o senhor recebeu a designação para a "Cidade da Kiss"?

  • Tenente-coronel Nilton Camargo - Após sofrer aquela situação da boate Kiss, a imagem dos bombeiros na cidade, difundida por pessoas desavisadas e desinformadas, foi maculada, mas, com a vinda do coronel Maya (Luís Marcelo Gonçalves Maya) para cá e, depois, do coronel Ricardo (Cláudio Ricardo Pereira), cinco anos se passaram, e a imagem está sendo retomada. Mas a imagem não é só isso, a imagem é resultado de um trabalho feito por todos que vestem essa farda azul hoje. O nosso respeito perante a comunidade é o resultado do nosso trabalho.

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Diário - Onde o senhor estava na noite do incêndio na Kiss? Como o restante da corporação lidou com esse fato?

  • Camargo - Eu trabalhava na praia, estava em Tramandaí, a trabalho. Disseram: "Olha, está acontecendo um incêndio em Santa Maria, e 17 pessoas morreram". Eu tenho uma filha de 17 anos, liguei para ela, e ela disse que não havia acontecido nada com ela. Meu filho estava fora do país. Era um caos ter 17 vítimas. Todo o Corpo de Bombeiros sentiu. Embora não tenhamos, a meu ver, nenhum compromisso direto com o resultado, fomos acusados de termos sido lenientes com o fato. E, talvez, tenhamos sido. Está sendo apurado até hoje. Mas, nós continuamos sustentando que nossa busca pela prevenção sempre foi feita e, naquele momento, todo o nosso efetivo que estava de serviço e mais os de fora foram para lá, mesmo sem serem chamados. Nosso compromisso moral foi feito. Talvez, não tenha sido o ideal, e não foi ideal, senão, o número de mortos não chegaria a tanto. Mas tenho certeza: o nosso coração foi posto naquele serviço. Mas isso não vai acontecer mais em lugar nenhum, muito menos em Santa Maria.

Diário - Como isso impactou o dia a dia do trabalho de vocês?

  • Camargo - Cada vez que nós somos suscitados a perguntar se "Está boa a prevenção em tal lugar?", dizemos: Olha, boa é o mínimo. Tem que estar perfeita". Nós passamos a ser muito mais cuidadosos, muito mais atenciosos, porque sabemos que esse tipo de fato não acontece só em filme. Infelizmente. A vida real nos trouxe a prova maior de que não podemos facilitar nunca.

Diário - A atual legislação atribui muito mais responsabilidade ao empreendedor. O senhor acha que esse aspecto é positivo?

  • Camargo - Na verdade, esta legislação deixou claro o compromisso do empreendedor. Ele sempre foi responsável, só que havia sempre uma leniência como "Isso não vai acontecer, vou dar um jeitinho". Hoje, não tem mais isso. De maneira nenhuma, o bombeiro exige o que está além da lei ou deixa de cobrar o que está dentro das normas que regulam nosso serviço.

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Diário - O senhor pretende alterar algo na seção de Prevenção de Incêndios?

  • Camargo - Queremos que a informática, as plataformas de trabalho sejam melhoradas e que a parte lógica tenha um upgrade em velocidade. Porque o objetivo não é causar transtornos e dificultar que um empreendimento atrase a sua conclusão por conta dos bombeiros. A Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul) está adaptando e melhorando o software. O que dificulta ainda é a correção dos problemas nos planos e a demora na volta, que é o que emperra o processo e aumenta o prazo de conclusão.

Diário - Qual era o problema da vinculação com a Brigada Militar? Não havia vaga para tenente?

  • Camargo - Não tínhamos um quadro só para bombeiros. O nosso número era flutuante. Éramos um braço da Brigada. Quem movimentava o nosso pessoal era o pessoal da Brigada, e, às vezes, eles não tinham conhecimento técnico de ver onde estava o problema, a nossa necessidade real. Agora, ficou mais curto o espaço para achar o problema e resolver.

Diário - E, em geral, como está o efetivo na região?

  • Camargo - O quadro de cabos, soldados e sargentos está completo. Estamos com dificuldade na formação de oficiais, mas isso não impede criarmos mais vagas para cá. Com aumento populacional, posso aumentar funções. Como o governo está para iniciar um curso para 400 soldados, nós queremos a ampliação do número de soldados previstos para Santa Maria. Isso é necessário, porque o nosso quadro aqui está engessado. Estamos no limite de pessoas e no limite de trabalho.

O NOVO COMANDANTE

  • Tenente-coronel Nilton Camargo, 53 anos
  • Natural de Santana do Livramento
  • É especialista em Salvamento Aquático
  • Vem do 11º Batalhão, com sede em Santo Ângelo
  • Tem 31 anos de serviço no Estado, sendo 11 anos na Brigada Militar e 20 anos no Corpo de Bombeiros
  • Comandou o 6º Batalhão em Santa Cruz do Sul e, ainda, pelotões em Cruz Alta, Cachoeira do Sul, Santa Rosa, Venâncio Aires e Ijuí

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