UFSM trabalha na construção de uma política de igualdade racial

Jaiana

UFSM trabalha na construção de uma política de igualdade racial
Nesta semana, publicação de cunho racista de estudante gerou protestos na universidade. Foto: Leandro Rosa (Arquivo Diário)

Há 134 anos, em 13 de maio, o Brasil determinava o fim da escravidão, em um dos momentos mais marcantes da história do país. Uma “liberdade de asas quebradas”, como diz o poeta Oliveira da Silveira. A data, embora não seja motivo de comemoração, porque o racismo estrutural ainda rege quase todas as relações econômicas e sociais, é um momento de reflexão.

– A lei só escancarou as mazelas e injustiças. Precisamos pensar porque ainda estamos inseridos nesse contexto. Se houve a abolição é porque tivemos diversos movimentos e abolicionistas negros que lutaram por essa conquista, fugindo do foco das questões monárquicas – afirma o coordenador do Observatório de Direitos Humanos (ODH) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Victor de Carli Lopes.

O racismo entra mais uma vez na pauta da UFSM depois do caso, que veio à tona nesta semana, da publicação de uma estudante do curso de Artes Cênicas nas redes sociais com frases de cunho racista.

– Existem casos emblemáticos que são midiatizados e acabam tendo esse enfrentamento popular imediato. Mas temos outros casos, que não ganham repercussão, que são tão nocivos quanto. Quando uma aluna ataca um de nós, dizendo que não quer conviver com alunos negros, é uma agressão direta, mas quando a gente percebe o baixo número de alunos na universidade, quando a gente percebe que um aluno negro que se forma vai ter média salarial mais baixa que um estudante branco, isso também é um ato de racismo – salienta o coordenador do ODH.

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Para acabar com as microviolências estruturais, a universidade trabalha desde 2020 na construção de uma política de promoção da igualdade racial. Dentro da proposta, no começo deste ano, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) foi reestabelecido com a promessa de difundir, por meio da pesquisa e extensão, as discussões para fora da UFSM. Os projetos, até então, eram pontuais.

– A política está sendo criado a muitas mãos e com muita discussão. Nós entendemos que precisamos concentrar esforços nessa questão. Precisamos consolidar uma política de estado e não de uma gestão, que dependa da vontade de um gestor colocar em prática – destaca a vice-reitora da UFSM, Martha Adaime.

AVANÇO

Recentemente, a UFSM deu mais um passo na promoção da igualdade racial com a aprovação da política de cotas para a pós-graduação. A instituição quer formar professores antirracistas, seja por meio de disciplinas étnico-raciais nos cursos de licenciatura ou levando estudantes negros até o doutorado.

– A gente só muda essa realidade com educação – pontua Martha Adaime.

Na graduação, em 2022, ingressaram 987 estudantes negros e pardos, independentemente da forma de ingresso. Isso representa cerca de 20% do total de alunos, que é de 4.845. O pró-reitor de graduação da UFSM, professor Jerônimo Tybusch, afirma que o número de pessoas pretas e pardas na universidade dobrou em 10 anos, a partir da implementação da política de cotas.

– Esse dado nos deixa muito felizes, porque demonstra o sucesso da política de cotas, e, ao mesmo tempo, nos mostra que ainda há um grande caminho a ser percorrido para que os percentuais aumentem em prol de uma universidade cada vez mais igualitária em seu acesso, ingresso e condições de permanência – avalia Tybusch.

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A construção da política educacional, com a participação de toda a sociedade, é a saída para que casos de racismo não se repitam dentro e fora da UFSM.

– A ação e omissão do estado nos trouxeram a uma situação de extrema desigualdade racial em que existem pessoas, como desse caso recente, que acham que podem dizer que não gostam de estar com pessoas negras e que pessoas negras não devem estar na universidade. Precisamos de um posicionamento enérgico e imediato diante da falha do Estado ao decorrer de séculos – complemente Tybusch.

INVESTIGAÇÃO

A Polícia Civil de Santa Maria abriu um inquérito, na quarta-feira, para investigar um suposto caso de racismo praticado por uma aluna da UFSM. O caso aconteceu na última sexta-feira. Ontem, a delegada Débora Dias, da Delegacia do Idoso e de Combate à Intolerância (DPICoi) da Polícia Civil, participou do programa F5, da rádio CDN.

– Nós já tomamos as primeiras providências, ouvimos o diretor do curso da investigada e já marcamos para a próxima semana a oitivida com a coordenadora do curso, solicitando uma lista de pessoas a serem ouvidas – informou a titular da DPICoi.

Jaiana Garcia, jaiana.garcia@diariosm.com.br

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