Fotos: Vinicius Becker (Diário)
Cada documento salvo é uma história que o futuro conhecerá. É com essa certeza que nasce o Hub.Doc, a primeira estrutura brasileira dedicada ao resgate emergencial e preservação de grandes volumes documentais. A iniciativa é da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e foi lançada na tarde desta terça-feira (23), no Salão Imembuí, com a presença de representantes de diversas instituições de ensino e órgãos públicos.
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De origem gaúcha, a iniciativa é resultado de uma resposta rápida e inovadora da instituição diante das enchentes do ano passado. Na ocasião, o acervo da UFSM ficou completamente submerso e, desde então, uma força-tarefa foi montada para a recuperação emergencial. Mais de um ano depois, o projeto é pioneiro no país, focado na preservação da memória institucional e social.
Essa foi parte da história contada pela coordenadora do Hub.Doc, a arquivista Débora Flores, durante o lançamento. Ela destaca que o projeto representa a consolidação de uma rede que ultrapassa o projeto inicial.
– Hoje, temos pesquisadores e docentes não apenas da UFSM, mas também da UFRGS e outras instituições. Isso faz com que o Hub.Doc vá além de um projeto. Ele se torna uma rede conectada de pessoas e ideias voltadas à inovação na área de arquivos – afirmou Débora.
A estrutura não se limita à recuperação de acervos atingidos por enchentes. Segundo a arquivista, o objetivo é mais amplo:
– Queremos criar protocolos que ajudem qualquer instituição que enfrenta riscos ao seu acervo. Muitos documentos estão vulneráveis por abandono, más condições ou falta de estrutura, e tudo isso também passa a fazer parte do escopo do nosso trabalho – completou a coordenadora.
Conheça o processo de recuperação de arquivos:

A origem
O Hub.Doc nasceu na Universidade Federal de Santa Maria após as enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, em que 96% dos municípios do Estado sofreram prejuízos. Na ocasião, mais de 12 mil caixas de documentos da própria UFSM ficaram submersas. Já em todo o Estado, mais de cem arquivos públicos enfrentaram situação semelhante.
Diante do cenário, a UFSM, por meio do seu Departamento de Arquivo Geral (DAG), lançou o Transdoc – um espaço transdisciplinar de pesquisas e práticas em restauração, digitalização, preservação e difusão do patrimônio documental. Com apoio do Ministério da Educação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), foi iniciada a estruturação da primeira base nacional de resposta emergencial para grandes volumes documentais danificados por desastres naturais.
O que começou como uma ação emergencial, transformou-se em referência para todo o país. Atualmente, o projeto é coordenado pela UFSM em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e apoio técnico do Arquivo Nacional.
Parceria com outras instituições
A iniciativa também se fortalece pela integração com outras instituições. É o caso da Operação Porto Alegre, coordenada pela arquivista Leolíbia Linden, que atua no resgate de acervos de órgãos públicos da Capital gaúcha.
– A cooperação entre instituições permite compartilhar técnicas, metodologias e ampliar a cobertura geográfica do atendimento. Em Porto Alegre, muitos órgãos foram severamente atingidos e precisam do mesmo tratamento que está sendo aplicado na UFSM – destacou Leolíbia.
De fora da instituição, Leolíbia também enfatizou a excelência do trabalho desenvolvido na universidade:
– A UFSM tem uma tradição arquivística consolidada. A equipe atua em várias frentes, do tratamento de documentos físicos à preservação digital. Isso a posiciona como uma referência nacional em gestão documental, especialmente em tempos de crise.

Inovação a serviço da memória
Com atuação transdisciplinar, o Hub.Doc envolve especialistas das áreas como Arquivologia, Química, Farmácia, Engenharias, Biologia, Tecnologia da Informação e Comunicação Social. A partir deles, são desenvolvidas técnicas como congelamento, secagem, digitalizações e outras técnicas já aplicadas com sucesso.
– A preservação de documentos é a preservação de direitos, de história e de identidade. O Hub.Doc é uma ponte entre ciência e sociedade, entre passado e futuro – resume Débora.
Alguns resultados da pesquisa em arquivos
- Mais de R$ 15 milhões de investimentos através do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
- 40 mil caixas de documentos em recuperação
- Mais de 30 especialidades do conhecimento em projetos transdisciplinares
- Cerca de 150 pesquisadores e profissionais envolvidos
- Mais de 80% documentos com potencial de recuperação