investigações

De sete episódios de racismo na UFSM, apenas dois tiveram indiciamentos

18.398

data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)

Entre 2017 e 2019, sete episódios de racismo foram registrados dentro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desses casos, apenas dois resultaram em indiciamentos: em um deles, dois jovens foram ameaçados com com frases racistas por um gari enquanto andavam pelo campus, e, no outro caso, um estudante é suspeito no inquérito que apura injúria racial por meio do envio de mensagens de telefone (veja mais abaixo). 

Ataques racistas nas maiores instituições de Ensino Superior de Santa Maria expõe o preconceito e a dor

Dos outros cinco casos, três foram arquivados por falta de provas e outros dois inquéritos foram concluídos pela Polícia Federal sem chegar a nenhuma autoria. Do total de sete episódios, apenas um - o que envolveu ataque verbal na Avenida Roraima - foi acompanhado pela Polícia Civil, e o autor foi indiciado pelo crime de injúria qualificada.  

Um dos episódios de maior repercussão, que envolveu o Diretório Livre do Direito da UFSM em 2017, foi concluido apenas em 9 de setembro deste ano. Na época, os nomes de dois estudantes apareceram escritos na parede junto de frases racista, com os seguintes dizeres: "Elisandro e Fernanda, o lugar de vocês é no tronco, fora negros, negrada fora". O delegado da Polícia Federal Getúlio Jorge de Vargas explica que foram colhidos depoimentos, imagens de câmeras de segurança do prédio e até mesmo foram solicitadas avaliações de estudantes do Direito para a comparação da caligrafia, mas todos os laudos deram resultado inconclusivo. 

- É muito difícil conseguirmos chegar até um autoria na maioria dos casos, pois são lugares de muita circulação. As câmeras de segurança que existem nesses locais ficam nos corredores, nas entradas, o que não ajuda muito. Analisar as caligrafias das pessoas também é difícil, porque são muitas possibilidades. Os casos que aconteceram em banheiros são mais complexos ainda, porque são locais privativos - destaca o delegado. 

Luta por reconhecimento e direitos dos negros tem um longo caminho pela frente, dizem especialistas

Neste mesmo inquérito, porém, houve uma reviravolta que acabou em um indiciamento. Um dos estudantes que teria sido vítima do ataque, Elisandro Ferreira, 44 anos - foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por quatro crimes: injúria racial, falsidade ideológica, ameaça e denunciação caluniosa. Cerca de três meses depois do suposto crime, Elisandro procurou a PF e disse receber, por celular, mensagens de ameaça e de cunho racista. O caso é acompanhado pela Justiça Federal por envolver uma instituição da União.

Na época, o estudante convocou uma coletiva de imprensa para se defender e negou as acusações.

- Não vou desistir dessa luta, a defesa vai ser feita. Me surpreendeu passar de vítima para réu, até porque a causa que eu defendo não permite isso. Se o intuito era me fazer parar ou recuar, deu errado. Eu chamo isso de racismo institucional, isso está em todos os lugares. Recebi esse 2º soco no estômago, o primeiro foi quando vi o meu nome nas pichações - disse Elisandro na ocasião.

O delegado explica, ainda, que os inquéritos poderão ser reabertos se surgirem novas evidências. 

*Colaborou Janaína Wille

OS CASOS

ARQUIVADOS
1º caso - 17 de agosto de 2017 

  • Uma aluna encontrou, na sala do Diretório Livre do Direito (DLD), na antiga reitoria, desenhos de suásticas (símbolos nazistas). O Ministério Público Federal opinou pelo arquivamento do processo por conta da ausência de indícios de autoria. 

3º caso - 21 de novembro de 2017

6° caso - 26 de outubro de 2018

  • Um banheiro do Colégio Politécnico foi alvo de pichação com frases de cunho racista na parte interior da tampa de um vaso sanitário. Além da frase "esses pretos fedidos vão morrer", uma suástica foi desenhada e o número de um dos candidatos à Presidência. O material foi apreendido e encaminhado para perícia. O caso foi arquivado sem identificação de autoria.

CONCLUSÃO SEM AUTORIA
2º caso - 14 de setembro de 2017

  • Frases de cunho racista foram pichadas na sala do Direito. Na parede da sala, alunos encontraram a frase: "Fernanda e Elisandro, o lugar de vocês é no tronco, fora negros, negrada fora." . Foram realizadas diversas diligências ao longo da investigação, como análise de imagens e oitivas de testemunhas. O inquérito foi concluído sem indicação de autoria e encaminhado ao MPF.

7º caso - 23 de abril de 2019

  • No caso mais recente, frases de cunho racista foram encontradas no banheiro feminino da Biblioteca Central da UFSM. Foram escritas as palavras "pretos imundos", "macacos", babuínos" e "pretos na senzala". Depois da perícias e depoimentos, o inquérito foi concluído sem autoria e encaminhado ao MPF.

INDICIAMENTOS
4º caso - dezembro de 2017

  • No mesmo inquérito que investiga pichações na sala do Diretório Livre do Direito, um dos estudantes que teria sido vítima do ataque - Elisandro Ferreira, 44 anos - ffoi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por quatro crimes: injúria racial, falsidade ideológica, ameaça e denunciação caluniosa. Cerca de três meses depois da pichação, Elisandro procurou a PF e disse receber, por celular, mensagens de ameaça e de cunho racista. A PF começou a investigar e concluiu que o conteúdo era enviado do aparelho de Elisandro, mas de outro chip. 

5º caso - 10 de outubro de 2018

  • Dois jovens, de 19 e 23 anos, teriam sido ameaçados por um outro rapaz com frases racistas. No boletim de ocorrência, registrado junto à Polícia Civil, os universitários relatam que estavam entrando em um banco quando um homem que estaria recolhendo o lixo começou a xingá-los, chamando eles de negros sujos e macacos e mandando-os lavar o cabelo: "seus nego sujo, vai lavar esses cabelo, macaco fedido". Eles teriam ainda sido ameaçados . Por não ser atribuição legal da Polícia Federal, o processo tramita na esfera Estadual. O autor foi identificado por imagens de câmeras de segurança e indiciado pela Polícia Civil

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

8 toneladas de arroz furtado em Agudo são apreendidas no interior do Rio de Janeiro

Próximo

Mãe de menina que morreu após ter sido estuprada relata sofrer ameaças

Polícia/Segurança