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VÍDEO: em meio ao calorão, alto consumo causa falta d'água em Santa Maria

Felipe Backes e Janaína Wille

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial)
Ana Paula da Silva é proprietária de um mercado e sofre com a falta d'água

Manhã de sexta-feira, termômetro já marcando 32ºC em Santa Maria. A comerciante Ana Paula da Silva tenta abrir a torneira, mas não sai uma gota d'água sequer. Ela tem um mercado no Alto da Boa Vista, Bairro Nova Santa Marta, e conta que essa cena se repete muitas vezes durante o verão.

- Vamos fazer o quê? Juntar água em baldes, galões. Se não fizer isso, não tem água para usar durante o dia. Porque o abastecimento é sempre imprevisível. Quando faz muito calor, geralmente falta em períodos do dia, principalmente manhã e tarde - informa a comerciante.

A situação relatada por Ana Paula foi observada também em outros bairros de Santa Maria nesta última semana, quando a temperatura beirou os 40ºC na cidade e o calor não deu trégua nem durante a noite. Só na quinta-feira, 24 locais de Santa Maria, entre vilas, residenciais e loteamentos, passaram períodos sem água, conforme a Corsan. Dezenas de reclamações chegaram ao Diário. Isso acontece, principalmente, por causa do pico de consumo em alguns momentos do dia.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">O aposentado Alberto Lorentz da Silva é vizinho de Ana Paula, na região oeste da cidade, e vive o mesmo drama. Ele abre a torneira, mas não tem água. Geralmente, o abastecimento normaliza só durante à noite e madrugada. A água para cozinhar precisa ser armazenada em baldes.

- É uma situação difícil, principalmente no calor. Não tem água para banho, porque não tenho caixa d'água. Tem que esperar voltar o abastecimento, mas nunca tem hora certa. Já são algumas semanas assim. Mas o pior é sempre para cozinhar, porque tem que juntar água em balde - desabafa Alberto.

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PICO DE CONSUMO
Conforme a Corsan, alguns períodos do dia são considerados de pico de consumo. Pela manhã e início da tarde, entre 11h e 14h, e ao final do dia, entre 17h e 20h. Aos sábados, das 8h ao meio-dia, também há elevação no consumo.

- Esses são os momentos que observamos maior consumo. Só que com o calorão, os demais períodos do dia estão com consumo em alta também. A noite e a madrugada, que costumam ser períodos em que há baixa demanda, quando podemos desligar algumas bombas dos reservatórios, têm apresentado uma alta demanda - explica a gestora da Corsan, Andreia Zanini.

MANOBRAS OPERACIONAIS
A falta de água registrada em vários bairros de Santa Maria é causada pelo alto consumo, que diminui a pressão e a vazão na rede de abastecimento. Parte da cidade depende de bombeamento para ser abastecida. Quando há alto consumo, a pressão diminui e as estações de bombeamento desligam automaticamente. As manobras são feitas para aumentar a pressão e possibilitar o religamento das bombas. Como a recuperação do sistema é lenta, alguns pontos, principalmente em regiões mais altas da zona urbana, como é o caso da Vila Alto da Boa Vista, seguem sem água.

- Isso foi feito para que a estrutura de abastecimento de toda a cidade pudesse atender a população de forma satisfatória. Esse procedimento acontece quando se tem um consumo além do habitual. A pressão e a vazão das tubulações vão se alterando. O comportamento do abastecimento é muito dinâmico - explica Andreia .

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Em resumo, conforme a Corsan, as manobras operacionais deixam locais de Santa Maria sem água por alguns períodos, mas o objetivo principal é evitar que ocorra um desabastecimento longo. Toda a distribuição de água na cidade é monitorada 24 horas por uma central. Se o calorão se repetir pelos próximos dias, a situação também pode voltar a ser registrada. 

- Temos locais que não precisam de bombeamento, pois têm vazão e pressão adequada para atender. Outros precisam de bombeamento. Para esse bombeamento funcionar, precisa de uma vazão e pressão adequada. Se não chega ali com vazão e pressão adequada, por causa do consumo elevado, esse bombeamento não liga. E se não liga, aquela região deixa de ser abastecida. Nós não fechamos nada, é a estrutura que realmente não funciona. Essas manobras são na estrutura, para que possamos ter novamente vazão e pressão adequada - explica Andreia.

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial)

Na análise do professor do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Elvis Carissimi, que é especialista em abastecimento de água, as condições de relevo de Santa Maria são cruciais para entender as manobras necessárias. Segundo ele, quanto mais alto um local, maior pode ser a dificuldade.

- É uma característica o terreno acidentado. Temos morros, não temos uma superfície plana de água - comenta.

RACIONAMENTO
Ainda que tenha acontecido o desabastecimento, Carissimi desconsidera a possibilidade do racionamento na cidade. Isso porque, mesmo em períodos de estiagem, as barragens de Santa Maria conseguiram atender a demanda.

- Mesmo nesses períodos de menor chuva, tem tido sempre água. A gente não ouve falar em racionamento. Em termos de matéria prima e fonte de água, sempre tivemos, inclusive agora no verão que tem sido mais cruel - avalia.

A Corsan também garante que a situação não é de racionamento, nem há possibilidade de desabastecimento na cidade.

- Racionamento é feito em casos extremos quando não existe água a ser tratada. Não temos essa situação agora. Estamos em alerta por conta da baixa no nível das barragens, mas a produção da nossa estação de tratamento segue - afirma.

Santa Maria é abastecida por três barragens. A maior delas, a Rodolfo Costa e Silva - localizada em Val de Serra, interior de Júlio de Castilhos -, que tem 28,5 metros de altura, está 4,2 metros abaixo do nível. Essa barragem é responsável por 75% de todo o abastecimento na cidade. A DNOS está quatro metros abaixo do normal, que é 11,8 metros.

OBRAS
A Corsan já estuda ações para resolver problemas como os desta semana a curto e médio prazo. Uma das medidas que pode amenizar o problema, ao menos na Região Leste, é a construção da nova adutora de água tratada do Cerrito à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que tem previsão de ser concluída ainda em 2022

- Temos análises de estruturas de bombeamento e já fazemos o reposicionamento em algumas regiões. Planejamos o aumento de reservatórios em pontos estratégicos, de alta demanda. Nós temos quase 900 quilômetros de rede de água, uma área muito extensa na cidade - explica a gestora da Corsan.

Além disso, a Corsan afirma que trabalha na identificação e no corte de ligações irregulares e fraudes, de pessoas que fazem conexões clandestinas no encanamento:

- Em períodos de alto consumo isso também faz toda a diferença. Porque esses são pontos que não temos como ter o controle. A estrutura está preparada para atender nossos clientes, e as ligações irregulares acabam afetando isso também.

*Colaborou Leonardo Catto

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